Raciocínios condicionais entre fatos e hipóteses

o caso dos contrafactuais deônticos

Authors

Abstract

Os modelos mentais com os quais lidamos para refletir situações hipotéticas apresentam enormes desafios quando tensionamos os impactos que certas decisões geram nas formas de vida humana em sociedades complexas. A lógica deôntica e o desenvolvimento de seus sistemas normativos provocam uma ampliação dos graus epistêmicos e dos modelos de controle sobre processos cognitivos com base em axiomas e regras inferenciais. Teoremas deônticos são rigorosamente construídos para tratar de obrigações e proibições condicionais. Um dos modelos mentais mais prestigiados na atualidade é o do raciocínio contrafactual, um modelo proposicional de enunciado condicional altamente relevante em nossos dias. O objetivo do presente artigo será o de averiguar o modo como os raciocínios contrafactuais deônticos instauram uma semântica de tipo especial, em que os atos humanos são tomados não como comportamentos reais, mas como modelos hipotéticos de ação. A velha tensão entre fatos e normas, presente no âmbito da filosofia jurídica sob a epígrafe de falácia naturalista, lançou muitos desafios para a lógica deôntica e para a teoria do Direito. Os contrafactuais deônticos despontam como modelos mentais empregados para vencer esta acusação clássica, também denominada de inferência ilícita, edificando modelos semânticos não derrotáveis, tomados aqui como mundos deonticamente consistentes.

Palavras-chave: condicional; contrafactual; deôntica; raciocínio; lógica; norma; proposição.

Downloads

Download data is not yet available.

Author Biography

Marcus Paulo Rycembel Boeira, UFRGS

Professor-adjunto e pesquisador vinculado ao Departamento de Direito Público e Filosofia do Direito da Faculdade de Direito da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).  Doutor e Mestre pela USP (Universidade de São Paulo). Pós-doutorado em Filosofia na Pontificia Università Gregoriana, Roma. Membro da SIEPM (Société Internationale pour l'Étude de la Philosophie Médiévale) e da SBEFM (Sociedade Brasileira para o Estudo da Filosofia Medieval). Visiting Scholar na Facoltà di Filosofia da Pontificia Università Gregoriana. Pesquisador com foco em Filosofia do Direito, Lógica deôntica, história da Lógica modal e deôntica, Lógica jurídica e teoria da argumentação jurídica, escolástica ibérica e colonial dos séculos 16 e 17. Coordena um projeto de pesquisa voltado para investigação e levantamento de manuscritos de Lógica e Dialética constantes nos arquivos da Biblioteca Vaticana e no Archivio Storico da Pontificia Università Gregoriana. Membro permanente do Gruppo di Ricerca Filosofia Sociale (Pontificia Università Gregoriana, Roma). Líder do Grupo de Pesquisa- CNPq: Lógica Deôntica, Linguagem e Direito.  

References

ALCHOURRON, Carlos. Condicionalidad y la representación de las normas jurídicas. In: Análisis Lógico y Derecho. 1ª ed. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1991.

APEL, Karl-Otto. Selected Essays. Volume One: Towards a Transcendental Semiotics. 1ª ed. New Jersey: Atlantic Highlands, 1994.

ARISTÓTELES. Posterior Analytics. 1ª ed. London: Loeb Classics, 1960.

EVANS, Jonathan. Hypothetical Thinking: Dual Processes in Reasoning and Judgement. 1ª ed. London: Routledge, 2020.

BYRNE, Ruth e QUELHAS, Ana Cristina. Raciocínio contrafactual e modelos mentais. In: Análise Psicológica , 4 (XVII): 713-721, 1999.

FØLLESDAL, Dagfinn; HILPINEN, Risto. Deontic Logic: An Introduction. In HILPINEN (Ed.). Deontic Logic: Introductory and systematic readings. Dordrecht: D. Reidel p. company, 1971.

FREGE, Gottlob. Conceitografia. 1ª ed. Rio de Janeiro: editora Nau, 2019. 216 p.

HARDY-VALLÉE, Benoit. Que é um conceito? 1ª ed. São Paulo: Parábola editorial, 2013.

HINTIKKA, Jaakko. Some main problems of deontic logic. In: HILPINEN, Risto (org.). Deontic Logic: Introductory and Systematic Readings. Dordrecht – Holland: D. Reidel Publishing Co., 1971.

HUME, David. Tratado da Natureza Humana. 2ª São Paulo: UNESP, 2009.

JOHNSON-LAIRD, P. & BYRNE, R. M. J. Deduction. 1ª ed. London: Psychology Press, 1992.

JØRGENSEN, Jørgen. Imperatives and Logic. Leipzig: Erkenntnis, n. 7, 1938.

KNUUTTILA, Simo. Modalities in Medieval Philosophy. 1ª ed. London: Routledge, 1993.

MACCORMICK, Neil. Legal Reasoning and Legal Theory. 1ª ed. Clarendon Law Series: London, 1994.

MALLY, Ernst. Grundgesetze des Sollens: Elemente der Logik des Willens. 1926.

MORGAN, Stephen e WINSHIP, Christopher. Counterfactuals and Causal Inference: methods and Principles for social research. 2ª ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

ROSS, Alf. Imperatives and Logic. Philosophy of Science, Chicago, v. 11.1, p. 30-46, 1944.

TAYLOR, Charles. To Follow a Rule, in Philosophical Arguments. 1ª ed. Harvard: Harvard University Press, 1997.

VON WRIGHT, G.H. Deontic logic. Revista Mind, n. s. vol. 60, p. 1-15, 1951.

____________. Norm and Action: a Logical enquiry. 1ª ed. Londres: Routledge, 1970.

WILLIAMS, Bernard. Ethics and the Limits of Philosophy. 1ª ed. Routledge: London, 2006.

Published

2025-04-02

How to Cite

RYCEMBEL BOEIRA, M. P. Raciocínios condicionais entre fatos e hipóteses: o caso dos contrafactuais deônticos . Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, Porto Alegre, n. 57, p. 192–220, 2025. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/revfacdir/article/view/146662. Acesso em: 11 may. 2025.