A reforma do mercado público: práticas e mitos de fundação da cidade
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.9173Resumo
Brasil, Arapongas, l938, um antropólogo francês em visita ao Brasil e não se contendo diante do dinamismo das imagens do tempo que presidia o nascimento da cidade nos Trópicos, afirma que ali habitava um povo cujo trajeto da barbárie à decadência jamais havia conhecido a força da civilização. Sem dimensão temporal, as grandes cidades industriais da América tropical dos anos 30 descortinavam-se aos olhos desse antropólogo como uma paisagem triste e devastada. À mercê dos mitos da ruína e do fracasso e sob apressão de fábulas progressistas, as cidades nos Trópicos alimentariam-se vorazmente do novo, sem nenhum compromisso com o seu passado histórico. Porto Alegre, antigo Largo do Mercado, l997, sofrendo dos sintomas do “mal crônico” da busca da eterna juventude, como outras tantas nascidas sob os Tristes Trópicos, reinaugura o seu Mercado Público recém-reformado, celebrando o triunfo sublime do espírito humano sobre a natureza do tempo.
Nas trilhas de um tempo curto, e seguindo-se o ritmo da história unilateral e triunfante da modernidade, muito se tem afirmado acerca do aspecto indigente, mutante e mutável dos conjuntos urbanos das cidades tropicais e da imagem da destruição que aí encerra o processo de instalação da civilização urbana.
A meio caminho entre o natural e o artifício, a reforma pela qual passou recentemente o Mercado Público de Porto Alegre revela quão contemporânea ainda é afirmação daquele viajante estrangeiro sobre o caráter espaçotemporal das cidades tropicais. Edifício construído a partir da matéria bruta informe, cuja obra humana misturou às pedras e aos tijolos o cimento dos sonhos dos primeiros habitantes urbanos, o atual Mercado nos convida a pensar a figura do tempo que ele encerra.
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