Elipses temporais e o inesperado na pesquisa etnográfica sobre crise e medo na cidade de Porto Alegre
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.9138Resumo
O ato de etnografar na cidade é um processo de investigação antropológica que vem permitindo, de forma cada vez mais profícua, a construção de novas interpretações sobre as dinâmicas sociais no mundo contemporâneo a partir de contextos históricos singulares. Abordamos esse tema a partir da experiência de nossa pesquisa que vem sendo desenvolvida em Porto Alegre, desde o ano de 19972, com o apoio do CNPq e FAPERGS e que tem como ponto central a idéia da construção de etnografia da duração como modalidade compreensiva das feições da crise e do medo nos “tempos modernos”. Trata-se de um projeto integrado de pesquisa que tem por fundamento o estudo das representações simbólicas através das quais os habitantes nesta cidade constroem seu tempo social ao lhe conferir sentido segundo as lembranças selecionadas dos ritmos vividos em suas trajetórias sociais e de seus itinerários urbanos.
Nossa pesquisa iniciou-se tendo como locus de reflexão o postulado da pluralidade de memórias coletivas que configuram as atuais formas de sociabilidade dos diferentes grupos que conformam o teatro da vida urbana porto-alegrense, tendo por interesse o estudo das formas diversas dos sujeitos sociais interpretarem e narrarem o seu viver na cidade e, em particular, apontando, na linha de alguns comentários de Norbert Elias, para o tema das autoimagens consubstanciadas no medo de indivíduos e sociedades. Perseguindo o questionamento em torno dos lugares onde se enraízam os medos individuais e coletivos na atualidade, tratava-se, assim, de se perscrutar, como sugere Jean Delumeau , do que os habitantes de uma grande cidade têm medo.
Refletindo sobre as indagações de Gilberto Velho ao afirmar que face aos anúncios do aumento desmesurado da violência nas grandes cidades brasileiras e diante da insegurança quanto à ação de setores do próprio Estado, a questão da sobrevivência nas grandes cidades assumiria aspectos especialmente dramáticos para alguns segmentos sociais, passou-se, então, ao longo da pesquisa etnográfica no contexto urbano de Porto Alegre, a “especular que essas seriam variáveis importantes para compreender uma espécie de individualismo agonístico que tornou-se cada vez mais freqüente nas camadas médias brasileiras".
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