Imagem recolocada: pensar a imagem como instrumento de pesquisa e análise do pensamento coletivo

Autores

  • Cornelia Eckert BIEV/PPGAS/UFRGS
  • Ana Luiza Carvalho da Rocha BIEV/PPGAS/UFRGS

DOI:

https://doi.org/10.22456/1984-1191.9119

Resumo

Sem dúvida, o século XX foi o século do “trabalho” da memória. Não mais de uma transmissão oral de memórias coletivas apenas, mas a memória revisitada, divulgada, analisada, comparada pelas ciências, pela literatura, pelas artes, enfim, foram múltiplas as formas de tradução (interpretação) da memória do mundo. Um saber sobretudo captado, registrado e divulgado no âmbito das transformações urbanoindustriais, pelo industrialismo associado ao progresso da técnica como parte constituinte do agenciamento humano do tempo, na relação tecnologia/sociedade. Novas narrativas,novas competências de linguagem, mas também mudanças na discursividade e nas formas estéticas de viver o mundo captadas com clareza por Walter Benjamin ao refletir que as novas tecnologias (inauguradas com o cinematógrafo e a sofisticação dos experimentos com a técnica da fotografia no século XX) trariam modificações profundas no aparato perceptivo do homem urbano-moderno.

 

A técnica de registro visual, desde aí, revela ao homem moderno sua capacidade de desvendar mundos sensíveis que não eram antes percebidos: a poética nas formas interativas ordinárias e cotidianas, por exemplo, o conhecimento e a precisão dos fatos observados pela ciência; a composição dos movimentos que encerram as ações de homens e animais em seus detalhes estruturais, etc. Impossível não se perceber que as atuais invenções tecnológicas no âmbito da produção da imagem audiovisual são herdeiras legítimas do ideário da Modernidade que conforma um olhar humano sobre o mundo cuja finalidade é, precisamente, observar e dissecar a realidade para melhor descrevê- la e dominá- la.

 

Paradoxalmente, no caso do filme documental que se origina a partir de experimentos com a técnica da fotografia, segundo a intenção de um olhar voltado para a análise/decomposição do átomo fotográfico em instantes temporais sucessivos, sua maturação só é atingida quando as artes do ilusionismo invadem a cena cinematográfica, isto é, no momento em que este olhar objetiva não só a dissecação, mas a restauração do átomo fotográfico, através da simulação dos seus movimentos sucessivos projetados na sala escura, revelando tudo o que antecede a cena registrada nos termos de uma hierarquia de instantes. A arte cinematográfica propriamente dita nasce, assim, da conformação de uma linguagem que se caracteriza pela negação da sua base técnica, descontínua, fragmentada, granular.

 

É justamente o caráter de ilusão do movimento que a imagem cinematográfica recria em sua maturidade, que a faz coetânea ao estudo do ato de poiésis que preside os jogos da memória e o fenômeno da duração, nos termos da matriz de conceitos das ciências humanas da época3, através de uma interrogação crescente sobre o sentido do tempo restaurado, individual, social e coletivamente4, e onde não se pode pressupor a inautenticidade dos resultados com “base na artificialidade dos meios”.

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Publicado

2001-06-29

Como Citar

ECKERT, C.; ROCHA, A. L. C. da. Imagem recolocada: pensar a imagem como instrumento de pesquisa e análise do pensamento coletivo. ILUMINURAS, Porto Alegre, v. 2, n. 3, 2001. DOI: 10.22456/1984-1191.9119. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/9119. Acesso em: 28 mar. 2024.