De Deusa Lua a mulher demônio: as múltiplas faces de Carmen, de Prosper Mérimée
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.89444Resumo
Neste artigo, examinamos o modo de representação da personagem Carmen, originária da narrativa de Prosper Mérimée, a partir da análise das configurações do narrador e dos aspectos que caracterizam a personagem, a fim de observar a presença do discurso da misoginia, diluído entre outros discursos, na constituição da personagem sob o estereótipo da mulher-demônio, em comparação com as formas de representação mitológicas das deusas lunares, principalmente na forma da Lua Negra, que pode corresponder a Lilith, Circe, e Diana, dentre outras. Também observamos a presença simultânea dos dois polos de representação da mulher (santa e demônio), constatada em comparação às representações das deusas lunares e de Carmen. Para tanto, partimos do exame da narrativa de Mérimée, levando em consideração os contextos histórico e literário, que podem ter influenciado o autor na produção da obra, bem como os aspectos que colaboraram para a cristalização dos estereótipos e a transformação da personagem em demônio, “monstrualizada” em consequência da alteridade e da sexualidade. Para fundamentar nossa discussão, lançamos mão dos estudos de Roberto Sicutere, Jerome Cohen, Angela Arruda, Margarete Rago, Jean Delumeal e Hoaward Bloch, dentre outros.
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