ETNOGRAFIAS MULTISSENSORIAIS E MEDIAÇÕES ANTROPOÉTICAS

A experimentação como forma de errância

Autores

  • Daniele Borges Bezerra Universidade Federal de Pelotas http://orcid.org/0000-0001-6278-3838
  • Alexsânder Nakaóka Elias Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Valéria de Paula Martins Universidade Federal de Uberlândia (UFU) https://orcid.org/0000-0003-4691-1785
  • Lisandro Lucas de Lima Moura Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul).
  • Patricia dos Santos Pinheiro Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
  • Luis Carlos Toro Tamayo Universidade de Antioquia (UdeA)

DOI:

https://doi.org/10.22456/1984-1191.130192

Palavras-chave:

Grafias, Etnografia, Multissensorialidade, Antropologia

Resumo

Neste artigo tecemos considerações relacionadas às dimensões teórico-metodológicas e práticas que nos mobilizam enquanto pesquisadoras/es do Grupo de Trabalho intitulado: “AntroPoÉticas”[1], vinculado à Associação Latinoamericana de Antropologia (ALA)[2]. A partir de uma perspectiva ecológica, reiteramos a obsolescência da oposição entre razão e sensibilidade, bem como da polaridade entre imagem e texto, som e escrita. A partir de relatos de pesquisas realizadas pelo Grupo, argumentamos que a experimentação conduzida como forma de errância poética é potente tanto para nos colocar em contato com as realidades com as quais desejamos aprender, quanto para mediar os processos de comunicação dos resultados da pesquisa. O artigo mostra, por fim, que as mediações antropoéticas constituem-se como formas potentes de restituição do conhecimento, uma vez que oferecem a pesquisadores/as, interlocutores/as e comunidade mais ampla uma interação multissensorial, que favorece o encontro antropológico.

[1] O GT AntroPoÉticas vinculado a ALA, desde 2022, é coordenado pelas professoras [Anonimato] e pelo professor [Anonimato].

[2] O GT é o desdobramento do Grupo de Pesquisa “AntroPoÉticas” (CNPQ) e possui caráter transdisciplinar, sendo constituído por pesquisadoras/es de diferentes regiões do Brasil e outros países da América Latina, sendo, em sua maioria, antropólogos/as. O projeto cadastrado no CNPQ é coordenado pelas professoras Cláudia Turra Magni, Daniele Borges Bezerra (bolsista do CNPq-PDJ), Patrícia Pinheiro e pelo professor Alexsânder Nakaóka Elias (bolsista do CNPq-PDJ).

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Daniele Borges Bezerra, Universidade Federal de Pelotas

Pós-Doutoranda em Antropologia Social pelo PPGAnt (UFPel); Doutora em Memória Social e Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas- UFPEL; Coordenadora adjunta do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS).

Alexsânder Nakaóka Elias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Pós-doutorando e docente colaborador no Departamento de Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NAVISUAL/UFRGS), com bolsa CNPq (PDJ). Doutor em Antropologia Social e mestre em Fotografia e Cinema (Multimeios) pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Graduado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Valéria de Paula Martins, Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Doutora e mestra em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília (UnB). Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Professora adjunta do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Lisandro Lucas de Lima Moura, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul).

Doutor em Antropologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Professor de Sociologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul Campus Bagé). Integra o Grupo de Pesquisa Antropoéticas (CNPq), vinculado ao Laboratório de Ensino, Pesquisa e Produção em Antropologia da Imagem e do Som (LEPPAIS-PPGAnt-UFPel). Possui Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Licenciatura e Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Patricia dos Santos Pinheiro, Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

Possui pós-doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPB e no Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt/UFPEL). Doutora em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ), com período de doutorado sanduíche na Universidade Cheikh Anta Diop, no Senegal. Possui Mestrado em Desenvolvimento Rural, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS) e Graduação no Curso Superior de Tecnologia em Meio Ambiente pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). 

Luis Carlos Toro Tamayo, Universidade de Antioquia (UdeA)

Doutor em Estudos Latino-Americanos e Doutor em Langues et Littératures Romanes pela Universidade do Chile e pela Université Paris Nanterre, Mestre em Linguística e Historiador pela Universidade de Antioquia – Colômbia. Professor/Pesquisador da linha de pesquisa Memória e Sociedade, da Escola Interamericana de Biblioteconomia da Universidade de Antioquia.

Referências

APPADURAI, Arjun. A vida social das coisas: As mercadorias sob uma perspectiva cultural. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2008 [1986].

BATESON, Gregory. Steps to an ecology of mind. Londres: Fontana, 1973.

BLACKING, John. Towardsan Anthropology of the Body. In: Blacking, John. The Anthropology of the Body. London: Academic Press, 1977.

BÖHME, Gernot. Atmosphere as the Fundamental Concept of a New Aesthetics, Thesis Eleven, 1993; 36; p. 113-126.

BRENA, Valentina. Una mirada antropológica: historias de lucha entre la resistencia, la dominación y la liberación candombe es “todo, mi vida… un sentir”. In.: Patrimonio vivo del Uruguay: Relevamiento de Candombe. Montevideo: MEC, 2015.

BOUDREAULT- FOUNIER, Alexandrine; HIKIJI, Rose Satiko; NOVAES, Silvia Caiuby. Etnoficção: uma ponte entre fronteiras In A experiência da imagem na etnografia. BARBOSA et al (Orgs). São Paulo: Terceiro Nome, 2016.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Escrito com o olho – anotações de um itinerário sobre imagens e fotos entre palavras e idéias. In: ECKERT, Cornélia; NOVAES, Caiuby (Org.). O imaginário e o poético nas ciências sociais. Bauru, SP: EDUSC, 2005.

CAPORALETTI, Vincenzo, “Uma musicologia audiotátil”. Trad. de Fabiano A. Costa e Patrícia de S. Araújo, RJMA – Revista de estudos do Jazz e das Músicas Audiotáteis, Caderno em Português, nº 1, CRIJMA – IReMus –Sorbonne Université, Abril 2018, p. 1-17.

CASTRO, Marina Ramos Neves de. A antropologia dos sentidos e a etnografia sensorial: dissonâncias, assonâncias e ressonâncias. Revista de Antropologia. USP, v.64, n.2, 2011. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ra/article/view/186657 . Acesso em jan. de 2023.

CHIESA, Gustavo. Entre espíritos e cientistas: Charles Richet e a busca pelos “fenômenos inabituais”. Interparadigmas, Ano 5, n. 5, 2017.

CLASSEN, Constance. Worlds of senses: exploring the senses in history and across the cultures. New York: Routledge, 1993.

CLASSEN, Constance. Foundations for an anthropology of the senses. International Social Science Journal. UNESCO 1997. Oxford: Blackwell Publishers, 1997. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1468-2451.1997.tb00032.x. Acesso em jan. de 2021.

CLIFFORD, James. Introdução: verdades parciais. In CLIFFORD, James; GEORGE, Marcus. A escrita da cultura: poética e política da etnografia. Tradução: Maria Claudia Coelho. Rio de Janeiro, EdUERJ; Papéis Selvagens, 2016 [1986].

COLLINS, Samuel Gerald; DURINGTON, Matheu; GILL, Harjant. Multimodality: An Invitation. American Anthropologist. v. 119, no. 1, 2017. Disponível em: https://anthrosource.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/aman.12826. Acesso em jan. de 2023.

DATTATREYAN, Ethiraj Gabriel; MARRERO- GUILLAMO, Isaac. Multimodal anthropologies. Introduction: Multimodal Anthropology and the Politics of Invention. American Anthropologist. Special Series: Multimodal Inventions. v.121, no. 1, 2019. Disponível em: https://anthrosource.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/aman.13183. Acesso em jan. de 2023.

DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol 1.São Paulo: Editora 34, 2011 [1980].

DELEUZE, Gilles. GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2, vol 3. São Paulo: Editora 34, 2012 [1980].

ENTLER, Ronaldo. Poéticas do acaso: acidentes e encontros na criação artística. 2000. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000. Acesso em Jan. 2023.

FAVRET-SAADA, Jeanne. Ser Afetado. Cadernos de Campo, n. 13, 2015. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/cadernosdecampo/article/view/50263 . Acesso em jan. de 2023.

FEDERICI, Silvia. Re-Enchanting the World: Feminism and the Politics of the Commons, PM Press / Kairos: London, UK, 2018.

FOSTER, Hal. O retorno do real: A vanguarda no final do século XX. São Paulo: Cosac Naify, 2014 [1996].

GIBSON, James J. The ecological approach to visual perception. New York: Psychology Press, 1986.

GONÇALVES, Marco Antonio. O real imaginado: etnografia, cinema e surrealismo em Jean Rouch. Rio de Janeiro: Topbooks, 2008.

GHEIRART, Oziel. O tratado antropoético. 2015. 183f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC- SP), São Paulo, 2015.

HANAUER, David Ian. Mourning Writing: A Poetic Autoethnography on the Passing of My Father. Qualitative Inquiry Vol. 27, n. 1, 2021. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/1077800419898500. Acesso em jan, de 2023

HOWES, David. El creciente campo de los estudios sensoriales. Revista Latinoamericana de Estudios sobre Cuerpos, Emociones y Sociedad. vol. 6, n.15, ago;nov, 2014. Disponível em: http://www.relaces.com.ar/index.php/relaces/article/view/319 . Acesso em jan. de 2023.

HOWES, David. (ed). The varieties of sensory experience. Toronto: University of Toronto Press, 1991.

INGOLD, Tim. Da transmissão de representações à educação da atenção. In. Educação. Porto Alegre, v.33, n.1, 2010. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/6777. Acesso em jun. de 2021.

INGOLD, Tim. Antropologia e/como educação. Petrópolis: Vozes, 2020.

INGOLD, Tim. Estar vivo. Ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes, 2015a.

INGOLD, Tim. O dédalo e o labirinto: caminhar, imaginar e educar a atenção. In: Horizontes Antropológicos v. 21, n. 44, 2015b.

INGOLD, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. In: Horizontes Antropológicos v. 18, n.37, 2012.

INGOLD, Tim. Worlds of sense and sensing the world: a response to Sarah Pink and David Howes. Social Anthropology/Anthropologie Sociale v.3, n. 19, 2011. Disponível em: https://monoskop.org/images/b/b9/Ingold_Tim_2011_Worlds_of_Sense_and_Sensing_the_World.pdf

INGOLD, Tim. Fazer: Antropologia, arqueologia, arte e arquitetura. Petrópolis, RJ: Vozes, 2022.

INGOLD, Tim. Lines: a brief history Londres e Nova York: Routledge, 2007.

LAPLANTINE, François. Le social et le sensible, introduction à une anthropologie modale. Paris, Téraèdre, 2005, coleção L’anthropologie au coin de la rue, 2005.

LOPERA, Giraldo Martha. Lucía.; TAMAYO, Luis Carlos Toro. Tramitar el pasado. Archivo de derechos humanos y museología viva. Medellín: Fondo Editorial Universidad de

Antioquia. 2018. Disponível em: https://udea.overdrive.com/media/4330076. Acesso em jan. de 2023.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994 [1962].

MILLER, Daniel. Trecos, Troços e Coisas: Estudos antropológicos sobre a Cultura Material. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

PINK, Sarah. Doing Sensory Ethnography. London: SAGE Publications Ltd, 2009 [2017].

SAMAIN, Etienne. Como pensam as imagens. Campinas: Editora Unicamp, 2012.

SANTOS, Antônio Bispo dos. 2020. Entrevista, por Thiago Mota Cardoso. Coletiva. Disponível em: https://www.coletiva.org/entrevista-antonio-bispo. Acesso em 01/02/2021.

STOLLER, Paul. O gosto das coisas etnográficas: Os sentidos na antropologia. Rio de Janeiro: Papéis selvagens, 2022 [1989].

VALÉRY, Paul. Primeira aula do curso de poética. In: Variedades. Tradução: Maiza Martins de Siqueira. São Paulo: Iluminuras, 1937.

VEDANA, Viviane. Fazer a Feira: estudo etnográfico das "artes de fazer" de feirantes e fregueses da Feira-Livre da Epatur no contexto da paisagem urbana de Porto Alegre. Dissertação de Mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004.

VEDANA, Viviane. No mercado tem tudo que a boca come. Estudo Antropológico da duração das práticas cotidianas de mercado de rua no mundo urbano contemporâneo. Tese de Doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.

VEDANA, Viviane. Escutar no Som: gravação e edição de etnografias sonoras a partir de um paradigma ecológico. ILHA, v. 20, n. 1, p. 117-144, junho de 2018.

VELHO, Otávio. De Bateson a Ingold: passos na constituição de um paradigma ecológico. Mana, v. 7, n. 2, Out. 2001.

WAGNER, Roy. A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify, 2012 [1975]).

WARBURG, Aby. Atlas Mnemosyne. Tradução de Joaquín Chamorro Mielke. Madrid: Akal- Arte y Estética, 2010.

Downloads

Publicado

2023-05-11

Como Citar

BEZERRA, D. B.; NAKAÓKA ELIAS, A. .; DE PAULA MARTINS, V.; DE LIMA MOURA, L. L.; DOS SANTOS PINHEIRO, P.; TORO TAMAYO, L. C. . ETNOGRAFIAS MULTISSENSORIAIS E MEDIAÇÕES ANTROPOÉTICAS: A experimentação como forma de errância. ILUMINURAS, Porto Alegre, v. 24, n. 64, 2023. DOI: 10.22456/1984-1191.130192. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/130192. Acesso em: 21 set. 2023.