PERFORMATIVIDADE DA IMAGEM E RESSEMANTIZAÇÃO DO ÂNUS: A performance da cuceta e a autenticidade de gênero
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.116393Palavras-chave:
ressemantização, imagem performativa, performatividade, cuceta, Erótica dos SignosResumo
Este artigo tem como objetivo discutir como uma sequência imagética compartilhada em grupos de WhatsApp para performance de desejo bareback ressemantizaria o ânus masculino como um órgão feminino. Essa sequência, assim como a breve interação que suscita no referido grupo, será objeto de análise. Partimos da ideia de que a sequência em questão, que se vale de um neologismo (cuceta) para operar tal ressemantização, desestabiliza o sistema de classificação de gênero e promove uma re-inscrição do corpo nas políticas do desejo, as quais teriam o poder de reconfigurar o corpo anatômico e recriá-lo semioticamente. O potencial desestabilizador tanto do corpo como do repertório social imagético que as imagens da cuceta incitam parece fundar um espaço simbólico para discutir a performatividade das imagens, ou seja, sua potência agentiva, transformativa e, quiçá, revolucionária. Com base em teorizações de Austin (1990 [1962]), Derrida (1988 [1972]) e Butler (2007 [1990]), este texto, que adota a etnografia semiótica como metodologia, pretende contribuir para o campo dos estudos de gênero e imagem com uma análise da circulação e recepção da sequência imagética referenciada. Como principal instrumento analítico, empregamos a indexicalidade (SILVERSTEIN, 2003). Os resultados sugerem não apenas que a materialidade dos corpos depende de sua performance e do arcabouço sócio-histórico que a regimenta, mas também que as semioses em jogo são um dos principais ingredientes de nossa materialidade corpórea e social. Performances como a da cuceta, ao colocarem em xeque noções engessadas sobre gênero e corpos, abrem passagem para que novas performatividades eclodam em ganhos políticos e éticos.
Downloads
Referências
ADAMS-THIE, B. Fluid bodies or bodily fluids: Bodily reconfigurations in cybersex. V.1 N. Journal of Language and Sexuality, 2012.
AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer. Palavras e ação. Conferência 2. Trad. Danilo Marcondes. Porto alegre: Artes Médicas 1990 [1962].
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, [2003] 1953-1954.
BAUMAN, R.; BRIGGS, C. ‘Poetics and performance as critical perspectives on language and social life’. In: American Review of Anthropology, v. 19, 1990, p. 59-88.
BERSANI, L. Is the rectum a grave? AIDS: Cultural analysis/Cultural activism, vol. 43, p. 1987, p. 197-222.
AUTOR[A]1, 2016.
AUTOR[A]1, 2020a.
AUTOR[A]1, 2020b.
BORBA, R. Linguística Queer: uma perspectiva pós-identitária para os estudos da Linguagem Revista Unisinos v. 9, n. 1, 2015.
BORBA, R. A linguagem importa? Sobre performance, performatividade e peregrinações conceituais. Cadernos Pagu, 43, p. 441-474, 2014.
BUTLER, J. El género en disputa: el feminismo y la subversión de la identidad [Gender trouble: Feminism and the subversion of identity]. Barcelona: Editorial Paidós, [1990] 2007.
BUTLER, J. Cuerpos que importan: sobre los límites materiales y discursivos del ‘sexo’. Buenos Aires (Argentina): Editorial Paidós, [1993] 2002.
BUTLER, J. Lenguage, poder e identidad [Excitable speech: a politics of the performative]. Madrid: Editorial Sintesís, [1997] 2004.
BRAZIL, Conselho Nacional de Saúde, Resolução de Ética n.510, 2016.
COSTA, J. F. O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo. Rio de Janeiro: Garamond, 2004.
DEBORD, G. A Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
DERRIDA, J. Limited inc. Evanston: Northwestern University Press, 1988 [1972].
DERRIDA, J. Margens da filosofia. Trad. Joaquim Torres Costa e António M. Magalhães. Campinas-SP: Papirus Editora, 1991 [1972] .
DUBOIS, P. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Editora Papirus, 1998.
DUGGAN, L. The new Homonormativity: the sexual politics of neoliberalismo. In: CASTRONOVO, R. & NELSON, D. (Eds.). Materializing democracy: towards a revitalized cultural politics. Duke: Duke University Press, 1998.
FABRICIO, Mobility and Discourse circulation in the contemporary world: the turn of the referential screw. Revista Da Anpoll, 1(40), 129–140, 2016.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, [1972] 1984.
AUTOR[A]2, 2017.
AUTOR[A]2, 2016.
GURAN, M. Linguagem fotográfica e informação. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999. GURAN, M. ‘Apresentação’. In: ROUILLÉ, A. A fotografia entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Editora Senac SP, 2009.
KULICK, D. ‘No’. Language & Communication, 23, 2003, p. 139–151.
HARAWAY, D. Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulucene. Durham: Duke University Press, 2016.
MISKOLCI, R. & CAMPANA, M. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Sociedade e Estado 32 (3): 725–747, 2017.
MOITA LOPES, L. P. Uma Linguística Aplicada mestiça e ideológica: interrogando o campo como lingüista aplicado In: MOITA LOPES, L.P. (Org.) Por uma Linguística Aplicada (In)disciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2005 [1839-1914].
PRECIADO, B. Texto Yonqui. Madrid: Editorial Espasa Calpe S. A., 2008.
PELÚCIO, L. Sexualidade, gênero e masculinidade no mundo dos t-lovers: a construção da identidade de um grupo de homens que se relacionam com travestis. SBS – XII CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, junho de 2005.
PINTO, J. P. O percurso da performatividade. Revista Cult, São Paulo, Editora Bregantini, 14 de novembro de 2013. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/o-percurso-da-performatividade-183-nov2013/
RACE, K. Towards a pragmatics of sexual media networking devices. Sexualities vol 21(8) p. 1325-1330, 2018.
ROUILLÉ, A. A fotografia entre documento e arte contemporânea. São Paulo: Editora Senac SP, 2009.
SILVERSTEIN, M. ‘Indexical order and the dialectics of sociolinguistic life’. Language & Communication, v. 23, 2003, p. 193-229.
SONTAG, S. Diante da dor dos outros. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
WILLIAMS, L. Hard Core: Power, Pleasure and the Frenzy of the Visible. Expanded Paperback Edition: University of California Press. Berkeley: University of California Press, 1999 [1989].
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 ILUMINURAS

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Todo o conteúdo do periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons do tipo atribuição BY-NC.
O envio dos trabalhos implica a cessão imediata e sem ônus dos direitos de publicação para a revista, a qual é filiada ao sistema Creative Commons, atribuição CC BY-NC (https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/). O autor é integralmente responsável pelo conteúdo do artigo e continua a deter todos os direitos autorais para publicações posteriores do mesmo, devendo, se possível, fazer constar a referência à primeira publicação na revista. Esta não se compromete a devolver as contribuições recebidas.
O(s) autor(es) que submete (m) artigos para publicação na revista Iluminuras são legalmente responsáveis pela garantia de que o trabalho não constitui infração de direitos autorais, isentando a Revista Iluminuras quanto a qualquer falha quanto a essa garantia.