Habitar ruínas. O bairro da 28 (Centro Histórico de Salvador) nas memórias de seus habitantes

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22456/1984-1191.110533

Palavras-chave:

Centro histórico de Salvador (CHS). Habitar. Bairro. Memórias. Ruínas.

Resumo

Este artigo reproduz fragmentos de memórias de antigas habitantes de um bairro no Centro Histórico de Salvador (CHS), a 28. Nelas, o bairro de velhos casarões e enorme pobreza era cheio de vida e animação, comércio vibrante, pessoas estranhas e densa imbricação entre vizinhos. A reforma promovida pelo Estado da Bahia destruiu esse espaço em nome da salvaguarda do patrimônio cultural da humanidade. Sem comércio e sem gente, restam apenas ruínas do antigo bairro, habitado por um pequeno número de antigos moradores. Estas páginas revelam dois paradoxos: de um lado, uma intervenção estatal que, sob a lógica patrimonialista, pretendia salvar as ruínas que, na lógica do habitante da 28, nunca existiram; do outro, uma luta por parte das antigas moradoras para permanecerem no espaço habitado havia décadas, que lhes permitiu ganhar o direito de uso de casas reformadas, porém, tendo de ver seu bairro virar o que o grosso da população sempre viu nele: ruínas.

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Biografia do Autor

Urpi Montoya Uriarte, Universidade Federal da Bahia, Departamento de Antropologia

Possui graduação em Antropologia pela Universidad Nacional Mayor de San Marcos, Lima-Peru (1992), doutorado em História Social (área de história da cultura) pela Universidade de São Paulo (1997), pós-doutorado na Universidade Federal de Pernambuco (2009) e ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (2017). Tem experiência na área de Antropologia Urbana, buscando aproximações com a História Urbana e o Urbanismo. Atua principalmente nos seguintes temas: espaços urbanos, centros históricos, usos da cidade, formas de habitar e espaço, patrimônio e memória. 

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Publicado

2021-12-20

Como Citar

URIARTE, U. M. Habitar ruínas. O bairro da 28 (Centro Histórico de Salvador) nas memórias de seus habitantes. ILUMINURAS, Porto Alegre, v. 22, n. 58, 2021. DOI: 10.22456/1984-1191.110533. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/110533. Acesso em: 28 abr. 2025.