A casa vazanteira: bichos, plantas, vazantes e projetos de desenvolvimento urbano nas margens do rio Parnaíba
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.110041Palavras-chave:
Questões Ambientais, Estudos Etnográficos, Sociedades ComplexasResumo
Neste artigo, investigo o que constitui uma “casa” para famílias de vazanteiros e vazanteiras na Avenida Boa Esperança, em Teresina-PI, curso médio do Rio Parnaíba. A ideia é esboçar uma teoria etnográfica desta categoria atentando para as múltiplas formas de vida, humanas e não humanas, que compõem este espaço. Ao fazer isto, procuro destacar a incomensurabilidade entre a noção de casa gestada a partir das vazantes e aquela articulada por uma política de “urbanização” e “requalificação urbana”: o Programa Lagoas do Norte (PLN), projeto de desenvolvimento urbano empreendido pelo poder público municipal em parceria com o governo federal através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com financiamento do Banco Mundial. Levando a sério as práticas de habitação desenvolvidas por famílias de vazanteiros e vazanteiras, argumento que casa só pode ser entendida por meio de um conjunto de relações sociais e multiespecíficas que a conecta aos cultivares da beira do rio.
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