Comunidade Visível: Narradores de memórias e suas práticas de imagem
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.108754Palavras-chave:
Antropologia. Imagem. Memória. Negritude. Futebol de Subúrbio.Resumo
Este texto busca compreender como a partilha de acervos pessoais de imagens potencializam a produção de constelações de memórias, promovem narrativas de si e sentimentos de pertença. Partindo da comunidade Poço da Draga em Fortaleza, caso exemplar de resistência a tentativas recorrentes de remoção, o artigo mapeia algumas de suas “práticas de imagens” efetuadas por meio de dispositivos móveis, destacadamente entre ex-jogadores do Brasileirinho, time local de “futebol de subúrbio”. Partindo uma antropologia compartilhada, desenvolvemos ao longo de 04 anos oficinas de fotografia e exercícios de escuta junto a seus narradores que chamamos “memorialistas de esquina”. Tomamos por “comunidade visível” essa multiplicidade que no Poço da Draga faz ver e se dá a ver. Identificamos ali a partilha de fotos e narrativas como tática contra os riscos de esgarçamento dos fios que tecem suas histórias. O artigo também mostra as práticas de imagem desses narradores em oposição à necropolítica operada contra as populações negras no Brasil e os considerados indesejáveis.
Palavras-chave: Antropologia. Imagem. Memória. Negritude. Futebol de Subúrbio.
VISIBLE COMMUNITY: MEMORY NARRATORS AND THEIR PRACTICES OF IMAGE
Abstract: This text seeks to understand how the sharing of personal collections of images enhances the production of constellations of memories, promotes self-narratives and feelings of belonging. Departing from the Poço da Draga community in Fortaleza, an exemplary case of resistance to recurrent removal attempts, the article maps some of its “practices of images” carried out using mobile devices, especially among former players from Brasileirinho, the local soccer team. Working in a shared anthropology, we developed over 4 years photography workshops and listening exercises with their narrators witch we call “corner memorialists”. We define “visible community” the multiplicity that in Poço da Draga makes us see and makes itself seen. There, we identified the sharing of photos and narratives as a tactic against the risks of fraying the threads that weave their histories. The article also shows the practices of images of these narrators in opposition to the necropolitics operated against black populations in Brazil and those considered undesirable.
Keywords: Anthropology. Image. Memory. Blackness. Soccer.
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