Chamada de artigos: Segundo semestre de 2022 - Edição 63 da Revista Iluminuras

2021-12-13

Proponentes:

Lígia Ferro (Instituto de Sociologia e Faculdade de Letras da Universidade do Porto)
Jesus Marmanillo Pereira (PPGS/UFMA)
José Luís Abalos Júnior (PPGAS/UFRGS)

 

Foi em uma esquina que Doc conheceu Foote-Whyte. A esquina virou nome de livro, Doc tornou-se protagonista de uma etnografia clássica e o autor ficou (re)conhecido por evidenciar a importância do “interlocutor chave” na narrativa sobre a cidade e seu cotidiano. Doc, Deedee, Curtis, entre outros “personagens urbanos” de William FooteWhyte (2005) e de Loïc Wacquant (2002), corporificam esquinas e guetos, e consequentemente a cidade. Em muitas dissertações e teses há um espaço para a descrição de (des)encontros entre pesquisadoras e pesquisadores com a alteridade dos habitantes da cidade. Este dossiêse propõe como um espaço de reflexões em torno de experiências de campo de pesquisa nas quais práticas, discursos, biografias e projetos de vida são protagonistas. Esperamos receber contribuições quereflitam sobre histórias de vida na cidade e, mais que isso, que pensem práticas criativas de inserção de tais narrativas no trabalho etnográfico, dialogando com uma diversidade de técnicas de pesquisa qualitativa tais como observação participante, diários de campo, entrevistas, acervos, cartografias, uso de informação visual (fotografia, vídeo), etc.

Atores urbanos são responsáveis por um conjunto de práticas do espaço (De Certeau,1998),por movimentar fluxos e fazer a cidade (Agier, 2011), possibilitando ricas linhas interpretativas que apontam para sociabilidades, redes de relações interpessoais e situações etnográficas. Seja analisando-os através do conceito de campo (Bourdieu,1988), ou segundo os projetos de vida e campos de possibilidades (Velho, 2013). De uma forma ou outra, os atores urbanos constituem a matéria das etnografias urbanas, verdadeiros pontos para onde confluem perspetivas teóricas e de onde se descortinam os universos que demarcam a complexidade urbana.

Assim, os compreendemos como protagonistas da cultura e da estética que marcam a paisagem citadina (Simmel,1998), estes “personagens urbanos” são organicamente integrados a ela,encarnando a cidade, na mesma medida em que são encarnados por ela. Além disso, ocupam um lugar político central nas negociações e táticas para a “entrada em campo”, mediando e avalizando relações de alteridade, sobretudo em contextos de risco. Nesse sentido, o presente dossiê busca refletir sobre estes “personagens urbanos”, (re)pensando seu papel político, integrativo e reflexivo na pesquisa etnográfica. Buscamos, assim, artigos cujos eixos estruturadores dialoguem com determinados personagens urbanos, em uma perspetiva que compreenda o urbano como resultante da confluência de trajetórias e projetos de tais personagens.

Apostamos na potência de etnografias que atribuem centralidade narrativa a fotografias, sons, desenhos, audiovisuais e outras formas de dar visibilidade a estes sujeitos. Atentamos igualmente para produções que façam um diálogo no campo dos estudos urbanos especificamente entre antropologia e sociologia urbana, visual e da imagem. Igualmente pesquisas que reflitam sobre a cidade a partir das perspetivas do trabalho, de gênero e sexualidade, das migrações, das religiões, etc. Áreas que podem contribuir para uma abordagem etnográfica da urbe, a partir dos itinerários de seus atores sociais e projetos de vida.

Portanto, essa edição da Revista Iluminuras tratará sobre o tema: Atores urbanos: estéticas, trajetórias e projetos de vida na cidade.

 

Referências

ABALOS JÚNIOR, José Luís. Os gestos da arte urbana: por uma etnografia das gestualidades. In: Forum Sociológico. Série II. CESNOVA, 2019. p. 19-29.

AGIER, Michel. Antropologia da Cidade. Lugares, situações, movimentos, São Paulo, Editora TerceiroNome, 2011.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1998.

CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. Petrópolis, Vozes,1998.

DIÓGENES, GLÓRIA. A arte urbana entre ambientes: ?dobras? entre a cidade ?material? e o ciberespaço.Etnográfica, v. 19, p. 537-556, 2015.

ECKERT, C.; ROCHA, A. L. C. Antropologia da e na cidade: interpretações sobre as formas da vidaurbana. 1. ed. Porto Alegre: Marca Visual, 2013. v. 1.

FERRO, Lígia et al. Da rua para o mundo: etnografia urbana comparada do graffiti e do parkour. 2016.

PEREIRA, Jesus Marmanillo. Imperatriz e seus Fotógrafos Urbanos: Caminhadas, velo[cidades] e enquadramentos na cidade. Revista Iluminuras, v. 21, p. 269-291, 2020.

SIMMEL, Georg. Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura ou formal. Simmel. São Paulo: Ática, p. 165-181, 1983.

VELHO. Gilberto. Um Antropólogo na Cidade: ensaios de Antropologia Urbana. Seleção e apresentação:Hermano Vianna, Karina Kuschnir e Celso Castro. Zahar: Rio de Janeiro, 2013.

WACQUANT, Loïc J. D. Corpo e Alma: notas etnográficas de um aprendiz de boxe. Rio de Janeiro:Relume Dumará. 2002.

WHYTE, William Foote. Sociedade de esquina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

 

 

O prazo de envio é até 30 de junho de 2022. Essa publicação está prevista para ser lançada no segundo semestre de 2022.

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