Escravidão, liberdade, narrativas museais e histórias contestadas no Museu Afro Brasil e Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana

Resumo

Esse texto pretende contribuir para compreender a musealização da luta pela liberdade e da escravidão e seu impacto na transformação das narrativas nacionais. O texto também aponta para  as mudanças nos museus como dispositivos culturais. O Museu Afro-Brasil, criado em São Paulo em 2004, e o Museu Nacional de História e Cultura Africano Americana (NMAAHC), aberto em Washington em 2016, permitem perceber como a experiência histórica da liberdade e da escravidão, bem como da persistência do racismo, se entrelaçam com outros eventos e processos históricos próprios de suas respectivas culturas nacionais e de processos históricos como a diáspora africana. As narrativas resultantes diferem em relação às formas como o tempo histórico é incorporado no espaço. No NHMACC a exposição evolui numa tensão entre liberdade e não-liberdade, e igualdade e desigualdade na história dos Estados da Unidade, enquanto no Museu Afro-Brasil a narrativa afirma a contribuição afro-brasileira para a cultura nacional numa expografia que privilegia a simultaneidade dos tempos e espaços históricos. Nos dois casos, as histórias nacionais hegemônicas são francamente contestadas, sugerindo aos visitantes outras visões sobre a história que partilhamos. Considerando a abertura de suas narrativas, ambas as narrativas apresentam casos bons para pensar as transformações da memória da escravidão e das lutas por liberdade e os rituais de cidadania que os museus possibilitam.