Acreditavam os portugueses em seus mitos? Ensaio sobre implicações éticas, figurações do historiador e funções da história em Alexandre Herculano (1846) – Uma leitura da polêmica de Ourique à luz do presente brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.22456/1983-201X.112174Palabras clave:
história da historiografia, história e mito, ética historiográfica, Alexandre Herculano.Resumen
Este artigo, escrito em formato ensaístico, examina um recorte específico da obra do historiador português Alexandre Herculano (1810-1877). Reconhecido por sua importância indelével para a historiografia portuguesa produzida no século XIX, tendo atuado, ainda, como jornalista, literato e gestor público, este importante homem de letras surpreendeu o clero de seu país ao publicar, em 1846, o primeiro volume de sua Historia de Portugal. Ao reconstituir o passado histórico que ajudaria a explicar as origens nacionais, após as guerras liberais de 1832-34, Herculano assentou um corte entre a tradição fundadora, associada à crença na aparição de Cristo ao príncipe Afonso Henriques, e sua impossível comprovação histórica e documental. Portanto, o objetivo geral deste estudo é problematizar as implicações éticas assumidas pelo historiador português ao estabelecer diferentes cortes discursivos em seu trabalho com o passado, em particular, no que se refere ao mito de origem católico e os problemas demarcados no presente português oitocentista, que a história, como produto da busca pela verdade, deveria também auxiliar a resolver. Em termos teóricos, o artigo apresenta possibilidades analíticas e resultados amparados nos debates da área de história da historiografia, especialmente, no que diz respeito ao estudo da ética para historiadores em diferentes temporalidades.Descargas
Citas
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A feira dos mitos: a fabricação do folclore e da cultura popular (nordeste, 1920-1950). São Paulo: Intermeios, 2013.
ASSIS, A. A. Alexandre Herculano entre a imparcialidade e a parcialidade. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 13, n. 32, p. 289-329, 28 abr. 2020.
BUESCU, Ana Isabel. Historiografia e mito: o caso de Alexandre Herculano. In: MATOS, Sérgio Campos; JOÃO, Maria Isabel (Org.). Historiografia e memórias (séculos XIX-XXI). Lisboa: Centro de História – Universidade de Lisboa; Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais – Universidade Aberta, 2012, p. 121-142.
BUESCU, Maria Isabel. O milagre de Ourique e a História de Portugal de Alexandre Herculano. Uma polémica oitocentista. Lisboa: INIC, 1987.
CARVALHO, Joaquim Barradas de. As ideias políticas e sociais de Alexandre Herculano. 2ª edição corrigida e aumentada. Lisboa: Seara Nova, 1971.
CATROGA, Fernando. Os passos do homem como restolho do tempo: memória e fim do fim da história. Lisboa: Almedina, 2011.
CEZAR, Temístocles. Tempo e escrita da história. Ensaio sobre apropriação historiográfica do presente. In: FRANÇA, Susani Silveira Lemos (org.). Questões que incomodam o historiador. São Paulo: Alameda, 2013, p. 71-89.
DARBORD, A. Alexandre Herculano et la bataille d’Ourique. Histoire d’une polemique. Separata. Arquivos do Centro Cultural Português XXII. Lisboa-Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986.
GODINHO, Vitorino Magalhães. Portugal: a emergência de uma nação: das raízes a 1480. Lisboa: Edições Colibri, 2004.
HARTOG, François. Crer em história. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
HERCULANO, Alexandre. Historia de Portugal pelo Sr. A. Herculano (Carta do autor). Revista Universal Lisbonense. Tomo V. Lisboa: Imprensa da Gazeta dos Tribunaes, 1846, p. 509-514.
HERCULANO, Alexandre. Historia de Portugal. Tomo Primeiro, Lisboa, em casa da viúva Bertrand e filhos, 1846.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
KOSELLECK, Reinhart; MEIER, Christian; GÜNTHER, Horst; ENGELS, Odilo. O conceito de história. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
MACHADO, Veronica Castanheira. “O dilatar da nação”: a dimensão do político na historiografia de Alexandre Herculano (1839-1850). Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2011 (dissertação de mestrado).
MARINHO, Maria de Fátima. O romance histórico em Portugal. Porto: Campo das Letras, 1999.
MATOS, Sérgio Campos Matos. Narrativa e divulgação da história em Alexandre Herculano. In: Consciência histórica e nacionalismo, Portugal, séculos XIX e XX. Lisboa: Livros Horizonte, 2008, p. p. 159-170.
MATOS, Sérgio Campos. Historiografia e memória nacional no Portugal do século XIX (1846-1898). Lisboa: Edições Colibri, 1998.
NEMÉSIO, Vitorino. A mocidade de Herculano. Lisboa: INCM, 2003.
NICOLAZZI, Fernando. Muito além das virtudes epistêmicas: o historiador público em um mundo não linear. Revista Maracanan, v. 1, p. 18-34, 2018.
PALTI, Elías. La nación como problema. Los historiadores y la “cuestion nacional”. Argentina: Fondo de Cultura Económica, 2006.
PINHA, Daniel. Ampliação e veto ao debate público na escola: história pública, ensino de história e o projeto “Escola sem Partido”. Revista Transversos, v. 7, p. 11-34, 2016.
PROTÁSIO, D. E. Francisco Adolfo de Varnhagen e algumas linhas de força da historiografia portuguesa do seu tempo (1839-1841). História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 7, n. 14, p. 27-43, 12 nov. 2013.
SANTOS, Evandro. Fragmentos de ética: figurações do historiador oitocentista em Alexandre Herculano. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 11, n. 26, 29 abr. 2018b.
SANTOS, Evandro. História e ficção: os princípios da representação em Alexandre Herculano e Francisco Adolfo de Varnhagen. História Unisinos, v. 22, n. 1, Janeiro-Abril, p. 50-61, 2018a.
SARAIVA, António José. Herculano e o liberalismo em Portugal: os problemas morais e culturais da instauração do regime. Lisboa: [s. n.], 1949.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Herculano e a consciência do Liberalismo Português. Lisboa: Livraria Bertrand, 1977.
TASCA, M. F. A culta barbaria: ruínas e patrimônio em Alexandre Herculano. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 13, n. 34, p. 77-101, 13 dez. 2020.
TASCA, M. F. Alexandre Herculano e a construção do historiador. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, v. 10, n. 24, 31 out. 2017.
TORGAL, Luís Reis; MENDES, José Maria Amado; CATROGA, Fernando. História da história em Portugal. Lisboa: Temas e Debates, 1998.
TURIN, Rodrigo. Entre o passado disciplinar e os passados práticos: figurações do historiador na crise das humanidades. Tempo (Niterói. Online), v. 24, p. 168-205, 2018.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. 13ª ed. Rio de Janeiro: Difel, 2003.
VEYNE, Paul. Acreditavam os gregos em seus mitos? São Paulo: Editora Brasiliense, 1984.