Cicatrizes são documentos em alto-relevo: narrativas de travestis em torno do encarceramento prisional e dos direitos humanos

Autores

  • Amilton Gustavo da Silva Passos UFRGS GEERGE Grupo de Estudos em Educação e Relações de Gênero https://orcid.org/0000-0002-4108-3223
  • Fernando Seffner UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul PPGEDU Programa de Pós-Graduação em Educação PROF HISTÓRIA Mestrado Profissional em Ensino de História http://orcid.org/0000-0002-4580-6652

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.111797

Palavras-chave:

Travestis e Transexuais. Sistema Prisional. Precariedade. Vulnerabilidade. Corpo

Resumo

O presente artigo tem como foco o que denominamos como narrativa de vida visceral, que
fala de sofrimentos que implicam em marcas corporais e abusos cometidos particularmente em corpos de travestis, e uma narrativa que se faz citando as experiências de sofrimento de outras travestis, fragmentos de uma história compartilhada, mesmo que vivida em tempos diferentes. Tomamos o corpo e suas cicatrizes como um documento histórico que insere, em especial, as travestis em uma cronologia de longa duração e em um coletivo que se reconhece pela situação de sofrimento que padece. As vidas sobre as quais nos debruçamos só tiveram a oportunidade de ter sua história narrada porque os olhos do poder as capturaram. A estratégia de citar, reiterada e coletivamente, a existência recorrente desses sofrimentos e da memória das que pereceram durante o encarceramento produziu uma materialidade enunciativa, sobre a qual nos debruçamos. Portanto, entrevistamos um grupo de pessoas gays, bissexuais, travestis e mulheres transexuais
presas entre os anos de 2013 e 2018 em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, e analisamos elementos de suas narrativas à luz, sobretudo, da noção de precariedade butleriana. Percebemos que a instituição prisional gerenciou vidas não percebidas como viáveis, às vezes sequer percebidas como vidas, estando na categoria de vidas precárias que necessitam de cuidados. O processo político que analisamos dialoga com o campo dos direitos humanos.

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Biografia do Autor

Amilton Gustavo da Silva Passos, UFRGS GEERGE Grupo de Estudos em Educação e Relações de Gênero

Doutor em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Graduado em Ciências Biológicas Licenciatura na Universidade Federal de Sergipe. Atua em pesquisas investigando as relações de controle/disciplina produzidas por instituições, em especial pelas prisões; políticas públicas de gênero e sexualidade; articulações entre educação, violência e segurança pública. Ligado ao GEERGE (Grupo de Estudos em Educação e Relações de Gênero) e à linha de pesquisa em Educação, Sexualidade e Relações de Gênero do PPGEDU (Programa de Pós-Graduação em Educação) da UFRGS. Membro do comitê diretor da Corpora en Libertad - Rede Internacional de Trabalho com Pessoas LGBTI+ em Privação de Liberdade

Fernando Seffner, UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul PPGEDU Programa de Pós-Graduação em Educação PROF HISTÓRIA Mestrado Profissional em Ensino de História

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Publicado

2021-12-30

Como Citar

da Silva Passos, A. G., & Seffner, F. (2021). Cicatrizes são documentos em alto-relevo: narrativas de travestis em torno do encarceramento prisional e dos direitos humanos. Anos 90, 28, 1–14. https://doi.org/10.22456/1983-201X.111797

Edição

Seção

Raça, Gênero e Sexualidade: disputas de narrativas e historicidades de eixos estruturantes dos direitos humanos