Habitação popular em Porto Alegre na virada do século XIX para o XX: uma abordagem a partir das ações judiciais de despejo
DOI:
https://doi.org/10.22456/1983-201X.106504Palavras-chave:
despejos, Encilhamento, inflação, moradia popularResumo
Existe uma sólida tradição historiográfica, desde os anos 1980, sobre pobreza e territorialidade urbanas em Porto Alegre (`PESAVENTO, 1989, 1994, 1999, 2001, 2006; MONTEIRO, 1995; KERSTING, 1998; GERMANO, 1999; MATTOS, 2000; MAUCH, 2004; VIEIRA, 2017; XAVIER; BOHRER, 2018; ROSA, 2019). Ora dando ênfase a recortes de classe, ora aos raciais, esses importantes estudos convergem no sentido de esmiuçar os recursos simbólicos acionados para estigmatizar os subalternos, justificando a sua expulsão para regiões progressivamente distantes. Ainda que não sejam ignoradas pelos autores mencionados, existem dinâmicas econômicas que convém investigar melhor, particularmente os efeitos dos processos inflacionários e de desvalorização cambial que acompanharam os anos finais do Império e iniciais da República, culminando no período conhecido como Encilhamento. Os processos judiciais de despejo revelam-se fontes privilegiadas para abordar tais questões. Sem querer cair em dicotomias que contrapõem o cultural e o econômico, acredita-se haver aspectos ausentes nas explicações até o momento discutidas pela bibliografia.
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