Ad Immortalitatem: como a política se manifestou nas cerimônias de posse na Academia Brasileira de Letras durante a ditadura militar (1964-1979)

Autores

  • Diogo A. C. Cunha Universidade Federal de Pernambuco

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.103560

Palavras-chave:

Ditadura Militar Brasileira. Academia Brasileira de Letras. Cerimônias de Posse. Intelectuais Conservadores

Resumo

Em que medida a Academia Brasileira de Letras (ABL) pôde ter servido como uma instância de legitimação da ditadura militar instaurada no Brasil após o golpe de 1964? O objetivo deste artigo é analisar um aspecto específico do cotidiano desta instituição durante a ditadura militar: as cerimônias de posse. Acreditamos que esta abordagem nos permite analisar como a política pôde operar “apoliticamente” dentro do ABL. Argumentamos que essas cerimônias podem ter se tornado eventos políticos porque mostraram, em primeiro lugar, a proximidade e as redes de sociabilidade entre a intelligentsia conservadora e o regime. Em segundo lugar, identificamos em alguns discursos a transmissão de valores que eram, na época, aqueles do conservadorismo ambiente. O exame das cerimônias de posse indica que a ABL contribuiu para legitimar o regime estabelecido no Brasil em 1964. No entanto, essa legitimação não se fez por meio de uma “colaboração” aberta, mas pelo comportamento de todos os seus membros, sua proximidade com o regime e a difusão e circulação de um discurso conservador

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Biografia do Autor

Diogo A. C. Cunha, Universidade Federal de Pernambuco

Graduação em História (UNICAP, 2004), Mestre em História (UFPE, 2007), Doutor em História (Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne, 2014), Pós-Doutor em Ciência Política (UFPE, 2019). Atualmente professor adjunto do Departamento de Ciência Política e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (DCP/PPGCP-UFPE)

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Publicado

2021-09-02

Como Citar

Cunha, D. A. C. (2021). Ad Immortalitatem: como a política se manifestou nas cerimônias de posse na Academia Brasileira de Letras durante a ditadura militar (1964-1979). Anos 90, 28, 1–21. https://doi.org/10.22456/1983-201X.103560

Edição

Seção

Artigos