Estrutura mítico-social e fracasso individual em Calunga, de Jorge de Lima / Mythic and social structure and individual failure on Jorge de Lima’s Calunga
DOI:
https://doi.org/10.22456/1981-4526.127652Palavras-chave:
Calunga, Jorge de Lima, fracasso, estrutura mítica, representação psíquicaResumo
Procuramos, neste artigo, demonstrar que o fracasso individual de Lula, protagonista do romance Calunga, de Jorge de Lima, provém de diferentes circunstâncias. O romance é alicerçado numa prosa de cunho social muitas vezes denunciativo, mas, ao mesmo tempo, são engendrados elementos próprios de uma estrutura mítico-religiosa que transcendem os significados denotativos e criam uma atmosfera infernal. Acompanhamos, inserida nessa simbologia demoníaca, a representação constante do mundo interior de Lula, que tenta, ao retornar à terra natal, fazer prosperar a civilização na ilha de Santa Luzia de acordo com as mais modernas técnicas aprendidas formalmente. No entanto, o seu desconhecimento – do outro que lá vive, do seu sofrimento permanente e da natureza voraz – não só impede o progresso do seu intento como também fazem-no transformar-se no outro bárbaro que tanto nega, figurado em Totô Canindé, o vizinho “infamiliar”. A fim de compreendermos a relação entre a estrutura social e mítico-simbólica de Calunga, a rede psíquica de formação da infamiliaridade e o fracasso de Lula, fazemos uso, respectivamente, das ideias de Northop Frye (2013) e Mircea Eliade (1979), do conceito freudiano de infamiliaridade e de outros também de linha psicanalítica. Tal apoio teórico nos auxilia na interpretação dos movimentos emocionais do protagonista, de onde percebemos a sua derrota acachapante e a destituição de qualquer vestígio de um futuro não pautado na repetição infindável do sofrimento na ilha.
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