Brasil real, Brasil oficial: Romantismo e insurreições “na marcha do navio intervém a mão do piloto”?
DOI:
https://doi.org/10.22456/1981-4526.127254Resumo
A ascensão do Romantismo interessa ao estudioso do século 21 à medida que se busca compreender seu movimento em vista da situação política nacional: estaria a geração de 1836 interessada em parar o carro da revolução liberal ou pô-lo de fato em desenvolvimento, para que se alcançasse, por meio da agitação pública, o bem-estar material no início do Oitocentos? Compreender os valores dessa geração romântica é crucial para melhor ponderação do sistema literário posterior ao Romantismo brasileiro. Se pensarmos a partir das próprias palavras do poeta de Ocidentais: “Se já dei flores um dia, quando rapaz, as que ora dou têm assaz Melancolia” (ASSIS, vol. III, p. 174). Ora, antes da suposta desilusão, vertida na clássica divisão das fases de Machado de Assis, parece ter havido algum investimento autoral, por meio das letras, no projeto de expansão para dentro do Brasil oficial, conforme se nota em Ressurreição (1872) – o primeiro romance machadiano. Afinal, como explicar o campeonato de virtude que há neste romance? Se demonstrou, desde jovem, consciência acerca dos Brasis, o real e o oficial, por que seu primeiro romance estaria de acordo com a moral e os bons costumes do Brasil oficial? A revisão da ascensão romântica no Brasil interessa à medida em que se busca saber a relação de Ressurreição com o sistema literário arraigado em valores indispensáveis para formação do leitor da época: a religião, a família e o patriarca. Com isso, espera-se contribuir para melhor compreensão do romance de estreia do autor.
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