O vínculo orgânico entre a estrutura e a superestrutura no Brasil: análise de conteúdo dos textos das demonstrações contábeis e relatórios anuais do Banco do Brasil (1853-1902)
Resumo
Este estudo analisa a utilização da contabilidade como instrumento ideológico com fins hegemônicos pelos grupos dominantes nacionais, mostrando o vínculo orgânico entre estrutura e superestrutura no Brasil. Para tanto, utilizamos os textos das demonstrações financeiras e dos relatórios anuais do Banco do Brasil entre 1853 e 1902. Como método, realizamos um estudo histórico crítico com abordagem qualitativa, por meio da análise de conteúdo de Bardin (1977) a partir de documentos primários, pelas teorias de Karl Marx e Antonio Gramsci. Identificamos os benefícios e as relações para os detentores dos meios de produção através do financiamento da produção cafeeira, as relações (espúrias) entre o governo e o banco, através da política de crédito da instituição, trabalho escravo, regulamentos e legislações que favoreciam ambos. Concluímos que os textos contidos nas demonstrações financeiras enquanto instrumentos de propagação ideológica apontam (i) a criação da superestrutura necessária à estrutura, com a criação da “realidade” de que o café era um bem nacional, de todos e (ii) o isolamento de classes e regiões menos favorecidas, especialmente as da região norte do Brasil.
Palavras-chave: contabilidade crítica; ideologia; hegemonia; estrutura; superestrutura.