Discoespondilite Fúngica Causada por Aspergillus spp. em Pastor Suíço Branco

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22456/1679-9216.142026

Palavras-chave:

Canino, Fungo, Aspergillus spp., discoespondilite, Pastor Branco Suíço

Resumo

Contexto: Vários agentes infecciosos podem causar discospondilite, principalmente devido à disseminação hematogênica, sendo a infecção bacteriana a mais comum. A discopondilite fúngica é rara e pode resultar de infecção por vários agentes, incluindo Aspergillus spp. A aspergilose disseminada, que pode causar discospondilite, é mais prevalente em cães pastores alemães, possivelmente devido a defeitos genéticos nas respostas imunes celulares e humorais. Dada a raridade desta condição, o objetivo deste relato é descrever um caso de discopondilite fúngica causada por Aspergillus spp. em um cão pastor branco suíço jovem.
Caso: Um cão pastor branco suíço de um ano e meio de idade foi atendido com histórico de paraparesia de início agudo que progrediu para paraplegia. O exame neurológico revelou síndrome toracolombar grau IV, caracterizada por paraplegia com perda de sensibilidade superficial nos membros pélvicos, ausência do reflexo do tronco cutâneo caudal à sexta vértebra torácica e dor à palpação manual da coluna em T4/T5/T6. Radiografias da coluna torácica foram realizadas, mas os resultados foram inconclusivos, levando ao encaminhamento para tomografia computadorizada (TC). A TC revelou áreas líticas nos corpos vertebrais T4-T5 e a presença de uma estrutura amorfa com densidade de tecido mole no espaço extradural em T4/T5, causando compressão da medula espinhal, consistente com o diagnóstico de discospondilite. Ultrassonografia abdominal e cultura de urina foram conduzidas para investigar a fonte primária de infecção, mas os resultados foram inconclusivos. A condição do paciente piorou apesar da terapia com antibióticos, levando à análise do líquido cefalorraquidiano e hemilaminectomia para descompressão da medula espinhal e coleta de material do disco entre T4/T5 para cultura fúngica e bacteriana. A cultura fúngica do granuloma e do material do disco foi positiva para Aspergillus spp. Consequentemente, a antibioticoterapia foi descontinuada e o tratamento com itraconazol foi iniciado. Dois meses após o início do tratamento antifúngico, não houve melhora do quadro neurológico e clínico, e o paciente foi eutanasiado.
Discussão: A maioria dos relatos de aspergilose em cães no Brasil envolve o trato respiratório; portanto, o caso descrito neste estudo é provavelmente o primeiro relato de discoespondilite fúngica causada por Aspergillus spp. em um cão no país. Cães pastores alemães e suas variações, como o pastor branco suíço, podem ser mais suscetíveis à infecção fúngica por Aspergillus spp. devido a um defeito imunológico hereditário relacionado a níveis mais baixos de imunoglobulina A. A discoespondilite pode ser diagnosticada por exame radiográfico; no entanto, neste paciente, não foi observada lise da placa terminal ou proliferação óssea, o que pode ocorrer nos estágios iniciais da doença, pois as alterações radiográficas podem levar de duas a seis semanas para aparecer. Portanto, imagens avançadas, como tomografia computadorizada, foram necessárias. Dado que a discoespondilite bacteriana é muito mais comum do que a infecção fúngica, foi iniciada terapia com antibióticos, mas sem melhora da condição, levando à coleta de material de disco para análise microbiológica. Portanto, é importante incluir a discoespondilite fúngica e a aspergilose disseminada no diagnóstico diferencial para cães pastores alemães e suas variações com síndromes medulares de progressão rápida e que não respondem ao tratamento com antibióticos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Bennett P.F., Talbot J.J., Martin P., Kidd S.E., Makara M. & Barrs V.R. 2018. Long term survival of a dog with disseminated Aspergillus deflectus infection without definitive treatment. Medical Mycology Case Reports. 22: 1-3.

Berry W. & Leisewitz A. 1996. Multifocal Aspergillus terreus discospondylitis in two German shepherd dogs. Journal of the South African Veterinary Association-Tydskrif Van Die Suid-Afrikaanse Veterinere Vereniging. 67(4): 222-228.

Brocal J., del Río F. & Feliu-Pascual A. 2019. Diagnosis and management of lumbar Aspergillus spp. discospondylitis using intraoperative cytology and external stabilization in a dog with disseminated infection. Open Veterinary Journal. 9(3): 185-189.

Burkert B.A., Kerwin S.C., Hosgood G.L., Pechman R.D. & Fontenelle J.P. 2005. Signalment and clinical features of diskospondylitis in dogs: 513 cases (1980-2001). Journal of the American Veterinary Medical Association. 227(2): 268-275.

Coelho C.M.M., Adeodato A.G., Brock G.W., Correa C.G., Fernandes M.E.L., Pedro L.G., Eleutério E., Silva M.F.A. & Peixoto A.J.R. 2020. Canine breeds predisposed to develop diskospondylitis: a retrospective study of 181 cases (2009-2018). Ars Veterinaria. 321-327.

Corrigan V., Legendre A., Wheat L., Mullis R., Johnson B., Bemis D. & Cepero L. 2015. Treatment of Disseminated Aspergillosis with Posaconazole in 10 Dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine. 30(1): 167-173.

da Costa R.C. & Moore S.A. 2010. Differential diagnosis of spinal diseases. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice. 40(5): 755-763.

Dahm V., Das Chagas Goulart J., Colombari Cheng A., Cristhine Pase Montagnini K., Fontana C., Ferronato A., Dall’Agnol Gianezini E. & De Marco Viott A. 2020. Pneumonia granulomatosa por Aspergillus Sp. em um cão - Relato de caso. Archives of Veterinary Science. 15(5): p.26. doi.org/10.5380/avs.v15i5.76625

De Souto E.P.F., Carvalho G.S., Frade M.T.S., Olinda R.G., Pessoa C.R.D.M., Kommers G.D., Souza A.P. & Dantas A.F.M. 2016. Bronchopulmonary Aspergillosis Associated with Acute Myocardial Infarction in Dog. Acta Scientiae Veterinariae. 44(1): 178. 5p.

Elad D. 2019. Disseminated canine mold infections. The Veterinary Journal. 243: 82-90.

Foy D.S. & Trepanier L.A. 2010. Antifungal treatment of small animal veterinary patients. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice. 40(6): 1171-1188.

Garcia R.S., Wheat L.J., Cook A.K., Kirsch E.J. & Sykes J.E. 2012. Sensitivity and specificity of a blood and urine galactomannan antigen assay for diagnosis of systemic aspergillosis in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine. 26(4): 911-919.

Gomes S., Targett M. & Lowrie M. 2022. Computed tomography features of discospondylitis in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine. 36(6): 2123-2131.

Harris J.M., Chen A.V., Tucker R.L. & Mattoon J.S. 2013. Clinical features and magnetic resonance imaging characteristics of diskospondylitis in dogs: 23 cases (1997-2010). Journal of the American Veterinary Medical Association. 242(3): 359-365.

Jorge A.J., Portella I.C., Ferraz C.M., Senhorello I.L.S. & Conti L.M. de C. 2022. Pneumonia fúngica por Aspergillus spp. em cão - relato de caso. Brazilian Journal of Case Reports. 2(4): 46-56.

Kennel Club. 2017. White Swiss Shepherd Dog | Breeds A to Z | The Kennel Club. Available at: <https://www.thekennelclub.org.uk/search/breeds-a-to-z/breeds/pastoral/white-swiss-shepherd-dog-imp/>.

Lim Y.Y., Mansfield C., Stevenson M., Thompson M., Davies D., Whitney J., James F., Tebb A., Fry D., Buob S., Hambrook L., Boo G. & Dandrieux J.R.S. 2022. A retrospective multi-center study of treatment, outcome, and prognostic factors in 34 dogs with disseminated aspergillosis in Australia. Journal of Veterinary Internal Medicine. 36(2): 580-590.

Polak S., Karalus W., Worth A. & Cave N. 2023. Disseminated Rasamsonia argillacea infection in a dog. New Zealand Veterinary Journal. 71(5): 267-274.

Ruoff C.M., Kerwin S.C. & Taylor A.R. 2018. Diagnostic Imaging of Discospondylitis. The Veterinary Clinics of North America. Small Animal Practice. 48(1): 85-94.

Schultz R., Johnson E., Wisner E., Brown N., Byrne B. & Sykes J. 2008. Clinicopathologic and diagnostic imaging characteristics of systemic aspergillosis in 30 dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine. 22(4): 851–9.

Seyedmousavi S., Guillot J., Arné P., de Hoog G., Mouton J., Melchers W. & Verweij P. 2015. Aspergillus and aspergilloses in wild and domestic animals: a global health concern with parallels to human disease. Medical Mycology. 53(8): 765-797.

Taylor A.R., Young B.D., Levine G.J., Eden K., Corapi W., Rossmeisl J.H. & Levine J.M. 2015. Clinical Features and Magnetic Resonance Imaging Findings in 7 Dogs with Central Nervous System Aspergillosis. Journal of Veterinary Internal Medicine. 29(6): 1556-1563.

Tipold A. & Stein V. 2010. Inflammatory Diseases of the Spine in Small Animals. Veterinary Clinics of North America-Small Animal Practice. 40(5): 871-879.

Van Hoof C., Davis N.A., Carrera-Justiz S., Kahn A.D., De Decker S., Grapes N.J., Beasley M., Du J., Pancotto T.E., Suñol A., Shinn R., DeCicco B., Burkland E. & Cridge H. 2023. Clinical features, comparative imaging findings, treatment, and outcome in dogs with discospondylitis: A multi-institutional retrospective study. Journal of Veterinary Internal Medicine. 37(4): 1438-1446.

Van Wie E., Chen A.V., Thomovsky S.A. & Tucker R.L. 2013. Successful Long‐Term Use of Itraconazole for the Treatment of Aspergillus Diskospondylitis in a Dog. Case Reports in Veterinay Medicine. 1-4. DOI: 10.1155/2013/907276

Arquivos adicionais

Publicado

2025-01-23

Como Citar

Smaili Santos, I., de Lima Bernardes, G., Nogueira Smanioto, D., Garcia Pretto-Giordano, L., & Bahr Arias, M. V. (2025). Discoespondilite Fúngica Causada por Aspergillus spp. em Pastor Suíço Branco. Acta Scientiae Veterinariae, 53. https://doi.org/10.22456/1679-9216.142026

Edição

Seção

Case Report