Tumor Venéreo Transmissível Nasal em um Cão Geriátrico: Uma Análise Clínica, Laboratorial, Terapêutica e Prognóstica

Resumo

Introdução: O Tumor Venéreo Transmissível (TVT), é uma neoplasia de células redondas que afeta cães. Sua localização é predominantemente venérea, entretanto pode ser encontrado em regiões extragenitais como pele, narinas, boca e olhos. Esse trabalho descreve um caso de TVT nasal em um cão geriátrico, realizando sua análise clínica, laboratorial, terapêutica e prognóstica. Caso: Um cão macho, sem raça definida, não castrado, domiciliado, com treze anos de idade e 19,200kg foi atendido na Clínica Médica de Pequenos Animais (CMPA) do Hospital Veterinário Universitário (HVU) da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) Centro Multidisciplinar de Barra, apresentando caquexia, linfonodos reativos com exceção dos poplíteos, desidratação, dispneia, arritmia, espirros frequentes com descarga nasal serosa e amarelada, tosse, dificuldade respiratória, aumento de volume na face (plano nasal esquerdo), aumento de volume acima do olho direito com ferida supurativa logo abaixo. O hemograma do animal revelou a presença de um quadro de anemia normocítica normocrômica, leucocitose por neutrofilia com desvio a esquerda regenerativo e hiperproteinemia. Nos exames bioquímicos séricos de função renal (ureia e creatinina) e hepática (ALT, AST e FA), visualizaram-se índices de normalidade. Na avaliação citológica observou-se população monomórfica de grandes células com núcleo redondo, cromatina condensada e um a dois nucléolos proeminentes, citoplasma abundante e levemente basofílico, com múltiplos vacúolos pontilhados, apresentando discreta anisocitose e anisocariose e figuras de mitose confirmando-se um caso de TVT. Adicionalmente, evidenciou-se a presença de neutrófilos, indicando um processo inflamatório. Solicitou-se concomitantemente radiografia do crânio, não havendo retorno desta. Foi instituído o protocolo quimioterápico utilizando sulfato de vincristina [0,025 mg /kg IV], por 5 sessões com intervalo de uma semana entre cada sessão, monitoramento clínico e laboratorial de regressão de células neoplásicas, demonstrando total eficácia. Destaca-se que após a segunda aplicação do fármaco o animal apresentou reações adversas, com quadro clínico de êmese, diminuição de apetite e perda de peso, foi então submetido a fluidoterapia, tratamento com imunoestimulante, estimulante de apetite e antiemético, que influíram na sua melhora clínica. 

Discussão: É notável a importância de testes diagnósticos complementares na rotina de clínicas e hospitais veterinários visando o estabelecimento diagnóstico e monitoramento terapêutico de doenças. No presente relato, divergindo da maioria dos casos descritos na literatura, o animal apresentou indícios da neoplasia com 13 anos de idade, em quadro de atividade sexual diminuída. Acredita-se que, o fato deste ter livre acesso à rua e possuir hábitos olfatórios inerentes a espécie canina quanto ao contato com a região genital de outros animais, o deixou exposto a fatores que determinaram a transmissibilidade da neoplasia. O acompanhamento clínico semanal, bem como as análises laboratoriais foram essenciais para averiguar a eficácia do tratamento, a presença de reações adversas e instituições de novas medicações. A anemia normocítica normocrômica demonstrada, possivelmente ocorreu em resposta a característica nodular e hemorrágica do tecido tumoral. Já a leucocitose por neutrofilia e hiperproteinemia estariam relacionadas a ocorrência de um processo infeccioso agudo, provavelmente bacteriano. Conclui-se que apesar de pacientes geriátricos apresentarem quadros de imunossupressão mais facilmente que outras faixas etárias, em casos de TVT a conduta terapêutica com sulfato de vincristina, monitoramento clínico e laboratorial adotados influem em bons prognósticos quanto a regressão neoplásica.