Surto de intoxicação por Senna occidentalis em bovinos
DOI:
https://doi.org/10.22456/1679-9216.133706Palavras-chave:
muscle necrosis, myotoxic action, ruminants, toxic plantResumo
Background: Senna occidentalis é um arbusto anual da família Leguminosea, conhecido popularmente como fedegoso, que possui ação miotóxica. Todas as partes da planta são tóxicas, porém as sementes apresentam maior concentração. A ingestão pode ocorrer com o consumo de rações contaminadas com partes da planta e em raras ocasiões de forma espontânea pela ingestão em meio à pastagem. A intoxicação espontânea tem sido descrita em bovinos, suínos e equinos. Ocorre geralmente em bovinos maiores de um ano de idade, sob a forma de surtos com alta letalidade. O trabalho descreve um surto de intoxicação espontânea por S. occidentalis em bovinos criados de forma extensiva, no município de Gravataí-RS.
Case: A propriedade apresentava um lote de 43 terneiras com idade entre 12 e 18 meses, alocadas em maio ao sistema de recria, com pastagem de tifton e campo nativo. Os animais
tinham acesso a antiga lavoura de verduras, que apresentava uma pequena área infestada por S. occidentalis. Oito dias após a transferência, dois bovinos estavam apáticos, sendo encontrados mortos em 24 horas. Com isso, o lote foi realocado de campo. Após 48 horas, foi observado um bovino apático que, passados 72 horas, estava em decúbito, com opistótono, pedalagem de membros anteriores, tremores musculares, incoordenação de membros posteriores, decúbito permanente, ranger de dentes, momentos de apneia, vindo a óbito e sendo encaminhado para necropsia. Na macroscopia, havia áreas pálidas, multifocais a coalescentes, na musculatura estriada esquelética dos membros pélvicos. Na abertura da vesícula urinária, havia urina de coloração vermelho-escura. Na histologia, em musculatura esquelética, observou-se acentuada necrose hialina multifocal. Também se visualizou acentuada quantidade de fibras fragmentadas, característico de necrose flocular, ocasionalmente infiltradas por macrófagos e discreta quantidade de neutrófilos, além de discreta quantidade de células satélite no interior de miócitos. No fígado, em região mediozonal, havia moderada vacuolização multifocal de hepatócitos. No pulmão observou-se congestão moderada e edema discreto.
Discussion: O diagnóstico de intoxicação por S. occidentalis foi estabelecido através da associação entre os dados epidemiológicos, os sinais clínicos, as lesões macroscópicas e histopatológicas. No presente caso, a intoxicação ocorreu de forma espontânea, provavelmente facilitada pela recente transferência dos animais para a propriedade, aliado à época do ano que favorece o maior desenvolvimento da S. occidentalis, outono. A intoxicação pela planta afeta de 10 a 60% do rebanho e possui alta letalidade, no presente estudo observamos 7% dos animais acometidos, provavelmente influenciado pela pequena área com disponibilidade da planta na propriedade. Todos os animais que adoeceram morreram, confirmando a alta letalidade dessa intoxicação. Em bovinos afetados espontaneamente, a progressão da doença se manifesta com fraqueza muscular, incoordenação dos membros pélvicos, dificuldade em movimentar-se, ausência dos movimentos ruminais e mioglobinúria. A manifestação de sinais clínicos de lesão muscular se inicia aproximadamente entre um a duas semanas. Os sinais observados e o curso clínico da doença no animal do presente caso corroboram com o relatado na literatura. Na histologia, observa-se necrose hialina e flocular de segmentos de fibras musculares esqueléticas associadas à presença de células satélites e macrófagos, alterações também observado nos achados histopatológicos desse trabalho. Ainda que a frequência de intoxicação espontânea por S. occidentalis seja baixa, é importante o relato destes casos para maior conhecimento e melhor prevenção de novos casos. É de suma importância que os criadores e tratadores saibam reconhecer esta planta, visto a necessidade de eliminação dela das pastagens, evitando assim perdas significativas.
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