Ambientalização dos conflitos sociais e a adequação “sustentável’ da injustiça ambiental ao capital

Autores

  • Cleyton Gerhardt Cientista social, professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
  • Lair Medeiros de Araújo Historiadora e mestra em Desenvolvimento Rural.

Palavras-chave:

Ambientalização, Injustiça ambiental, Desenvolvimento sustentável, Modernização ecológica

Resumo

O artigo visa explorar dois fenômenos interconectados que estão intimamente vinculados à construção do meio ambiente: de um lado, a reelaboração discursiva de movimentos e grupos socais que passam a se “ambientalizar”, ao mesmo tempo em que lutam por justiça e equidade ambiental ao se reconhecer como “atingidos” por projetos ditos de “desenvolvimento”; de outro, a adequação do meio ambiente à lógica do mercado, processo marcado pela mediação do conhecimento técnico-científico e pela produção de uma nova retórica destinada a produzir consenso e dar conta dos conflitos advindos da socialização dos riscos ambientais e da repartição desigual da riqueza produzida pela exploração da natureza. Por fim, examina-se um aspecto transversal aos dois temas: a produção de “zonas de sacrifício” e “alternativas infernais” em contextos envolvendo implementação de empreendimentos altamente impactantes em termos ecológicos.

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Biografia do Autor

Cleyton Gerhardt, Cientista social, professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Cientista social, professor e pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Lair Medeiros de Araújo, Historiadora e mestra em Desenvolvimento Rural.

Historiadora e mestra em Desenvolvimento Rural.

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Publicado

2019-08-31