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O Trabalho do Ator e a Arte de Ficcionar a Si Mesmo

The Actor's Work and the Art of Fictionalising Oneself

Le Travail de l'Acteur et l'Art de la Fiction de Soi

RESUMO

Este artigo trata sobre o trabalho do ator como possibilidade de criação, de invenção de si. Relaciona-se essa ideia a modos de ficcionar a si mesmo, ou seja, a maneiras de pensar o trabalho do ator sobre si como uma formação possível de projetar-se para além da criação artística, chegando a reverberar no prosaico da vida cotidiana. Para sustentar tal discussão, foram abordados os conceitos de ética, verdade e cuidado de si, além de outros, conforme tratados na obra de Michel Foucault. Além disso, do campo teatral tomam-se as noções de segunda natureza e corpo fictício, problematizadas a partir de Constantin Stanislavski, Franco Ruffini, Eugenio Barba e Nicola Savarese.

Palavras-chave:
Ator; Criação; Ficção; Transformação; Formação

ABSTRACT

This article discusses the actor's work as a possibility of creation and invention of the self. This concept is related to ways of fictionalising oneself, that is, ways to think an actor's work on themselves as a possible way to project the self beyond artistic creation, even coming to reverberate in ordinary daily life. To support this discussion, we addressed the concepts of ethics, truth, and care of the self, as they are discussed in the work of Michel Foucault and others. Furthermore, we drew from theatre notions of second nature and fictitious body, problematised based on the ideas of Constantin Stanislavski, Franco Ruffini, Eugenio Barba, and Nicola Savarese.

Keywords:
Actor; Creation; Fiction; Transformation; Training

RÉSUMÉ

Cet article envisage le travail de l'acteur comme une possibilité de création, d'invention de soi. Cette idée est mise en rapport avec des modes de fiction de soi-même, c'est-à-dire, des manières d'envisager le travail de l'acteur sur soi comme une formation qui tend à dépasser la création artistique, pouvant réverbérer dans le prosaïque de la vie quotidienne. Cette réflexion s'appuie sur les concepts d'éthique, de vérité et de soin de soi, tels qu'ils ont été traités dans l'œuvre de Michel Foucault; entre autres. Du champ théâtral sont empruntées les notions de seconde nature et de corps fictif, problématisées à partir de Constantin Stanislavski, Franco Ruffini, Eugneio Barba et Nicola Savarese.

Mots-clés:
Acteur; Création; Fiction; Transformation; Formation

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  • 1
    Constantin Stanislavski (1863-1938), ator e encenador russo, foi fundador do Teatro de Arte de Moscou, em 1898, e seus princípios inscrevem-se na corrente naturalista. Sua contribuição fundamental dentro do quadro realista foi a de redefinir a noção de realismo, colocando a tônica sobre o realismo interior, e de se ligar ao problema da formação do ator. Como o ator pode produzir o verdadeiro, o vivido, numa situação de teatro que é, por princípio, artificial? A resposta de Stanislavski apoia-se num conjunto de técnicas interiores e exteriores, constitutivas de uma psicofísica do ator, que se costuma chamar de Sistema Stanislavskiano (Borie; De Rougemont; Scherer, 2004).
  • 2
    Compreendo que representar alude a um conceito importante e complexo, com várias formulações em diferentes campos. Nesse caso, o verbo está sendo empregado dentro do uso corrente que se faz no campo teatral e que refere a ação do ator euro-americano quanto à sua relação com a criação e os modos de apresentá-la, ou melhor, de reapresentá-la.
  • 3
    Artigo publicado nos Cadernos de Teatro a partir de uma palestra proferida pela atriz Fernanda Montenegro, no Centro de Artes Livres, em março de 1983.
  • 4
    Entendo que as práticas teatrais dizem respeito aos diferentes modos de fazer/praticar e pensar a linguagem teatral, concernente a tempos, espaços, condições sociais específicas. Já as técnicas relacionam-se aos procedimentos que constituem modos específicos de praticar a criação teatral, por exemplo: a técnica do trabalho com o clown, as técnicas de improvisação etc. Por fim, os exercícios constituem a minúcia do trabalho, os elementos que compõem as técnicas, que revelam as práticas.
  • 5
    O termo campo de forças provém das discussões de Kastrup (1999). Segundo a autora, amparada no pensamento de Gilles Deleuze, a figura de um campo de forças de vetores é a figura de um espaço no qual a subjetividade pode emergir, destituída da figura de um sujeito.
  • 6
    Na peça Hamlet, o príncipe da Dinamarca, de Shakespeare (1995), o personagem (Hamlet) contrata uma companhia de atores para representar um texto escrito por ele. Diante do modo como o ator interpreta o texto, Hamlet o interrompe e o aconselha.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2013

Histórico

  • Recebido
    27 Jan 2013
  • Aceito
    22 Maio 2013
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