Era uma vez o “país da alegria”: mídia, estados de ânimo e identidade nacional
DOI:
https://doi.org/10.19132/1807-8583201534.401-420Palavras-chave:
Alegria. Ressentimento. Mídia. Estereótipo. Identidade nacional.Resumo
A alegria se consolidou, a partir dos anos 1930, como um componente marcante da brasilidade, decantado em verso e prosa, enaltecido em relatos de viajantes saudosos e ressaltado em discursos políticos e publicitários. Trata-se de um elemento constitutivo da identidade, da imagem e da reputação da nossa nação. Escritores e jornalistas atuaram, de maneira decisiva, para notabilizar a visão estereotipada do Brasil como o “país da alegria”. Agora, sob o impacto de recentes inovações tecnológicas, transformações sociais e acontecimentos políticos, são eles também que ajudam a promover uma reconsideração da nossa autoimagem. O objetivo deste artigo é, justamente, examinar as mudanças nas narrativas sobre a cultura nacional e o caráter brasileiro. Destaco, em particular, nos discursos e nas representações que a sociedade brasileira vem produzindo a respeito de si mesma, o reconhecimento público da presença do ressentimento em nossa história, nossas relações sociais e nossa vida política.Downloads
Referências
ABREU, Capistrano de. Carta a João Lúcio de Azevedo [1916]. In: PRADO, Paulo. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
AHMED, Sara. Not in the Mood. New Formations: a journal of culture/theory/politics, London, v. 82, n. 82, p. 13-28, 2014.
ALVES, Maria Elisa. A cara da felicidade muito além da Zona Sul. O Globo, Rio de Janeiro, p. 20, 6 mar. 2013.
AMADO, Jorge. Bahia de todos-os-santos: guia de ruas e mistérios de Salvador. São Paulo: Companhia das Letras, 2012 [1944].
ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. Rio de Janeiro: Duas Cidades, 1976 [1929].
ANYSIO, Chico. Brasil, o país do amanhã. Realidade, São Paulo, p. 62-64, maio de 1968.
BILAC, Olavo. Exposição nacional. In: DIMAS, Antonio (Org.). Vossa insolência: crônicas, São Paulo: Companhia das Letras, 1996 [1908]. p. 283-288
BILAC, Olavo. A tristeza dos poetas brasileiros. Revista Kosmos, Rio de Janeiro, p. 1, jan. 1906,.
BRUM, Eliane. Por quem rosna o Brasil. El País, Madrid, 3 ago. 2015. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/07/20/opinion/1437400644_460041.html>. Acesso em: 4 ago. 2015.
CAMPOS, Paulo Mendes. Rio de Janeiro. In: CAMPOS, Paulo Mendes. Brasil brasileiro: crônicas do país, das cidades e do povo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005 [1989]. p. 91-94
CARVALHO, José Murilo de. O motivo edênico no imaginário social brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 13, n. 38, p. 19-43, 1998.
COATES, Robert; MARSHALL, Oliver. The Rough Guide to Rio de Janeiro. Londres: Rough Guides, 2009.
COLOMBO, Sylvia. Simpatia do brasileiro é um mito, diz sociólogo Manuel Castells. Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 mai. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/05/1630173-internet-so-evidencia-violencia-social-brasileira-afirma-sociologo-espanhol.shtml>. Acesso em: 20 mai. 2015.
DALE, Joana. Eu sorrio, eu sou Rio. Revista O Globo, Rio de Janeiro, p. 34-46, 3 mar. 2013.
DIXON, Thomas M. From passions to emotions: the creation of a secular psychological category. New York: Cambridge University, 2003.
FORTUNATI, Leopoldina. Il risentimento online. In: DI FRAIA, Guido; RISI, Elisabetta (Orgs.). L’umano risentire: trame e manifestazioni sociali di un sentimento della tarda modernità. Milão: Ledizioni, 2012. p. 77-102
FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1987 [1933].
HERÉDIA, Teresa. Onde estava escondida essa raiva coletiva?. G1, Rio de Janeiro, 21 jun. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/2013/06/21/onde-estava-escondida-essa-raiva-coletiva/>. Acesso em: 24 jun. 2013.
HARROW, Susan; UNWIN, Timothy (Orgs.). Joie de vivre in French literature and culture: essays in honour of Michael Freeman. Amsterdam: Rodopi, 2009.
LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasileiro: história de uma ideologia. São Paulo: UNESP, 2007 [1968].
LEMINSKI, Paulo. Blues e sousa. In: LEMINSKI, Paulo. Vida: Cruz e Sousa, Bashô, Jesus e Trótski. 4 biografias. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 23-27
LIMA, Ludimilla de. O “Arpex” é como a luz no coração dos cariocas. O Globo, Rio de Janeiro, p. 16, 5 mar. 2013.
LOBATO, Monteiro. Urupês. São Paulo: Brasiliense, 1994 [1918].
MEDEIROS, Maurício de. Psicologia da anedota e do riso. In: FRIEIRO, Eduardo. O brasileiro não é triste. Rio de Janeiro: INL, 1957 [1943]. p. 88-89.
MENDES, Luis Antonio de Oliveira. Discurso acadêmico ao programa. In: MENDES, Luis Antonio de Oliveira. Memorias economicas da Academia Real das Sciencias de Lisboa, para o adiantamento da agricultura, das artes, e da industria em Portugal, e suas conquistas. Tomo IV. Lisboa: Tipografia da Academia, 1812, p. 1-64
MEROLA, Ediane. Novos tempos com promessa de felicidade. O Globo, Rio de Janeiro, p. 14, 4 mar. 2013.
NABUCO, Joaquim. Minha formação. São Paulo: Instituto Progresso Industrial, 1949.
NAVA, Pedro. O círio perfeito. São Paulo: Giordano, 2004 [1983].
NGAI, Sianne. Ugly feelings. Cambridge: Harvard University, 2005.
POTKAY, Adam. The story of joy: from the Bible to late Romanticism. Cambridge: Cambridge University, 2007.
RIBEIRO, Darcy. Brasil-Brasis. In: RIBEIRO, Darcy. Utopia Brasil. São Paulo: Hedra, 2008 [1987]. p. 21-36
RIBEIRO, Darcy. Macunaíma. In: ANDRADE, Mário. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Edição crítica. São Paulo: ALLCA XX, 1997. p. XVII-XXII
RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o povo brasileiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
RIO DE JANEIRO (Estado). Rio de Janeiro. Marca registrada do Brasil. Rio de Janeiro: Governo do Estado do Rio de Janeiro, 2011. Pôster de campanha publicitária.
RISÉRIO, Antonio. Palavras, palavras, palavras. A utopia brasileira e os movimentos negros. São Paulo: Editora 34, 2007. p. 251-276
ROLDAN, Sébastien. La pyramide des souffrances dans La joie de vivre d'Émile Zola. Québec: Université du Québec, 2012.
ROSSET, Clément. Prefácio. In: ROSSET, Clément. Lógica do pior. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989. p. 7-9.
RUFFATO, Luiz. O brasileiro cordial. El País, Madrid, 3 jun. 2015. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/06/03/opinion/1433333585_575670.html>. Acesso em: 04 jun. 2015.
SANT’ANNA, André. O brasileiro é bom. In: SANT’ANNA, André. O Brasil é bom. São Paulo: Compa-nhia das Letras, 2014. p. 38-41
SARNEY, José. Carnaval neles. Folha de S. Paulo, São Paulo, 23 fev. 2001. Opinião, p. 2.
SCHWARCZ, Lilia K. Moritz. Um Brasil caricatural para alemão ver. Folha de S. Paulo, São Paulo, 6 nov. 1994. Mais!, p. 2.
TORRES, Bolívar. Revista francesa explica gafe com literatura brasileira. O Globo, Rio de Janeiro, 11 de dez. 2014. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/livros/revista-francesa-explica-gafe-com-literatura-brasileira-14802342#ixzz3m35mUW19>. Acesso em: 13 dez. 2014.
VELASCO, Suzana. De mal com o bom humor. Revista O Globo, Rio de Janeiro, p. 20-27, 15 jun. 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2015 João Freire Filho
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
Os Direitos Autorais dos artigos publicados neste periódico pertencem aos autores, e os direitos da primeira publicação são garantidos à revista. Por serem publicados em uma revista de acesso livre, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em atividades educacionais e não-comerciais.
A revista utiliza a Licença de Atribuição Creative Commons (CC BY-NC), que permite o compartilhamento de trabalhos com reconhecimento de autoria.