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Língua e Literatura Igbo no Discurso em Sala de Aula: um experimento pedagógico

Resumo:

Este artigo compartilha um experimento pedagógico de ensino da língua Igbo utilizando uma lenda da literatura e sua adaptação cinematográfica. O estudo etnográfico revela que assistir ao filme tem impacto na valorização da literatura e da língua pelos estudantes e aumenta sua cooperação ao compartilhar e contribuir com o exercício de aprendizagem. O estudo enfatiza a importância dos métodos interativos de ensino e defende que, devido à globalização e à persistente invasão tecnológica, os estudiosos de estudos culturais e africanos precisam refletir sobre abordagens inovadoras no ensino de línguas e literaturas locais para manter o interesse da juventude pela cultura/estudos culturais africanos em uma era tecnológica.

Palavras-chave:
Vídeo; Literatura; Língua; Cultura Igbo; Pedagogia

Abstract:

This paper shares a pedagogical experiment of Igbo language instruction using a folktale literature and its film adaptation. The ethnographic study reveals that film viewership affects the students’ appreciation of the literature and the language and enhances students’ cooperation in sharing and contributing in the learning exercise. The study emphasizes the importance of interactive teaching methods and argues that with globalization and persistent technological invasion, African and cultural studies’ scholars need to reflect on innovative approaches to the instruction of local languages and literature to sustain youth interest in African culture/cultural studies in a technological era.

Keywords:
Video Film; Literature; Language; Igbo Culture; Pedagogy

Résumé:

Cet article présente une expérience pédagogique d’enseignement de la langue Igbo à partir de l’étude d’une légende littéraire et de son adaptation cinématographique. L’étude ethnographique révèle que le visionnage du film a un impact sur l’appréciation de la littérature et de la langue par les élèves et accroît leur coopération, contribuant à l’apprentissage. L’étude souligne l’importance des méthodes d’enseignement interactives et soutient que, en raison de la mondialisation et de l’invasion technologique persistante, les spécialistes des études culturelles et africaines doivent réfléchir à des approches novatrices dans l’enseignement des langues et des littératures locales afin de préserver l’intérêt des jeunes pour la culture et pour les études culturelles africaines à l’ère technologique.

Mots-clés:
Vidéo; Littérature; Langue; Culture Igbo; Pédagogie

Introdução: antecedentes do estudo

Em 2012, a UNESCO incluiu a língua Igbo como possivelmente extinta em 50 anos. Com este relatório, o povo Igbo da Nigéria enfrentou críticas devido a sua aparente indiferença ao estudo da língua e da literatura Igbo. Este povo é considerado como o mais ocidentalizado dos nigerianos; muitos deles não leem a literatura nem escrevem ou falam a língua Igbo de maneira proficiente (Asonye, 2013ASONYE, Emmanuel. UNESCO prediction of the Igbo language death: Facts and Fable. Journal of the Linguistic Association of Nigeria, Nigeria, v. 16, n. 1-2, p. 91-98, 2013.). Muitos jovens Igbo são fluentes em inglês, que é a língua franca oficial na Nigéria, enquanto mal leem, escrevem ou falam sua língua original. Nas escolas nigerianas, embora esta língua seja proeminente no currículo, os estudantes parecem não se orgulhar de falá-la em público nem se entusiasmar para ler sua literatura, não obstante as ricas tradições literárias orais e escritas do povo Igbo (Ubioworo; Onoyovwi, 2008UBIOWORO, Eyo; ONOYOVWI, Doe. Towards re-tooling oral literature for the teaching of Nigerian Languages. Journal of Nigerian Languages and Culture, Nigeria, v. 10, n. 2, p. 135-146, 2008.). Estas categorias estão refletidas em estudos Igbo, embora a aproximação dos estudantes desta origem com eles nunca tenha sido marcante. Asonye observa que muitas famílias de elite no país e na diáspora preferem que seus filhos dominem o inglês em vez do Igbo. Por este motivo, muitas escolas privadas não contratam professores Igbo, o que resulta em uma escassez ainda maior destes docentes e de estudantes interessados. É provável que os jovens estudem a língua e a literatura Igbo na escola para serem aprovados nos exames, não por interesse pessoal. Muitos entusiastas e estudiosos culturais se preocupam com a possibilidade de que esta negligência com a língua e a literatura Igbo possa ter implicações negativas para as pessoas, especialmente devido ao fato de que as normas e os valores culturais Igbo são transmitidos de geração para geração (Odinye; Odinye, 2010ODINYE, Isreal; ODINYE, Ify. Preventing the Extinction of Igbo Language. OGIRISI: a New Journal of African Studies: Editorial Policies, Nigeria, v. 7, p. 85-93, 2010.). Estas questões demonstram a necessidade de um esforço aumentado no ensino e na valorização da língua e da literatura Igbo em todos os níveis de ensino superior e conclama para uma abordagem pedagógica ao ensino de línguas e literaturas locais.

Este estudo foi inspirado pela atitude evidente dos escolares nigerianos em relação à aprendizagem de línguas locais como o Igbo. Defendo que a adoção de abordagens contemporâneas ao ensino desta língua poderia motivar e despertar o desejo dos estudantes para aprender a língua e a literatura Igbo, assim como a respectiva cultura. Em seu artigo Five Principles of Pedagogy [Cinco Princípios da Pedagogia]5 1 Disponível em: <https://edtechnow.tech/2013/05/12/pedagogy/>. , Willam (2013WILLAM, Dylan. Five Principles of Pedagogy. Ed Tech Now. 2013. Available at: <Available at: https://edtechnow.tech/2013/05/12/pedagogy/ >. Accessed on: 7th April, 2018.
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) observa que uma abordagem pedagógica deve resultar em (a) motivação, (b) exposição, (c) direcionamento da atividade, (d) criticidade e (e) convite à imitação. Este experimento responde a estes princípios na prática.

Local do Estudo

Este estudo e experimento etnográfico foi desenvolvido em Ugwu Orji em Owerri, estado de Imo, que é um dos estados centrais no sudeste da Nigéria, sendo sua capital uma cidade predominantemente urbanizada. O estudo foi realizado em uma escola privada com estudantes do ensino secundário senior (com idade entre 15 e 17 anos). Na prática, é difícil encontrar escolas tecnologicamente bem equipadas em comunidades rurais, possivelmente devido à falta de patrocínio. Isto justifica a seleção de uma escola privada em uma localidade urbana.

Importância do Estudo

Apesar da popularidade do grupo étnico e da cultura Igbo, além do incremento em estudos sobre sua língua, literatura e cultura, muito poucos estudos foram conduzidos sobre o ensino desta língua. Iloene et al. (2013ILOENE, Modesta et al. The Use of New Technologies for the Teaching of the Igbo Language in Schools: Challenges and Prospects. Voldans: La Granges des Noyes, 2013.) e Mbah et al. (2013MBAH, Evelyn et al. Podcasts for Learning English Pronunciation in Igboland: Students’ Experiences and Expectations. In: BRADLEY, Linda; THOUESNY, Sylvie (Ed.). 20 Years of EUROCALL: Learning from the Past, Looking to the Future. Research Publishing.net. 2013.) examinaram o uso de novas tecnologias para o ensino de Igbo em escolas. Entretanto, estes estudos se concentraram principalmente sobre o ensino da língua usando tecnologias de mídia como podcasts, sem nenhum interesse pela literatura Igbo. Mbah et al. (2013) enfocaram especificamente as vivências e as expectativas dos estudantes com o uso de podcasts para aprender a pronúncia na língua inglesa. Em um estudo relacionado, Amaechi (2013AMAECHI, Jerome. Students’ Perspectives on English-Only Instruction: A Study of Three Junior Secondary Schools in Eastern Nigeria. Michigan: Proquest Dissertation Publishing, 2013.) aplica um método fenomenológico ao estudo da língua Igbo junto a 561 estudantes em três escolas de ensino secundário junior (com idade entre 12 e 14 anos) no sudeste da Nigéria. O estudo revela que os estudantes “[…] preferem um ensino bilíngue (dual-language instruction - DLI) de inglês e Igbo, pois o consideram como o projeto educacional mais eficaz para acessar conteúdo. A língua materna, afirmam eles, incorpora sua identidade étnica e os ajuda a decodificar conceitos complexos em inglês” (Amaechi, 2013, p. 537). Estes estudos diferem bastante da produção aqui apresentada em termos de foco, delineamento e especificidade. Portanto, este estudo é significativo devido à especificidade do foco na língua Igbo no ensino secundário (estudantes com idade entre 12 e 17 anos) e a incorporação de sua literatura. Ademais, o pequeno tamanho da amostra (18 estudantes de uma turma) é significativo porque permite o estudo próximo aos participantes da pesquisa. Com isso, irá contribuir para preencher uma lacuna na literatura.

Definição do Problema

Como estudiosa e entusiasta da cultura e interessada em assegurar que as gerações mais novas aprendam a língua e a literatura Igbo, tenho observado o declínio no seu estudo na Nigéria. Este experimento foi delineado para avaliar e investigar maneiras de ensinar a língua e a literatura Igbo com a finalidade de repensar maneiras de aumentar a valorização de estudos Igbo entre os estudantes. Um provérbio creditado a um filósofo malinês diz que “um idoso moribundo é uma biblioteca queimada”. A metáfora da biblioteca em chamas destaca a necessidade de novas maneiras de ressuscitar a cultura, a língua e a literatura Igbo. Preconiza a exploração de maneiras tecnologicamente mais inovadoras e mais inteligentes de preservar, apresentar e promover a valorização da língua e da cultura Igbo. Este estudo busca informações em primeira mão sobre a avaliação da natureza do ensino da língua e da literatura Igbo para observar como os estudantes respondem ao seu ensino.

O ensino e o estudo da língua e da literatura Igbo merecem um enfoque mais científico. O experimento está, portanto, interessado em iniciar empiricamente uma nova abordagem à pedagogia da língua e da literatura Igbo em uma escola contemporânea. O interesse principal é investigar o seguinte:

a. Como a língua e a literatura Igbo são ensinadas em escolas de ensino secundário (estudantes com idade entre 12 e 17 anos);

b. Determinar como os estudantes respondem à aprendizagem da língua e da literatura Igbo; e

c. Pensar em maneiras inovadoras de ensino da língua e da literatura Igbo para avaliar, medir e comparar as respostas dos estudantes a diferentes cenários. O resultado irá ajudar a fornecer informações para repensar abordagens ao ensino de línguas e literaturas locais.

Delineamento e Metodologia da Pesquisa

Este estudo qualitativo utiliza os métodos da observação e da entrevista semiestruturada para coletas dados. A natureza da coleta de dados levou a pesquisadora a fazer anotações sobre a observação no decorrer da pesquisa, sendo que a maior parte delas contribuiu como tipos de evidências. Por exemplo, foram feitas anotações de campo sobre reações involuntárias dos estudantes, inclusive anotações oriundas de conversas informais antes e depois das entrevistas com estudantes da escola e seus professores.

(a) Observação

Este estudo adota a observação como sua metodologia principal. Chinguno (2015) afirma que a observação é apropriada quando o fenômeno está de alguma maneira oculto ou invisível e demonstra diferenças importantes entre as opiniões de pessoas de fora e de dentro. Assim, a observação permite que o investigador tome conhecimento dos eventos na medida em que se desenrolam e alcance uma melhor compreensão e interpretação de outros achados. Deacon et al. (1999DEACON, David et al. Researching Communication: A Practical Guide to Methods in Media and Cultural Analysis. New York: Oxford University Press, 1999.) identificam três tipos de observação, a saber: (a) Observação simples, (b) Observação participante e (c) Etnografia. Deacon et al. (1999, p. 250) definem a observação simples como “uma mosca na parede”, quando o observador não tem nenhuma relação com os processos ou quando as pessoas observadas não sabem das atividades do pesquisador. Neste estudo, foram adotadas a observação simples e a participante.

(b) Entrevista

Os estudantes foram entrevistados em diferentes ambientes, conforme sua conveniência. Alguns foram entrevistados em sala de aula após o exercício de ensino experimental, enquanto outros foram entrevistados durante o intervalo. As entrevistas transcritas foram processadas para reduzir a quantidade ainda antes de serem usadas. Não foi feita entrevista em profundidade porque a observação foi o método principal aplicado no estudo.

A população deste estudo é formada por estudantes da Turma 5 da Excellency International Secondary School, Ugwu Orji, em Owerri. Após ter conferido os critérios de inclusão dos respondentes ao estudo, a pesquisadora entrou em contato com o proprietário da escola e solicitou permissão para conduzir o experimento com a turma que oferece língua e literatura Igbo. A seguir, a pesquisadora e a professora da turma fizeram uma extensa reunião planejada para informar a docente a respeito da natureza do estudo. Ambas concordaram em não informar os estudantes de que uma visitante se juntaria à turma para observar a aula de língua e literatura Igbo. A ideia era assegurar que a presença da visitante não agitasse nem inibisse os estudantes, nem fizesse com que ficassem desnecessariamente nervosos ou cientes da presença da pesquisadora.

Planejamento da Pesquisa

Um cenário de prática típico do ensino de Igbo envolve uma sessão em que docente e estudantes leem um excerto de um texto indicado e os estudantes respondem a perguntas correspondentes em voz alta ou por escrito. A seguir os estudantes entregam a tarefa à professora para atribuição de conceito. Na sessão experimental com a turma, a professora disse aos estudantes que a aula envolveria a leitura individual do excerto de um texto da literatura Igbo e que depois responderiam a perguntas específicas. Em outras palavras, foi adotado este método, com exceção de que o texto foi extraído da lenda Uremma para permitir que os estudantes assistissem ao filme Igbo Odum na Akwaeke, uma adaptação da lenda. Para garantir que todos os dezoito estudantes participassem do experimento, o texto digitado foi dividido e numerado em dezoito parágrafos. Foi dito a eles que iriam realizar um teste sobre o assunto em um fim de semana, ao invés de um dia letivo. Os estudantes foram informados de que cada um leria um parágrafo. Ao contrário do que era feito anteriormente, quando tinham permissão para ler em silêncio e responder às perguntas, foram informados de que leriam em voz alta para a professora avaliar sua fluência. A pesquisadora atuou como auxiliar de ensino da professora de Igbo, assumindo a condição de observadora. Ajudou a docente a distribuir as cópias impressas da lenda Uremma. A professora então designou cada estudante (seguindo a ordem na lista de presença) que leria a lenda e responderia às respectivas perguntas.

Durante a segunda parte do experimento, a pesquisadora ajudou a professora a instalar a televisão e equipamento audiovisual e preparar os estudantes para assistir Odum na Akwaeke. Depois, foi solicitado a eles que escrevessem o que compreenderam na língua Igbo, como o filme adaptou a lenda e quais partes tinham preferido e apreciado como um meio para aprender a língua e a literatura Igbo. A pesquisadora despendeu tempo para observar atentamente e gravar seus achados no decorrer da sessão de vídeo. A segunda sessão foi mais longa, pois cada uma das duas partes do filme tinha uma duração aproximada de 90 minutos.

Semelhanças e Diferenças nas Duas Narrativas Igbo

Embora tenha sido informado que a produção audiovisual Odum na Akwaeke é uma adaptação cinematográfica da lenda, a narrativa Uremma difere significativamente da produção Odum na Akwaeke em vídeo. Na lenda, Uremma casou com um píton disfarçado de ser humano, enquanto na adaptação em filme, Akwaeke casou com um espírito disfarçado de ser humano que continuava a devolver a diferentes donos invencíveis as partes do corpo tomadas de empréstimo. Estes atos tornaram-se sinais para Akwaeke e suas aias de que suas vidas estavam em perigo. Em segundo lugar, na lenda, Uremma embarcou na jornada para seu novo lar sozinha com seu marido, porém na adaptação em filme viajou com aias da realeza que perderam a vida antes de chegarem ao seu destino. Além disso, o Rei, pai de Uremma, contratou diversos profissionais para resgatar Uremma da prisão projetada pelo vingativo píton, enquanto em Odum na Akwaeke, Odum, um pretendente rejeitado por Akwaeke, se ofereceu para salvá-la do espírito de nome Ogbuagu. As semelhanças e as diferenças entre as duas narrativas geraram discussão e debate entre os estudantes e sua professora. Debateram sobre a relevância da história em um ambiente de cultura Igbo. Por exemplo, durante as seções de perguntas e respostas, a professora tentou fazer com que os estudantes identificassem a mensagem da história. Embora muitos concordassem que a narrativa condena o orgulho e a arrogância, reiteraram a necessidade da adoção de mara nga6 2 Mara nga significa literalmente “conhecer o lugar” na língua Igbo. É uma prática cultural que permite que a noiva faça uma visita breve ao lugar onde irá se casar antes da cerimônia de casamento para conhecer, compreender e avaliar se gostaria de viver permanentemente naquele ambiente. , uma prática tradicional na cultura Igbo. Muitos estudantes concordaram que a ausência de mara nga os fez duvidar da autenticidade da história como uma narrativa da cultura Igbo. Argumentaram que se Uremma ou Akwaeke tivessem visitado o lar de seu marido primeiro, todo o problema teria sido evitado. Algumas controvérsias geradas durante os debates estavam relacionadas a questões discutidas anteriormente em outro estudo (Ernest-Samuel, 2012).

Achados da Pesquisa com Base na Observação

Devido à declaração da professora durante o exercício de leitura de que a avaliação era um teste em aula, os estudantes compreenderam o exercício como uma parte obrigatória de seus exames. Isto influenciou o comparecimento de todos, embora muitos parecessem nervosos. A tensão desapareceu mais tarde. As observações a seguir foram feitas durante o período do experimento:

  • Durante a sessão de leitura (primeira parte da aula), oito dos dezoito estudantes saíram antes de sua vez de ler para irem ao banheiro. Dois adormeceram e tiveram que ser acordados por seus colegas. Isto poderia ser um indicativo de aborrecimento, nervosismo e/ou frustração.

  • Os estudantes não prestavam atenção. Muitos deles pareciam se concentrar na leitura à sua frente para assegurar a fluência, ao invés de se concentrar em escutar aqueles que liam.

  • Durante a sessão de perguntas e respostas, a maioria dos estudantes releu a história individualmente para responder de maneira adequada às perguntas. Isto prolongou a sessão de leitura do experimento. Consequentemente, a professora optou por ler a história inteira e sua ação afetou positivamente as respostas dos estudantes às perguntas orais que se seguiram.

  • Durante o filme, entretanto, os estudantes ficaram muito entusiasmados, independente da duração do filme.

  • Nenhum deles saiu para ir ao banheiro durante a sessão. Isto poderia ser atribuído à natureza envolvente do método audiovisual e ao interesse dos estudantes pela história.

  • Entoaram em voz alta as canções populares usadas como trilha sonora no filme; isto animou ainda mais o humor da turma.

  • Houve uma interrupção inesperada de eletricidade durante a sessão. O corte de energia elétrica foi recebido com gritos e suspiros de pesar pelos estudantes. Alguns se levantaram imediatamente para correr até o banheiro, enquanto a pesquisadora ajudava o segurança da escola a ligar o gerador. Esta situação demonstra que, embora os estudantes tivessem necessidade de ir ao banheiro, não queriam perder nenhuma parte do filme.

  • A sessão de perguntas e respostas foi altamente interativa. As perguntas relacionadas às diferenças entre a lenda original e a adaptação no filme geraram um debate acalorado na turma, o que permitiu que os estudantes exercitassem livremente a fala e o discurso em língua Igbo. Até mesmo a professora ficou entusiasmada com o resultado.

  • Quando foi solicitado aos estudantes que escrevessem o que aprenderam a partir do filme e da literatura popular, a turma se acalmou e entrou em um clima de avaliação, pois cada estudante se concentrou em escrever individualmente.

  • A sessão de vídeo correspondeu a um período de lazer para a professora, pois se concentrou em fazer anotações em seu diário de classe.

  • Foi observado que ela não conhecia em profundidade nem a literatura nem o ensino de estudos Igbo em geral, o que afetou sua confiança perante os estudantes, e confirma a observação de Chapoo et al. (2014CHAPOO, Suriya et al. Biology Teacher’s Pedagogical Content Knowledge in Thailand: Understanding & Practise. Procedia - Social and Behavioral Sciences, Elsevier, v. 116, p. 442-447, 2014., p. 442) de que “o êxito da reforma educacional depende da qualidade dos professores”. Entretanto, esta insuficiência não ficou evidente durante a apresentação do filme. Isto implica que a adoção de recursos audiovisuais como componente da pedagogia de línguas poderia apoiar os professores com pouco treinamento.

  • Foi notável observar que tanto a professora como os estudantes interagiam à vontade e com tranquilidade em língua Igbo ao discutirem o filme nesta língua, embora fosse tecnicamente difícil para todos discutirem a literatura popular Igbo nesta língua durante a sessão de leitura. As respostas durante a leitura foram precisas. Isto é um forte indicativo de que a produção em filme tem potencial para influenciar a língua falada mais do que um texto ou literatura por escrito.

  • A observação geral a partir do estudo indica que há uma conexão entre o maior desejo dos estudantes de aprender com métodos audiovisuais em vez de usar métodos por escrito. A reação dos estudantes ao método audiovisual poderia ser interpretada como se a apresentação audiovisual da língua e da literatura Igbo funcionasse de maneira semelhante à tradição oral em termos de sua impressão duradoura sobre os estudantes. Além disso, sugere que a tradição oral não deveria ser considerada obsoleta ou desatualizada, pois afeta e influencia positivamente a valorização da língua e da literatura Igbo entre os estudantes.

Achados com Base nas Entrevistas

A maior parte dos excertos de entrevistas selecionados como achados forneceu insights sucintos para os pontos principais deste estudo e fortalece sua contribuição ao discurso da língua e do estudo literário. Por exemplo, durante uma entrevista, a professora admitiu que aprendeu com o experimento como um todo.

Este método de ensino abriu meus olhos para questões que eu nunca tinha imaginado. Embora ler ajude a desenvolver a perspicácia da leitura nos estudantes, não atrai o desejo nem a curiosidade que eles precisam ter para manter o interesse por falar, ler e escrever em Igbo, o que é significativo para um professor de estudos Igbo. Este fato singular coloca a produção audiovisual à frente do ensino convencional praticado aqui na Nigéria (excerto de entrevista).

Esta observação destaca a utilidade e a importância deste estudo, ressaltando a conexão entre o maior uso de métodos audiovisuais e o método por escrito. A professora admite que embora a leitura individual pelos estudantes seja importante, particularmente durante os exames em aula, a leitura em voz alta como foi feita durante a aula experimental é melhor e os ajuda a aprenderem a pronúncia e a verbalização da língua. De acordo com ela, é inútil ensinar língua e literatura Igbo se o estudante não ler e não compreender como a língua é pronunciada. “A produção audiovisual permitiu que os estudantes escutassem os personagens conversando em Igbo e, assim, os ajudou a aprender a pronunciar palavras nesta língua” (excerto de entrevista). Além disso, a produção audiovisual poupa o professor do estresse e da “dor de cabeça de gritar, reler e ir para frente e para trás na leitura” (excerto de entrevista). Também é muito importante que a professora tenha admitido que o filme “empodera o professor com um rico material e questões para discutir não apenas sobre a língua e a literatura Igbo, mas também a vida e a cultura Igbo” (excerto de entrevista). Por outro lado, permite que os estudantes sejam independentes em seu exercício de aprendizagem e se sintam mais relaxados. Portanto, a professora considerou a produção audiovisual como uma criação interessante porque é “um recurso de ensino facilitado” (excerto de entrevista).

Para os estudantes, a produção em filme “quebra a monotonia de se sentar para escutar pronúncias erradas” (excerto de entrevista). Isto pode ser avaliado e comparado aos estudos de Amaechi (2013AMAECHI, Jerome. Students’ Perspectives on English-Only Instruction: A Study of Three Junior Secondary Schools in Eastern Nigeria. Michigan: Proquest Dissertation Publishing, 2013.). Um dos estudantes captura o sentimento geral de todos eles nas seguintes palavras:

Estamos acostumados a ler os exercícios diariamente em nossas aulas de Igbo. Acho que isso é um dos motivos pelos quais muitos de nós nos entediamos com facilidade e até mesmo dormimos na aula. Ler é monótono, especialmente quando as passagens (narrativas) não envolvem canções populares ou recursos visuais. Mas a adaptação em filme foi emocionante e nos ofereceu uma variação, o que a torna mais interessante. Se a língua e a literatura Igbo forem ensinadas desta maneira todos os dias, nenhum de nós fugirá delas (excerto de entrevista).

É consenso geral entre os estudantes que o método de assistir um filme é altamente educativo, experiencial e requer menos orientação. Também oferece ao professor a oportunidade de observar, acompanhar e fazer anotações sobre áreas importantes de discurso e/ou debates. Ao fazê-lo, oferece aos estudantes a oportunidade de discutir a língua e a cultura Igbo nesta mesma língua.

Aspectos Contraditórios da Resolução de Problemas Identificados no Estudo

Como este método pedagógico oferece às pessoas "vivências úteis e relevantes a partir da vida fora da sala de aula” (LSIS, 2009LSIS. Learning & Skill Improvement Service. Ten Pedagogy Approaches - Equality and Diversity Quick Start Guide. 2009. , p. 1) através das lentes de uma produção audiovisual, é significativo porque aproveita diversas abordagens pedagógicas, como aprendizagem experiencial, e-learning, learning conversation7 3 N. T.: Learning conversations é uma técnica que coloca no centro a perspectiva de quem aprende, não do docente. Valoriza as vivências e as ideias do estudante, permitindo que o processo de aprendizagem inicie a partir do aprendiz, não do que o/a professor/a pensa que deveria ser [The Quality Improvement Agency for Lifelong Learning (QIA) 2008]. e aprendizagem multissensorial. Entretanto, o principal problema ao adotar o método de assistir um audiovisual é que consome tempo. É necessário destinar mais de duas horas para ensinar uma disciplina em um dia, o que pode afetar o tempo para outras disciplinas a serem lecionadas na periodicidade apropriada. A maioria das aulas nas escolas de ensino secundário na Nigéria é desenvolvida em períodos de 45 minutos (Okeke, 2003OKEKE, Matthew O. Nigerian Educational Curriculum: issues and prospects. Owerri: Roban Publishers, 2003. ). Uma produção em filme de uma parte dura pelo menos 90 minutos, significando que uma sessão audiovisual ocupará um período para duas disciplinas. Isto pode interferir adversamente no tempo disponível no calendário letivo.

Para países em desenvolvimento como a Nigéria, que sofre de um fornecimento de energia elétrica que não é confiável, uma metodologia como esta poderia tornar-se cara e problemática e exigir um custo adicional para fornecer combustível aos geradores de eletricidade na escola, pois as escolas interessadas em adotar o método precisariam ter este equipamento disponível em caso de interrupção do fornecimento de eletricidade. Fundamentalmente, significa que a gestão da escola precisaria equipar as salas de aula com aparelhos de televisão e equipamento audiovisual, além de contratar técnicos para instalar e operar o equipamento.

Um método pedagógico como este pode ser controverso entre os proponentes da decolonização, como Mbembe (2015MBEMBE, Achilles. Decolonizing Knowledge and the Question of the Archive. 2015. ), que acreditam que a sala de aula é um local de decolonização. Contudo, falam em usar métodos de acesso, o que permitiria que os africanos considerassem o conhecimento como seu ou nativo. Assim, na medida em que os africanos desencadeiam e promovem conversas e debates sobre decolonização (Pietersen; Paresh, 1995PIETERSEN, Jan Nederveen; PARESH, Bhikhu. The Decolonization of Imagination: culture, knowledge and power. London: Zed Books, 1995.), este método pode ser criticado por adotar tecnologia e instrumentos coloniais como sua ferramenta de propagação e decolonização da aprendizagem e do conhecimento nativos. Entretanto, o método audiovisual de ensinar uma lenda Igbo como literatura reinventa uma sala de aula sem parede que se estende à imaginação dos estudantes e de sua professora, na qual ambos são coaprendizes, conforme Mbembe recomenda. Isto o torna relevante em salas de aula africanas.

Conclusão

Este estudo contribuiu para o discurso sobre o valor da tradição literária no estudo da língua e da literatura Igbo. Demonstrou que assistir a produções audiovisuais possui muitas vantagens tanto para o professor como para os estudantes. Apoia a ideia de que despertar o interesse de crianças e jovens pela língua e literatura Igbo e outras línguas locais exige que os professores revisitem sua abordagem para ensiná-las. Assim, ao planejar seus exercícios, os professores precisam igualmente pensar em incluir recursos audiovisuais em estudos de idiomas, pois têm o potencial de aumentar o interesse da juventude pela aprendizagem de línguas e literaturas locais.

Apêndice

Versão da lenda Uremma na língua Igbo, conforme está publicada em Nza na Obu 8 4 A lenda foi publicada em muitas outras antologias da literatura Igbo, numerosas demais para serem mencionadas. , 9 5 A tradução em inglês consta no apêndice após as referências. O filme Odum na Akwaeke pode ser acessado em: <https://files.ng/view/movie/odum-na-akwaeke-1-2>.

1. Na mgbe gara ga, otu eze di onye bukwa nwoke siri ike n’ala, rue ihe eji okorobia eme. Ego wuru ya ahu, n’ihi na onye o bula kelere ya ekele, o nye ya ego hiri nne. Ma ihe na-eme ka obi ghara idi ya uto bu na o mutaghi nwa nwoke. Otu nwa naani o nwere bu Uremma bu nwanyi. Uremma bu anyanwu ututu, mba niile makwaara na o mara mma nke uku na-enweghi ihe eji atunyere ya. Eze di ya n’onu na enwu ka ola ocha. N’ihi ya, isi ebue ya, onaghi ahukwa mmadu; nganga eju ya obi. Nne ya bu onye gara ijisi ike dua ya odu, nwuru mgbe Uremma najubeghi ara.

2. Umu okorobia mara mma biara ka ha luo ya, ma o kwetaghi. Ma ndi bara uba, ma ndi dara ogbenye. Onye si ebe o si puta, ya abia ka o lee ma Uremma ma o ga-ekwe lua ya. Mgbe ike gwuru ha ibia, mma ya apua ha n’anya, onye joro njo ga-aka ya mma, ma o bula si na onye ahu di ka ikwighikwighi. Mgbe mma ya na ewu-ewu, umu anumanu niile makwaara na Uremma mara mma. Ufodu n’ime ha dika Agu biakwara ilu ya, ma agbogho ahu ekwetaghi. Otutu umu nwoke ndi Uremma juru ilu nwuru n’ihi obi mgbawa.

3. Anu uku ahu ana-akpo eke wee nu ihe a. o wuta ya n’obi nke mere oji kpebie n’obi ya si, “Agam aluriri Uremma, kam kuziere ya ka o ghara ikpa nganga ozo, agarakwa ime ka umu nwoke anyi nwusisia. Ya etolie ghoo mmadu, mee onwe ya ka o maa maa; gaa n’ulo eze. Mgbe o ruru n’ulo ogo ya nwoke, Uremma agbaputa, daa n’ala riowa ya ka o luo ya, kporo ya na-akwughi ugwo o bula kama ime ka obi gbawaa ya. Onye no ebe o bula ono ya nu na Uremma luru di, ya akpoo mkpu. Ndi ulo eze na-anuri onu na ada eze luru di, ma asi na ha maara, ha agaghi ekwe ka eke luo nwa ha, kporokwa ya laa.

4. Mgbe ha mesiri omume di n’ilu nwaanyi, eke ejikere ikporo nwunye ya laa. O gwara ogo ya nwoke si na ya bafere uba oke, ya bu na o baghi uru ka o due ada ya ulo ebe ya nwere karia nke ga-ezuru ya na nwunye ya. Ebe eze tukwasiri ogo ya obi, o kwenyeere ya, Eke wee kporo Uremma laa. Ije ha dikwa ogologo, n’ihi na ha gafere osimiri ukwu asaa, oke ohia asaa, na ozara asaa tutu ha erue ulo eke n’akuku mmiri. N’ogologo ije ha nile, o dighi mgbe eke ahu nyere Uremma ma o bula aku ka o taa, ma ya fodu inye ya mmiri ka o nua.

5. Oge ha laruru, eke ahu asi Uremma, “Nwaanyi di mma, bia baa n’ulo mgbede gi ebe I ga-ano ma abuba”. Ulo ebe o bi nwere mgbubi asaa. Nke o bula n’ime ha nwere ihe eji atuchi ya. Ha nile dikwa n’otu ahiri. Eke akporo Uremma, tinye ya na nke ikpe-azu, ya bu n’onu nke asaa, tuchichaa ha niile, loo mkpuru uzo n’afo ya ghokwaa anu, baa na mmiri ha biri. O kwadebere ka o mee Uremma ka o taa ahu, ka o wee nwee ike rie ya. O noo ihe di ka abali abua, o gaa lee ma o taala ahu, mgbe o ruru, o si ya, “Isikwa na aha gi bu Uremma? Eze nwanyim, mgbem luru gi, I joro njo, ma ugbua, o dighi ihe eji atunyere gi na mma n’elu uwa”. Onye o na-agwa ihe a bu naani okpokoro isi, anya adaala a n’ekwu, ezi ka ya ocha. Odighi asa ahu, ukwu ya adighi aputa ezi. N’ezi okwu, Uremma no na mgede, ma ihe mere bu na anya mmiri gwuchara ya n’anya oge ahu.

6. Akwa Uremma na-akwa meturu nna ya n’ahu n’ihi na izu asato agafeela, ma omataghi ma nwa ya ma odi ndu ma o nwuru anwu. N’ihi ya eze achowa ndi ga eje ichota ebe ada ya no. ya agaa n’aja. Ogba aja agwa ya si na nwa ya no na-ata ahuhu na-enweghi odidi. Eze akua ekwe, kpotachaa ndi siri ike bukwa dimkpa n’ala ya, kwe ha nkwa inye ha akuku ala eze ya ma o buru na ha achota Uremma. N’ime ndia o kporo bu onye na-ezu ohi, onye oka osisi, onye ohu-uzo, onye na anya ugbo, na onye na agba egbe.

7. N’ime ndi a nile o kporo, o nwere ike iriba ama di n’omume ha nile. Onye na-ezu ohi nwere ike gaa n’ulo mmadu, onye nwe ulo ahu ga na ele ya anya ya enwerecha ihe o choro pua. O hu uzo ga ahu ihe di anya site n’ebe o bula o no. onye oka osisi nwere ike ilu ugbo na-ejighi ntu o bula; onye na -anya ugbo, ga enwe ike nyaa na-ejighi amara-ugbo; onye na-agbakwa egbe nwekwara ike gbagbue onye iro ya ma o jighi mgbo. Umu nwoke ndi a gara ichota Uremma n’ihi na ihe ha juru eze afo. Ha gara ije izu abua rue be eke n’ihi na ha mere ka ha gaa ngwa ngwa tupu eke erie ada eze ha riri mma.

8. Mgbe ha ruru, eke no n’akuku mmiri na-ezuru ike, na-ele ha anya. Mgbe ugbo ha kwusiri, onye ohi aputa ilu olu ya, o meghepu onu eke, tinye aka n’afo ya, weputa mkporo uzo, ga meghee ulo ya niile, kpoputa ada eze. Anya ha huru Uremma gbaputara ha anya mmiri, o rikwara ha onu. Ma oge adighi maka iju ajuju. Onye ohi ahu ewere kwa mkporo uzo ahu tinye kwa eke n’onu ya kporokwa nwa ahu, onye obula gosiri ihe obula o mutara. Mgbe ha jere ije otu ubochi, eke ahu abia mata iwi wiri ya na ihe ojoo mere ya, na mmadu biara n’anya ocha bia nara ya nri dabatara ya n’onu. Ebe o toro ogologo, igwu mmiri araghikwa ya ahu, ochusobe ndi iro ya, ndi biara icho onwu ya.

9. Onye ohu uzo, mgbe eke ahu no na nkume uzo isii, o gwa ndi ha na ya so, si na eke bulitere isi ya n’elu mmiri wee hu ebe ha no. mgbe eke ahu biaruru ugbo ha, o were odu ya piwaa ugbo ahu. Otu oge ahu onye egbe agbaa tuwii na-ejighi mgbo, onye oka osisi akua “dai, dai, dia” na ejighi ntu, onye na-anya ugbo egosi na o ma olu ya n’ezie.

10. Otua ka ha na eke lugidere ogu rue mgbe ha gafechara oke osimiri asaa ahu di n’uzo. O rue mgbe ha bara n’oke ohia na eke ahu ghoro odum na emenye ha ujo n’ahu.

Ndi olu ha kasi mkpa n’oge ahu bu onye egbe na onye ohu-uzo. N’ozara kwa, eke ahu ghooro ntakiri anu mere ogwu ogwu na-akpagbu Uremma, n’emepu ya obara n’ahu. Ma ha jiri ike, bu umu nwoke n’etiti ndu n’onwu, kpolatara eze ha ada ya.

11. Mgbe ha ruru ulo, eze wee kpoo oriri, na agba egbe, I baa n’obi eze, o buru anuri. Ha kutere efere mmiri asaa buru ibu, otu ogoro ncha na ogbo buru ibu wee saa Uremma ahu site n’ututu rue n’anyasi ka elee ma oga-adi ocha di ka o di na mbu.

12. N’ikpe-azu, oge emechara emume ahu, ndi gara kpolata Uremma biara n’ulo eze ka o mezue nkwa o kwere ha. Eze nyere ha otu uzo n’ime uzo ato ala eze ya na n’ihe nile o nwere. Esemokwu wee putara ha, n’ihi na onye o bula n’ime ha chere na olu nke o luru kasi mkpa.

13. Ha wee kpo ikpe ubochi a ga-abia ka ekee ihe eze nyere ha. Mgbe ha nile zuru, onye ohi ebilie si, “Umunna m, unu ma na ihe a kporo izu ohi abughi ntakiri olu. O bu olu choro dimkpa. Leenu, agaram, weputa mkpuru uzo meghee uzo, kpoputa Uremma. O buru na ejisighim ike zute mkporo uzo n’afo eke, olee uzo unu gara isi kpota ada eze?

14. Echere m si na emeela m ka okorobia, ya bu n’oke nkem, kasi nke ndi ozo.” Onye ohu uzo ataa ikiriki eze, bilie si, “Ndi amala, ndewonu. Anurum ihe nwannem bu onye ohi kwuru. O bu eziokwu na o mere ihe siri ike, ma asi na anyi na-alata, ahughi m eke ahu, ghara ikara ha ka ha jikere, echerem na anyi gara ino n’ime mmiri ugbua. Nke a gosiri na m zoputara ndu ha mile.

15. Ogba egbe asi, “Ndi nile na-achu nta n’ime umu mara otu o si ara ahu igba egbe ma ewere mgbo. Umunnem, unu ahula onye ola di mbu agba egbe na ejighi mgbo? Ya bu unu kwusia nke unu, o buru na unu ekpetaghi onum, agahim ekwe!”

16. Onye oka osisi, odighi ya nke ibili oto, onodu ebe o no si, “Unu umuntakirim, obughi agadi di kam ga-anodu bia itufu oge. Onye o bula ahula nam mere ka unu ghara inwu na mmiri mgbe eke jiri odu ya piwa ugbo. Ya mere, obughi oke ihe ma unu si m kam werechaa ihe nile eze nyere anyi.” Onye na-anya ugbo asi, “N’eziokwu nile, ahurum ntim anya n’inya ugbo. Lee otu aka m di mmiri eribesiela ya. O buru na unu enyem ihe nochiri mkpisi aka irim, o zuerelam.”

17. Ndi eze ikpe amaghi onye ha ga enye ihe nke ka. Eze aputa, tulee ihe nile ha mere; ka e wee kwusi esemokwu, owere aka ya kee ihe nile ahu uzo ise, umu nwoke ahu ewere obi ocha nara oke o bula nke o nyere ha. Emesia, onye gbara eze aja aputa si, “O kechara oke fodu bu iro. Eze nyekwam oke ruru m, n’ihi na emerem gi ihe oma.” Eze kwe n’isi si na obu eziokwu, nyetukwa ya ihe nke ruru ya.

18. Site n’ubochi ahu Uremma akpaghi nganga ozo. Emesia o lua di, muta umu abua, kpo otu Ngangaebeela, nke ozo bu Iheonunekwu. Uremma hukwa onye na-akpa nganga, o si ya, “Nwa nnem, biko, kwusi nganga ihe mere Uremma emee gi.” Chakpii! Woo! O gwuchaala.

Tradução da lenda Uremma em português, a partir da versão em inglês no original

1. No passado, havia um Rei muito forte e respeitado. Era tão rico que oferecia dinheiro generosamente a qualquer um que o saudasse. A única coisa que o deixava triste é que não tinha nenhum filho homem. Sua única filha era uma menina chamada Uremma. A beleza de Uremma era incomparável no país. Tinha os dentes mais brilhantes do mundo. Em razão disso, era muito orgulhosa e arrogante. Sua mãe, que teria sido uma boa influência e conselheira, morreu quando Uremma ainda estava sendo amamentada.

2. Ela recusou todos os atraentes pretendentes que queriam desposá-la, tanto os ricos como os pobres. Pessoas de todas as camadas sociais vieram propor casamento a ela, mas recusou todas as propostas. Quando cansaram de vir, passaram a ignorar sua beleza. As feias, até mesmo aquelas que eram parecidas com uma coruja, pareciam melhores. Enquanto sua beleza reinava, até mesmo os animais sabiam que Uremma era extremamente bonita. Alguns deles, como um leão, também vieram para desposá-la, mas ela recusou. Muitos dos pretendentes que ela recusou morreram de coração partido.

3. Um animal grande chamado píton ouviu falar disto. Causou-lhe tamanha aflição que concluiu, “Preciso casar com Uremma para que eu a ensine a não ser arrogante de novo nem levar nossos jovens à morte”. Transformou-se em um ser humano deslumbrante e foi ao palácio de Eze. Quando lá chegou, Uremma saiu e caiu no chão suplicando a ele para desposá-la sem pagar seu dote, ao invés de deixá-la morrer com o coração partido. Quando as pessoas souberam que Uremma tinha se casado, estremeceram. A família real ficou feliz porque finalmente a Princesa tinha se casado, mas se soubessem, não teriam permitido que um píton se casasse com a Princesa e a levasse para sua casa.

4. Quando os ritos matrimoniais terminaram, o píton estava pronto para levar sua esposa para casa. Disse ao seu sogro que era muito rico e, portanto, não precisava de nada dele, pois possuía o suficiente para ambos. O Rei confiou em seu genro e concordou. Então o píton levou Uremma para casa. Foi uma viagem muito longa, pois cruzaram sete rios, sete florestas e sete desertos. Durante aquela longa jornada, o píton não ofereceu a Uremma nem nozes para comer nem água para beber.

5. Quando chegaram em casa, o píton disse a Uremma, “Linda mulher, entre em seu quarto nupcial, onde será engordada”. A casa tem sete saídas e cada uma tem uma chave. Todas estão em presas em um cordão. O píton manteve Uremma na sétima e última porta e trancou a entrada. Engoliu a chave e depois mergulhou no rio para lá viver. Seu plano era fazer Uremma emagrecer para conseguir engoli-la. A cada dois dias, ele vai examiná-la. Quando chega lá, diz a ela, “Você disse que seu nome é Uremma? Minha Rainha, quando me casei você era feia, mas agora você é incomparável no mundo inteiro”. Entrementes, a pessoa com quem falava era apenas um esqueleto, com olhos fundos e tão suja quanto um porco. Não toma banho nem sai. Uremma sentia um profundo pesar e dor, mas não conseguia chorar porque as lágrimas já tinham secado de seus olhos àquela altura.

6. O sofrimento de Uremma afetou seu pai, que teve uma premonição, visto que já tinham se passado mais de oito semanas desde que teve notícias dela, e assim não sabe se estaria viva ou morta. Consequentemente, o Rei começou a buscar alguém que procurasse por sua filha. Foi a um vidente. O vidente informou a ele que sua filha estava passando por um grande e indescritível sofrimento. O Rei convocou todos os tipos de homens na terra por intermédio de um arauto e prometeu dividir e compartilhar parte de seu reino se resgatassem Uremma. Entre os homens selecionados para a aventura havia um ladrão, um escultor, um observador, um condutor de barcos e um atirador.

7. Cada um destes homens é incrivelmente talentoso naquilo que faz. O ladrão pode se esgueirar furtivamente na casa de alguém; o proprietário pode estar olhando para ele enquanto rouba e sai. O observador consegue ver claramente a qualquer distância. O escultor pode esculpir um barco novo com facilidade sem usar pregos. O condutor de barcos pode conduzir o barco sem remos. O atirador pode matar um inimigo sem usar uma bala. Estes homens partem em busca de Uremma porque o Rei confia neles. Demorou duas semanas para chegarem à casa do píton porque tinham pressa para resgatar Uremma antes que o píton a engolisse.

8. Quando chegaram, o píton estava descansando perto da margem do rio e olhando para eles. Quando o barco parou, o ladrão desceu para praticar sua arte. Abriu a boca do píton e introduziu sua mão até o estômago dele para retirar a chave das portas. Abriu todas as portas e tirou a princesa para fora. Estavam quase chorando quando viram Uremma. Ficaram sem palavras. Não havia tempo para perguntas. O ladrão colocou a chave de volta na boca do píton e levou a moça embora. Todos os homens exibiram suas artes. Quando tinham viajado por um dia inteiro, o píton começou a se dar conta de sua perda infeliz. Com seu comprimento, nadar não era um problema. Começou a perseguir seus inimigos que o queriam morto.

9. Quando o píton estava seis mares adiante, o observador viu sua cabeça quando nadava na direção deles e alertou seus colegas. Quando o píton chegou bem perto, quebrou o barco com um golpe de sua cauda. Imediatamente, o atirador o alvejou sem nenhuma bala. O escultor conserta o barco com “dai, dai, dia” sem nenhum prego. O condutor de barcos rema com perícia para mostrar excelência em sua ocupação.

10. Mantiveram sua fé até terem cruzado os sete mares. Quando entraram na enorme floresta, o píton se transformou em um tigre para assustá-los. As pessoas com as tarefas mais significativas são o atirador e o observador. No deserto, o píton se transformou em um pequeno porco-espinho e perfura o corpo de Uremma, fazendo-a sangrar. Entretanto, os homens deram o seu melhor para assegurar-se de que trariam a princesa de volta para seu pai.

11. Quando chegaram em casa, o Rei organizou um banquete. O palácio se encheu com a rica celebração e canhões foram disparados em comemoração. O Rei estava radiante. Buscaram sete bacias grandes de água, uma longa barra de sabão e uma esponja para banhar Uremma desde a manhã até a noite para tentar deixá-la tão esplendorosa como antes.

12. Finalmente, quando ele encerrou a comemoração, os homens que saíram em missão vieram ao Rei para que cumprisse sua promessa. O Rei deu a eles um terço de seu reino. Houve discordância porque cada um achava que sua tarefa era mais importante do que a dos outros.

13. Juízes foram chamados para auxiliarem na partilha das recompensas. Quando se reuniram, o ladrão se levantou e disse, “Meus conterrâneos, vocês sabem que roubar não é uma tarefa fácil. É uma tarefa que exige bravura. Vejam, fui e roubei a chave e resgatei Uremma. Se eu não tivesse roubado a chave que tinha sido engolida pelo píton, como teríamos retirado a princesa?

14. Acho que agi como um bravo, significando que minha parte deve ser maior do que a de todos os demais”. O observador rangeu os dentes, se levantou e disse, “Anciões de nossa terra, escutei o que meu irmão, o ladrão, disse. É verdade que ele fez um ótimo trabalho, mas se, quando estávamos retornando, eu não tivesse olhado, visto o píton e avisado os demais, acredito que estaríamos naquele mar agora. Isto demonstra que eu salvei a todos nós”.

15. O atirador disse, “Quem é caçador sabe como é difícil disparar uma arma usando balas. Meus conterrâneos, vocês já viram alguém que dispara sem usar balas? Portanto, se após seus comentários, sua decisão não me favorecer, não irei concordar!”.

16. O escultor não queria se levantar para falar. Sentado em seu assento, disse, “Meus filhos, um idoso como eu não irá desperdiçar tempo. Todos viram que possibilitei que vocês não se afogassem no mar quando o píton quebrou o barco com sua cauda. Portanto, não é nada demais se todos concordarem em permitir que eu me aproprie de tudo que o Rei nos deu”. O condutor de barcos disse, “Na verdade, me vi no inferno ao remar o barco. Vejam como estão as palmas de minhas mãos. A água as maltratou. Se eu receber o que substitui adequadamente meus dez dedos, é o bastante para mim”.

17. Os juízes não sabiam a quem dar uma parte preferencial. O Rei chegou e examinou o caso e dividiu pessoalmente o quinhão em cinco partes. Os homens aceitaram com boa vontade os quinhões alocados a eles. Mais tarde, o vidente veio e disse, “Aquele que dividiu e deixou alguém de fora o fez de má fé. Nosso Rei, dá-me meu próprio quinhão porque eu fiz um favor ao senhor”. O Rei balançou a cabeça, concordando que ele tinha dito a verdade, e deu-lhe seu quinhão.

18. Daquele dia em diante Uremma não demonstrou mais orgulho. Mais tarde, casou-se e teve dois filhos. Um recebeu o nome de Ngangaebeela (O orgulho terminou) e o segundo de Iheonunekwu (O que a boca diz). Quando Uremma vê um conterrâneo orgulhoso e arrogante, diz, “Meu filho, controle seu orgulho para que não tenha o destino de Uremma”. Chakpii! Woo! Fim.

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  • 1
    Disponível em: <https://edtechnow.tech/2013/05/12/pedagogy/>.
  • 2
    Mara nga significa literalmente “conhecer o lugar” na língua Igbo. É uma prática cultural que permite que a noiva faça uma visita breve ao lugar onde irá se casar antes da cerimônia de casamento para conhecer, compreender e avaliar se gostaria de viver permanentemente naquele ambiente.
  • 3
    N. T.: Learning conversations é uma técnica que coloca no centro a perspectiva de quem aprende, não do docente. Valoriza as vivências e as ideias do estudante, permitindo que o processo de aprendizagem inicie a partir do aprendiz, não do que o/a professor/a pensa que deveria ser [The Quality Improvement Agency for Lifelong Learning (QIA) 2008].
  • 4
    A lenda foi publicada em muitas outras antologias da literatura Igbo, numerosas demais para serem mencionadas.
  • 5
    A tradução em inglês consta no apêndice após as referências. O filme Odum na Akwaeke pode ser acessado em: <https://files.ng/view/movie/odum-na-akwaeke-1-2>.
  • Este texto inédito, traduzido por Ananyr Porto Fajardo, também se encontra publicado em inglês neste número do periódico.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Jan 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    16 Abr 2018
  • Aceito
    17 Set 2018
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