Acessibilidade / Reportar erro

Notas sobre a "Arte como Veículo" e o Ofício Alquímico do Performer

Notes about "Art as a Vehicle" and the Alchemical Craft of the Performer

Notes sur "l'Art comme Véhicule" et le Métier Alchimique du Performer

RESUMO

O artigo aborda como Grotowski pensa o ofício do performer inspirando-se no diálogo com tradições espirituais. Concentro-me em alguns conceitos e metáforas presentes na sua pesquisa sobre a verticalidade, em especial a ideia da transformação da experiência grosseira numa experiência sutil. Estabeleço comparações com alguns princípios alquímicos e discuto o uso de símbolos como o da escada de Jacó, nos seus trabalhos. Por fim, abordo as relações entre estrutura e espontaneidade.

Palavras-chave:
Grotowski; Verticalidade; Awareness; Alquimia; Ofício Teatral

ABSTRACT

The article discusses how Grotowski thinks the craft of the performer inspired by the dialogue with spiritual traditions. I focus on some concepts and metaphors found in his research about verticality, especially the idea of transforming a common experience into a subtle one. I establish comparisons with some alchemical principles and discuss the use of symbols such as Jacob's ladder in his work. Finally, I approach the connection between structure and spontaneity.

Keywords:
Grotowski; Verticality; Awareness; Alchemy; Theatrical Work

RÉSUMÉ

L'article explique comment Grotowski repense le métier du performer inspiré du dialogue avec les traditions spirituelles. Je me concentre sur des concepts et des métaphores présents dans ses recherches sur la verticalité, en particulier sur l'idée de transformer l'expérience brute en expérience subtile. Par ailleurs, j'établis des comparaisons avec certains principes alchimiques et discute l'utilisation, dans ses travaux, de symboles tels que l'échelle de Jacob. J'examine enfin la relation entre la structure et la spontanéité.

Mot-clés:
Grotowski; La Verticalité; Awareness; l'Alchimie; l'Artisanat Théâtral

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Referências

  • ARTAUD, Antonin. O Teatro e seu Duplo. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
  • BOURRIAUD, Nicolas. Formas de Vida: a arte moderna e a reinvenção de si. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
  • BURKHARDT, Titus. Alquimia. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1991.
  • ELIADE, Mircea. Ferreiros e Alquimistas. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
  • GUÉNON, René. La Grande Triade. Paris: Gallimard, 1957.
  • GROTOWSKI, Jerzy. O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski. São Paulo: Perspectiva, 2007.
  • JUNG, Carl Gustav. Psicologia e Alquimia. São Paulo: Vozes, 1990.
  • LIMA, Tatiana Mota. Conter o Incontível: apontamentos sobre os conceitos de estrutura e espontaneidade em Grotowski. Revista Sala Preta, São Paulo, n. 5, p. 47-67, 2005.
  • MÈREDIEU, Florence. Eis Antonin Artaud. São Paulo: Perspectiva. 2011.
  • SCHINO, Mirella. Alquimistas do Palco: os laboratórios teatrais na Europa. São Paulo: Perspectiva, 2012.
  • 1
    Nesse sentido, Bourriaud alia-se a autores como Jürgen Habermas, que criticam a proposição do conceito de uma pós-modernidade que se distinguiria do período moderno.
  • 2
    Como observa a biógrafa Mèredieu (2011), da geração dos surrealistas, Artaud foi aquele que tentou ir um pouco mais a fundo no tema do esoterismo, dedicando-se a leitura de obras de René Guénon, apesar de não ter absorvido a crítica radical que este dirige ao "ocultismo". Bréton, por exemplo, tinha uma relação mais estética e superficial com esse tipo de assunto, no qual buscava, sobretudo, o sentimento do "maravilhoso".
  • 3
    Leszek Kolankiewicz, professor da Universidade de Varsóvia e colaborador de Grotowski na pesquisa do Teatro das Fontes, aborda especificamente a questão da alquimia no trabalho deste, na conferência de Aarhus, realizada em 2004. Para o pesquisador, a ideia de "Laboratório" no teatro de Grotowski deve ser entendida como "laboratório alquímico". A este respeito ver Schino (2012, p. 24-37).
  • 4
    É importante ressaltar que, em Grotowski, a ideia de "princípios comuns" subjacentes às técnicas é distinta das formulações de Eugenio Barba e da "Antropologia Teatral" que, a meu ver, tendem a biologizar os "princípios".
  • 5
    O conceito de "sophia perennis" é desenvolvido de distintos modos por diferentes autores (Aldous Huxley, René Guénon, Fritjof Shuon etc) e escolas, postulando basicamente a existência de uma sabedoria universal, subjacente às tradições espirituais, de uma unidade transcendente das religiões, encontradas, sobretudo, na expressão mística.
  • 6
    Tal postura lhe rendeu críticas a respeito da real compreensão das tradições de que se serve para construir seu trabalho.
  • 7
    As críticas de Grotowski ao ecletismo e a busca da incorporação das novas mídias pode ser aplicada a várias propostas da época.
  • 8
    O símbolo da "escada de Jacó" é muito utilizado pelas escolas Maçônicas, que se originaram das corporações de ofício medievais e enfatizam, por isso mesmo, os simbolismos da "construção".
  • 9
    A alusão à técnica surrealista da "escrita automática" parece-me adequada nesse caso, já que nela também pretende-se suspender a "censura racional" dando vazão ao jorro dos pensamentos e imagens.
  • 10
    Nessa linha, alguns atores costumam se utilizar hoje de práticas autointituladas de "meditação ativa", como parte de seus treinamentos. A discussão crítica dessas práticas não poderá ser feita aqui.
  • 11
    O desenvolvimento dessa argumentação deve-se muito ao meu estudo e minha prática de meditação no Budismo. Aproximo aqui o conceito de awareness ao conceito de mindfullness ou "plena atenção", utilizado no Budismo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2013

Histórico

  • Recebido
    05 Out 2012
  • Aceito
    28 Dez 2012
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Av. Paulo Gama s/n prédio 12201, sala 700-2, Bairro Farroupilha, Código Postal: 90046-900, Telefone: 5133084142 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: rev.presenca@gmail.com