Sobre a microestrutura em dicionários semasiológicos do alemão
Meinem Heidelberger Freund Dieter Lobeck in memoriam
recebido em 05/08/2009 e aceito em 27/09/2009
1 Introdução
2 Sobre o conceito de microestrutura
3 Análise
4 Conclusões
According to the metalexicographical theory, there are three main components in a semasiological dictionary: macro-, micro- and middles structure. The aim of this article is to describe and analyze the microstructure of three general semasiological dictionaries of the German language. As methodological framework, it takes in account the distinction between formal and semantic comment and between definition and density of the constant information program.
Keywords:german language; semasiological dictionary; microsturcture.
Em um trabalho anterior[1], afirma-se que é possível falar em uma “deutsche Wörterbuchlandschaft”, tanto pela diversidade como pela qualidade dos dicionários que a tradição lexicográfica alemã oferece.[2] A essa práxis lexicográfica é necessário acrescentar também a reflexão teórica sobre o fazer lexicográfico, ou seja, aquilo que Hartmann [3]chama de “metalexicografia” [metalexicography]. Os trabalhos de Hausmann et al[4], Herbst; Klotz[5] e Engelberg; Lemnitzer[6], além de publicações especializadas, tais como Lexicographica,[7] são sinais evidentes de uma longa, sólida e frutífera reflexão sobre o dicionário.
As soluções tão “sui generis” que a lexicografia em língua alemã oferece não deixam de surpreender, em especial ao público que as analisa a partir da perspectiva da lexicografia românica. Exemplos paradigmáticos dessas soluções são a ordenação lemática de nicho e ninho léxico, os dicionários ortográficos de formato absolutamente inconfundível, ou os dicionários para satisfazer situações comunicativas básicas em um ambiente estrangeiro, tais como o Ohnewörterbuch,[8] uma obra com um título completamente paradoxal, embora se trate de uma reafirmação de função para um dicionário pela imagem.
Neste trabalho, almeja-se analisar um outro traço peculiar da lexicografia alemã, a microestrutura, que, assim como que os demais aspectos mencionados no parágrafo anterior, apresenta um selo característico. Não foge ao olhar do consulente dos dicionários semasiológicos gerais do alemão,[9] a complexa estrutura que a maioria dos verbetes apresenta. A análise será feita em verbetes escolhidos de DUW,[10] W,[11] StWtb[12] e nDWtb.[13] Os três primeiros podem ser considerados exemplos da linhagem instaurada pelo GWdS[14]. O quarto dicionário, o nDWtb, é claramenmte um “Auβenseiter”, e, por isso mesmo, extremamente interessante para efeitos de análise.[15]
No que diz respeito à discussão sobre o conceito de “microestrutura”, Wiegand representa um “Meilenstein”, por ter fixado as bases (quase canônicas) para a concepção e avaliação da microestrutura em dicionários de orientação semasiológica. No entanto, os trabalhos de Herbst; Klotz,[16] Engelberg; Lemnitzer[17] e Schlaefer[18] constituem também contribuições inestimáveis, sobretudo, ainda que não unicamente, em relação a problemas tão complexos como os tipos de paráfrases explanatórias[19] (nem sempre corretamente denominadas como “definições”) ou a integração de aspectos não estritamente linguísticos na formulação e compreensão das paráfrases explanatórias.
Segundo Wiegand,[20] todo verbete em um dicionário semasiológico pode ser compreendido à luz da relação “tópico / comento”. Assim, o lema corresponde ao tópico, do qual se faz uma predicação ou comentário. O comento corresponde, em termos metalexicográficos, à microestrutura. Hartmann; James[21] definem a microestrutura como o “desenho interno de uma unidade de referência”.[22] Em uma representação esquemática do verbete, por outro lado, é possível observar que a progressão horizontal, que todo verbete apresenta, corresponde à concepção saussureana do signo linguístico. Assim, o signo-lema representa o significante, enquanto a microestrutura representa o significado. Esse “siginificado”, por sua vez, divide-se em “primeiro” e “segundo enunciado”, de acordo com a terminologia proposta por Seco.[23] Essa divisão implica, novamente, uma concepção saussureana do signo linguístico, na medida em que as informações referentes ao “primeiro enunciado” correspondem ao signo linguístico enquanto significante, e as informações do “segundo enunciado”, por outro lado, correspondem ao signo linguístico enquanto significado. Na metalexicografia alemã, e segundo a noção de “comento”, esses dois conjuntos de informações recebem o nome de “comentário de forma” [Formkommentar] e “comentário semântico” [semantischer Kommentar], na terminologia proposta por Wiegand.[24] Dentro do conjunto de informações do comentário de forma, é possível destacar as informações referentes à prescrição ortográfica, divisão silábica, classe morfológica, etc. (cf. Hartmann).[25] Costuma-se incluir a etimologia como segmento informativo (para o conceito de “segmento informativo”, cf. Bugueño Miranda; Farias)[26] do comentário de forma. Bugueño Miranda,[27] no entanto, considera que a indicação etimológica constitui um terceiro tipo de comentário: o comentário etimológico. Dessa forma, a microestrutura, no que diz respeito à classe de informações possíveis, está constituída por três comentários: comentário de forma, comentário semântico e comentário etimológico.
Dubois; Dubois,[28] por outro lado, salientam que a microestrutura apresenta outros dois traços fundamentais: em primeiro lugar, está constituída por um conjunto de “regras de composição e reescrita”[29] e, em segundo lugar, possui uma “linguagem de redação ou metalinguagem lexicográfica”,[30] na qual se reescrevem as informações. Em Bugueño Miranda; Farias,[31] salienta-se a esse respeito que “o verbete deve possuir uma série de segmentos canônicos, e que ditos segmentos devem ter uma dada organização”. Isso significa que: a) toda informação dentro do verbete deveria ter um valor efetivamente funcional; isto é, deveria servir, de fato, ao consulente e b) deve haver uma correspondência entre o programa constante de informações e o tipo de dicionário.
Para compreender a composição da microestrutura de um dicionário semasiológico, é necessário considerar os seguintes parâmetros:
o tipo de unidade léxica lematizada;No que diz respeito ao tipo de unidade léxica lematizada, Palmer[32] estabeleceu a distinção entre “palavras cheias” [full words] e “palavras de forma” [form words], salientando que as palavras cheias são aquelas que se pode descrever bem em um dicionário, enquanto as palavras de forma deveriam ser discutidas em relação à gramática da língua[33]. Nessa afirmação está contido um problema até agora não satisfatoriamente resolvido pela linguística, e que diz respeito à separação entre palavras que possuem um conteúdo lexical e palavras que não possuem um conteúdo lexical, mas que estabelecem um variado espectro de determinações entre si e as palavras com conteúdo léxico. A terminologia para esses tipos de palavras é variada. Assim, por exemplo, na tradição francesa, empregam-se os termos “lexema” [lexème] e “gramema independente” [grammème indèpendent](Dubois et al[34]). Na linguística inglesa, por outro lado, distingue-se entre “palavra lexical” [lexical word] e “palavra gramatical” [grammatical word] (Matthews[35]). Na linguística alemã, por sua vez, empregam-se os termos “auto-semântico” [Autosemantikum] e “sinsemântico” [Synsemantikum], “expressão sincategoremática” [synkategorematischer Ausdruck] e “expressão categoremática” [kategorematischer Ausdruck] (Glück).[36] Essas distinções se baseiam na existência ou ausência de um conteúdo semântico, ou na autonomia ou “dependência de um contexto” [Kontextabhängigkeit] (Pinkal).[37] Buβmann,[38] no entanto, considera que não é possível sustentar essa dicotomia.
No estado atual da questão, pode-se fazer as seguintes considerações: 1) no caso de unidades como conjunções, preposições, artigos, pronomes, etc., uma paráfrase explanatória, tal como as formuladas para os substantivos, não é posível. Essa constatação leva a pensar que, de fato, existem dois tipos de palavras (lexicais e gramaticais); 2) no entanto, para alguns tipos de palavras gramaticais (carentes de conteúdo léxico, segundo o exposto anteriormente), é possível a substituição sinonímica, mecanismo próprio das palavras lexicais (cf. Lutzeier).[39] Por exemplo:
durch I < Präp. Mit Akk.> (...) 2 <zeitlich> während, von Anfang bis Ende; (...) seine Freundschaft begleitete mich d. meine ganze Jugend (...)
gegen I <Präp. Mit Akk.> (...) 5 an...hin, an; die Wellen schlagen g. die Felsen
(StWtb)[40]
Isso leva a pensar que, havendo palavras com conteúdo, por um lado, e palavras que estabelecem diferentes tipos de determinações, por outro, possam existir “zonas de transição” entre ambas as classes. Faltam, no entanto, estudos mais aprofundados sobre essas classes de palavras.
Em relação ao programa constante de informações (pci), os dicionários semasiológicos alemães costumam oferecer, na grande maioria dos casos, um pci complexo. O número de segmentos informativos do pci definido para cada categoria morfológica de verbete constitui a definição ou extensão do mesmo. A variada classe de informações presente no verbete está associada também a uma evidente recursividade das mesmas. Essas características tornam a consulta extremamente rica, mas, às vezes, complexa, já que o usuário necessita “interpretar” o valor e a função dos segmentos informativos. Isso é especialmente complexo no caso dos verbos, dos substantivos, dos adjetivos e das preposições. Compare-se o adjetivo blöd(e) em DUW[41] e nDWtb: [42]
blöd (bes. südd., österr.; drückt stärker als “blöde” die emotionale Ablehnung aus): blöde (1b, c; 2) blöde <Adj.> [mhd. Blœde = schwach, zart, ahd. blodi = unwissend, scheu]: 1. a) (veraltet) schwachsinnig: der Junge ist von Geburt an b.; b) (ugs.) dumm, töricht: sich [reichlich] b. anstellen, benehmen; -r Kerl!; c) albern, unisnnig, geistlos: eine b. Frage 2. (ugs.) unangenehm, ärgerlich: in einer ganz b. Situation sein; zu blöd, dass ich das vergessen habe 3. (veraltet) schwachsinnig: b. Augen. 4. (veraltet) schüchtern, scheu (...)
DUW
blöd auch blöde; dumm; beschränkt; einfältig
nDWtb
Para a categoria dos adjetivos, a definição ou extensão do programa constante de informações no DUW é a seguinte: categoria morfológica, indicação etimológica, comentário semântico (na forma de paráfrases sinonímicas), exemplos, combinatória sintagmática e marcação diassistêmica (diatópica e diafásico-diastrática). No nDWtb, no entanto, estabelece-se, para a mesma categoria morfológica, somente a explicitação do comentário semântico na forma de uma paráfrase sinonímica.
No caso específico da lexicografia de língua alemã, além da definição ou extensão do programa constante de informações, é necessário considerar também a densidade do mesmo. Por densidade do programa constante de informações entende-se a forma como cada segmento informativo é preenchido. Compare-se o tratamento do verbo anbauen em W [43]e StWtb: [44]
'an| bau - en <V.t.; hat> (in gröβerem Unfang) pflanzen, säen, aufziehen (Feldfrüchte); dazu-, hinzubauen; eine Garage ~; Bücherregale zum Anbauen
W
ạn | bau | en <V.t., hat angebaut> I <mit Akk.> 1 durch Bauen anfügen; eine Garage, einen Raum a. 2 in groβem Umfang anpflanzen; Getreide, Kartoffeln a. II <o. Obj.> ein Gebäude erweitern, vergröβern; wir müssen a.
StWtb
Seguindo a práxis mais comumente aceita, em ambos os verbetes marca-se a valência por meio da expressão “V.t” (= verbum transitivum). Também se fornece o auxiliar “hat”, que permite formar o Perfekt. No entanto, StWtb desdobra esses dois segmentos informativos. Em primeiro lugar, decupa-se o verbete em dois blocos de comentário semântico, segundo o verbo anbauen se empregue com um objeto direto “externo”, o que corresponde ao bloco marcado por “I”, ou se empregue em estado absoluto, o que corresponde ao bloco “II”. Em segundo lugar, fornece-se, além do auxiliar, a forma participial de anbauen (angebaut). Dessa maneira, para ambos os verbetes existe a mesma extensão ou definição de programa constante de informações (pci). No entanto, a densidade do pci em StWtb é muito maior do que em W.
Em relação à constituição da microestrutura, mais precisamente no que concerne à disposição dos comentários, a sequência empregada é o comentário de forma (que inclui a indicação etimológica) seguido do comentário semântico. Observe-se o tratamento do substantivo Stiel em nDWtb[45] e em DUW[46]
Stiel der; -(e)s, -e; [lat.] 1) langer Griff an Geräten, Werkzeugen, Gläsern u.Ä. 2) Stängel bei Pflanzen
nDWtb
DUW
Ao se contrastar os dois verbetes, constata-se que, além da diferença clara em termos de extensão e densidade do pci, ambos os dicionários apresentam uma diferença no tratamento do comentário semântico. Enquanto nDWtb elenca duas acepções, DUW, embora estabeleça o mesmo número de acepções, decupa-as em cinco subacepções: três que têm por valor central “haste” e duas que têm como valor central “talo”. Na discussão atual em metalexicografia, a decisão de formular paráfrases explanatórias mais abrangentes ou, pelo contrário, mais específicas, corresponde às tendências de “compactar” [slumping] e “atomizar” [spliting] (Kilgarriff[47]), respectivamente. A tendência majoritária dos dicionários semasiológicos alemães é “atomizar” o comentário semântico. Sendo assim, nDWtb é uma notável exceção. No que diz respeito ao conteúdo, as paráfrases explanatórias costumam oferecer informações “virtuemáticas”, que parecem obedecer a um viés extensional (Geeraerts).[48] O objetivo parece ser estabelecer uma correlação entre a significação (ou conhecimento linguístico) e a representação da palavra “no mundo” (ou conhecimento enciclopédico) (Engelberg; Lemnitzer).[49]O “pattern sintático”[50]empregado por DUW (e parcialmente também por nDWtb) corresponde a três opções (aplicadas isoladamente ou combinadas): a primeira é enumerar uma série de possíveis traços, como em 1a: “[längeres] meist stab- od. stangenförmiges Stück Holz, Metall (...)” (grifo nosso); a segunda opção é empregar o marcador semântico com valor extensional “o Ä.” [oder Ähnliches “ou algo parecido”]; finalmente, a terceira possibilidade é marcar o caráter eventual de um traço, colocando-o entre colchetes, como em 1c: “eines [Wein-, Sekt]glases” (grifo nosso). nDWtb emprega também, parcialmente, essas opções, como na acepção 1: “langer Griff an Geräten, Werkzeugen, Gläsern u.Ä.”
No que diz respeito especificamente aos adjetivos, o comentário de forma é, em todos os casos, extremamaente simples, limitando-se à definição morfológica e à divisão silábica integrada ao lema. O interessante, no entanto, é a formulação do comentário semântico, como nos exemplos “ad infra”.
ge | fähr | lich <Adj.> 1 eine Gefahr in sich bergend, mit Gefahr verbunden; ein ~es Unternehmen; ein ~er Verbrecher; es ist g., so etwas zu tun; das ist nicht so g. <ugs.> das ist nicht so schlimm; das kann (dir) g. werden daraus kann (dir) eine Gefahr entstehen Ge | fähr | lich | keit <f.,-, nur Sg..>
StWtb
ge´fähr-lich <Adj.> Gefahr bringend, gefahrvoll; unheilvoll; gewagt, bedenklich (Abenteuer, Unternehmen); das Lebend bedrohend; ein ~er Gegner; eine –e Krankheit, Wunde, Waffe; die Straβe ist ~glatt; das Messer ist ~ scharf, spitz; das ist nicht, sehr, ziemlich ~; das ist nicht so ~ <umg.> das ist nicht so schlimm, das macht nichts; das ist mir zu ~; reize ihn nicht, er kann (dir) ~werden
W
ge | fähr | lich <Adj.> [mhd. gevœrlich = hinterlistig; verfänglich]: a) eine Gefahr bildend, Gefahr[en] enthaltend, [mit sich] bringend: eine –e Kurve; eine –e Situation; eine –e (lebensbedrohende) Krankheit; das –e Alter (mittleres Alter, in dem Gefahr für die Gesundkeit u. die Möglichkeit eines plötzlichen Todes besteht): ein Mann im –en Alter (scherz.: Mann im mittleren Alter mit verstärker Neigung zu Liebesabenteuern); ein –es (gewagtes) Spiel treiben; ein –er (riskanter) Plan; dieser Mann könnte mir g. werden (scherz.: ich könnte mich in ihn verlieben); das ist [alles] nicht so g. (ugs.: das ist [alles] nicht so schlimm, das macht nichts); g. leben; g. erkrankt sein; b) so geartet, beschaffen, dass man sich vor der betreffenden Person, Sache fürchten, in Acht nehmen muss: das ist ein –er Verbrecher; eine –e Miene; ihre Aufmachung sah g. aus (scherz.: war sehr gewagt) (…)
DUW
A “innere Sprachform” do alemão possibilita o uso massivo do “1. Partizip”,[51]ou particípio do presente, que, como nas línguas românicas, corresponde a um adjetivo. Esse fato morfológico permite a formulação de paráfrases explanatórias como uma alternativa ao emprego de sinônimos. A única dificuldade que esse mecanismo encerra consiste em que o uso dessas estruturas sintagmáticas é mais próprio da língua escrita culta, e pode acarretar um esforço maior de compreensão para o consulente que tem o alemão como uma L2. Nos exemplos elencados, por outro lado, é possível encontrar outros dois tipos de mecanismos parafrásticos. Em StWtb, emprega-se uma estrutura sintagmática introduzida por uma preposição (“mit Gefahr verbunden”) e, em W, os já mencionados sinônimos. Em relação ao uso de sintagmas preposicionais, cabe salientar que eles são úteis para efeitos de compreensão, mas nem sempre se sujeitam à “prova da substituição”.[52] Assim, por exemplo, a frase “Es ist gefährlich” pode ser substituída por “Es ist mit Gefahr verbunden”; no entanto, na frase “Ein sehr gefährlicher Mensch”, a substituição resultaria em uma frase não aceitável “* Ein sehr mit Gefahr verbundener Mensch”.
Um aspecto que merece um comentário à parte é a tendência da lexicografia alemã de criar segmentos informativos cuja função nem sempre se compreende bem. Assim, por exemplo, em W aparece o Musterbeispiele “die Straβe ist ~ glatt” e “das Messer ist ~ scharf, spitz”. Uma análise permite compreender que “gefährlich” cumpre a função de advérbio intensificador quando unido com um outro adjetivo. No entanto, não é possível compreender que função cumpre a frase “ist nicht, sehr, ziemlich ~” no mesmo verbete. Em DUW, por outro lado, verifica-se uma situação análoga. À paráfrse explanatória (“eine Gefahr bildend”), seguem dois exemplos de uso (“eine –e Kurve; eine –e Situation”). No entanto, a estrutura “das –e Alter” não é um exemplo, mas uma forma sintagmática fixa com uma significação não literal. A estrutura “ein Mann im –en Alter”, por sua vez, corresponde a uma frase feita. Segundo Silva,[53]isto se deve à imprecisão do conceito de “exemplo”, o que leva a considerar que uma unidade fraseológica pode ser tomada como exemplo do signo-lema. Dessa forma, encontramos, em DUW, três tipos de informações diferentes que, no entanto, aparecem sem nenhum indicador estrutural[54] que permita estabelecer a sua função. O trabalho de Farias,[55] no entanto, deverá trazer uma orientação segura para lidar com esse segento informativo.
No que diz respeito aos verbos, os dicionários alemães costumam apresentar verbetes com um pci extremamente denso, o que dificulta, às vezes, a leitura. Para sua avaliação, é necessário levar em conta: a) a correlação entre valência e significação e b) os problemas apontados no parágrafo anterior, relacionados com segmentos informativos que são multifuncionais. Sirva de exemplo o verbete anbieten em StWtb, W e DUW.
ạn | bie | ten <V.13, hat angeboten ; mit Akk.> 1 (jmdm.) etwas a. a zum Essen oder Trinken reichen; jmdm. Eine Tasse Kaffee a;. es wurden Getränke, belegte Brote angeboten b (jmdm.) etwas zeigen, was man verkaufen will; ein Haus zum vekauf a. c mitteilen, daβ man bereit ist, etwas zu geben; ich habe ihm meine Hilfe, Geld, meine Wohnung angeboten d mit etwas drohen; er hat ihm Ohrfeigen angeboten 2 sich a. mitteilen, daβ man bereit ist, etwas zu tun; ich habe mich angeboten, ihn zur Bahn zu bringen; sie bietet sich Männern an sie betreibt Prostitution
StWtb
'an | bie-ten <V.110, hat .> I <V.t .> 1 darreichen (Tasse Kaffee); zeigen vorweisen (zum Verkauf), feilbieten (Waren); zur Vefügung stellen (Hilfe); (fragend) vorschalagen; drohen (mit) 2 er bot mir an, mich mit dem Wagen heimzufahren; jmdm. seine Dienste ~; darf ich Ihnen eine Glas Wein ~?; ich habe ihm Prügel angeboten; jmdm. eine Stellung ~ II <V.refl.> 3 sich ~ sich zur Verfügung stellen, sich aus eigenem Antrieb bereit erklären; die Gelegenheit bot sich an war sehr günstig, paste gut
W
ạn | bie | ten <st. V.; hat>: 1 a) jmdn erkennen lassen, dass man bereit ist, ihm etw. zur Verfügung zu stellen, ihm [mit etw.] zu helfen o Ä.: jmdm. seine Hilfe, seine Begleitung, seinen Platz a.; er bot ihr an, sie heimzubringen; Ü jmdm. Ohrfeigen, Schläge a (iron..; androhen); b) <a. + sich> sich für einen bestimmten Zweck bereit halten, zur Verfügung stellen: er bietet sich als Vermittler an; ich biete mich zum Vorlesen an; c) (einem Gast) zum Essen, Trinken o Ä. reichen: jmdm. etw. Zu essen, ein getränk a.; er bot ihm eine Zigarette an (fragte ihn, ob er eine von seinen Zigaretten rauchen wollte); nichts anzubieten, <subst.:> zum Anbieten haben; d) zur Wahl stellen, bereithalten: Griechisch sollte an allen Gymnasien wenigstens angeboten werden; jmdm. etw. als Gegengabe, als Erstatz a. 2. a) vorschlagen; anregen; jmdm. eine Lösung, neue Verhandlungen a.; jmdm. das Du anbieten; der Minister hat seinen Rücktritt angeboten (hat sein Amt zur Verfügunf gestellt); b) einen Handel vorschlagen, ein [Waren]angebot machen, offerieren: auf dem Markt Waren zum Verkauf a.; etw. zu günstigen Preis a.; einem Verlag ein Manuskript a.; sich als Fotomodell a.; c) (ein Amt) antragen: jmdm. eine neue Position, dem Ministersessel a. 3 <a. + sich> a) in Betracht kommen, nahe liegen: eine Lösung bietet sich an; b) geeignet sein zu etw.: der Ort bietet sich für das Treffen [geradezu] an; Ạn | bie | ter, der –s, -: jmd., der etwas anbietet (2b).
DUW
StWtb estabelece uma dupla divisão em relação à valência. Por um lado, diferencia-se entre o emprego oblíquo e o reflexivo. No âmbito do uso oblíquo, por sua vez, estabelece-se uma oposição segundo o conteúdo do objeto direto. Em DUW, há uma divisão semelhante, embora as acepções estejam dispostas de forma diferente. No que diz respeito a W, há uma tendência a compactar [slumping], o que não traz necessariamente benefício para o consulente, em decorrência da complexa relação entre valência e significação. Sem dúvida alguma, o maior desafio na consulta de DUW é a extensão do verbete, que obriga o consulente a um grande esforço de leitura. Ocorrem simultaneamente no verbete dois fenômenos bastante comuns na lexicografia alemã: a tendência a atomizar [spliting] e a presença de segmentos polifuncionais. O resultado é um verbete extenso, de difícil leitura e que exige um consulente com certo treinamento na identificação e decodificação de cada segmento informativo. Em primeiro lugar, o “pattern” sintático leva à formulação de paráfrases extensas, nas quais o usuário deve “escolher” entre os segmentos das mesmas, como na ac. 1.a. “jmdn erkennen lassen, dass man bereit ist, ihm etw. zur Verfügung zu stellen, ihm [mit etw.] zu helfen o Ä.: jmdm. seine Hilfe, seine Begleitung, seinen Platz a.; er bot ihr an, sie heimzubringen”. Nessa paráfrase, há duas orações coordenadas: “ihm etw. zur Verfügung zu stellen” e “ihm [mit etw.] zu helfen o Ä”. Note-se que aparece a expressão “o.Ä”, que obriga o consulente a operações de analogia. Além do mais, os segmentos “jmdm. seine Hilfe , seine Begleitung, seinen Platz a.” e “er bot ihr an, sie heimzubringen”, embora apareçam sem nenhum indicador estrutural, correspondem a dois segmentos informativos diferentes. O primeiro é uma “Redewendung” e o segundo, um exemplo que constitui uma mistura do padrão valencial com o conteúdo proposicional da paráfrase explanatória de 1.a. Essas mesmas operações de interpretação dos segmentos informativos são necessárias para cada uma das acepções.
A análise demonstra que, em línguas como o alemão, é fundamental estabelecer uma diferença clara entre a extensão e a densidade do programa constante de informações. Ambas as variáveis devem ser levadas em conta no momento de redigir um verbete, já que um pci de alta densidade onera a consulta. É necessário salientar também que a “innere Sprachform” do alemão também é um fator que determina a formulação do comentário semântico. Curiosamente, as línguas românicas, que possuem problemas análogos, ainda não sabem lidar com esses fenômenos sintático-semânticos, sendo poucos os dicionários que estabelecem tais correlações. Por fim, não deixa de surpreender que um dicionário como StWtb não tenha ganho até agora o reconhecimento que merece, já que a definição e o tratamento de cada segmento da microestrutura oferecem soluções que refletem bem o fato idiomático sem sobrecarregar a consulta. A tendência a gerar segmentos polifuncionais é o único quesito, no entanto, para o qual a concepção e redação dos verbetes “ ist dringend Korrektur bedürftig”.
[1] BUGUEÑO MIRANDA, Félix. Panorama da lexicografia alemã. Contingentia. Porto Alegre, v.3/2, p. 89-110, 2008.
[2] É necessário salientar que até 1945 essa tradição esteve intimamente ligada à Akademie der Wissesnchaften. Cf. PFEIFFER, Wolfgang. Geschichtliches und Kritisches zur Lexikographie an der Akademie. In: SCHILDT, J. (Hrsg.). Erbe, Vermächtnis und Verpflichtung. Zur sprachwissenschaftlichen Forschung in der Geschichte der AdW der DDR. Berlin: Akademie-Verlag, 119-131, 1977.
[3] HARTMANN, R.R.K. Teaching and researching lexicography. London: Longman, 2001.
[4] HAUSMANN, Franz Joseph; REICHMANN, Oskar, WIEGAND, Herbert Ernst; ZGUSTA, Ladislav (Hrsgn.). Wörterbücher, Dictionaries, Dictionnaires. Berlin / New York: de Gruyter (I) 1989, (II) 1990, (III) 1991.
[5] HERBST, Thomas; KLOTZ, Michael. Lexikographie. Paderborn: Schöningh, 2003.
[6] ENGELBERG, Stephan; LEMNITZER, Lothar. Lexikographie und Wörterbuchbenutzung. Tübingen: Stauffenburg, 2004.
[7]Lexicographica. International Annual for Lexicography, Revue Internationale de Lexicographie, Internationales Jahrbuch für Lexikographie. Tübingen: Max Niemayer, v. 1 (1985) -.
[8] Ohnewörterbuch. Berlin: Langenscheidt, 2001.
[9] Para uma tipologia dos dicionários alemães, cf. BUGUEÑO MIRANDA, Félix. Panorama da lexicografia alemã. Contingentia . Porto Alegre, v.3/2, 2008, p. 91.
[10] DUW. Duden Deutsches Universalwörterbuch. Mannheim: Bibliographisches Institut, 1996.
[11] W. WAHRIG, Gerhardt. Deutsches Wörterbuch. Gütersloh / München: Bertelsmann, 2001.
[12] StWtb. Störig. Das groβe Wörterbuch der deutschen Sprache. Stuttgart: Parkland, 1990.[13] nDWtb. GÖTTERT, Karl-Heinz. Neues Deutsches Wörterbuch. Köln: Helmut Lingen, 2007.
[14] GWdS. Duden Groβes Wörterbuch der deutschen Sprache in zehn Bänden. Mannheim: Bibliographisches Institut, 1077.
[15] Cf. BUGUEÑO MIRANDA, Félix. Resenha a GÖTTERT, Karl-Heinz. Neues Deutsches Wörterbuch. Köln: Helmut Lingen, 2007. Contingentia. Porto Alegre, v. 4/1, p. 114-118, 2009..
[16] HERBST, Thomas; KLOTZ, Michael. Lexikographie. Paderborn: Schöningh, 2003.
[17] ENGELBERG, Stephan; LEMNITZER, Lothar. Lexikographie und Wörterbuchbenutzung. Tübingen: Stauffenburg, 2004..
[18] SCHLAEFER, Michael. Lexikologie und Lexikographie. Berlin: Erich Schmidt, 2004.
[19] Para uma discussão acerca da denominação “paráfrase explanatória” bem como para a formulação de uma taxonomia das mesmas, cf. BUGUEÑO MIRANDA, Félix. Para uma taxonomia de paráfrases explanatórias. ALFA. São Paulo, v. 53/1, p.243-260, 2009.
[20] WIEGAND, Herbert Ernst. Components parts and structures of general monolingual dictionaries: a survey. In: HAUSMANN, Franz Joseph; REICHMANN, Oskar; WIEGAND, Herbert Ernst; ZGUSTA, Ladislav (Hrsgn.). Wörterbücher, Dictionaries, Dictionnaires I. Berlin / New York: de Gruyter, p.328-360, 1989.
[21] HARTMANN, R.R.K.; JAMES, Gregory. Dictionary of lexicography. London: Routledge, 2001 (s.v. microstructure).
[22] [the internal design of a reference unit]
[23] SECO, Manuel. Problemas formales de la definición. In: SECO, Manuel. Estudios de lexicografia española. Madrid: Gredos, 2003, p. 25.
[24] WIEGAND, Herbert Ernst. Der Begriff der Mikrostruktur: Geschichte, Probleme, Perspektiven. In: HAUSMANN, Franz Joseph; REICHMANN, Oskar; WIEGAND, Herbert Ernst; ZGUSTA, Ladislav (Hrsgn.). Wörterbücher, Dictionaries, Dictionnaires I. Berlin / New York: de Gruyter, 1989, p. 434.
[25] HARTMANN, R.R.K. Teaching and researching lexicography. London: Longman, 2001, p. 60.
[26] BUGUEÑO MIRANDA, Félix; FARIAS, Virginia. Informações discretas e discriminantes no artigo léxico. Cadernos de tradução. Florianópolis, v. 18/2, 2006, p. 116-117.
[27] BUGUEÑO MIRANDA, Félix. La etimología en el diccionario de la lengua. Revista Letras. Curitiba, v. 64, 173-188, 2004.
[28] DUBOIS, Jean; DUBOIS, Claude. Introduction à la lexicographie: le dictionnaire. Paris: Larousse, 1971, p.39.
[29] [regles de composition et réécriture]
[30] [langage documentaire ou métalangage lexicographique]
[31] BUGUEÑO MIRANDA, Félix; FARIAS, Virginia. Informações discretas e discriminantes no artigo léxico. Cadernos de tradução. Florianópolis, v. 18/2, 2006, p. 117.
[32] PALMER, Henry. Semantics. Cambridge: CUP, 1991, p.130.
[33] Em ULRICH, Winfried. Wörterbuch linguistishe(r) Begriffe. Berlin / Stuttgart: Gebrüder Borntraeger, 2002 (s.v. Grammem), estabeleceu-se também uma distinção semelhante. No entanto, essa distinção não parece prática no âmbito da lexicografia.
[34] DUBOIS, Jean; GIACOMO, Mathée; GUESPIN, Louis; MARCELLESI, Christiane; MARCELLESI, Jean-Baptiste; MÉVEL, Jean-Pierre. Dictionnaire de linguistique et des sciences du langage. Paris: Larousse, 1999 (s.v. lexème).
[35] MATTHEWS, Peter. Oxford Concise Dictionary of Linguistics. Oxford: OUP, 1997 (s.v. lexical word, grammatical word).
[36] GLÜCK, Helmut (Hrsg.). Metzler Lexikon Sprache. Stuttgart: Metzler, 2000 (s.v. Autosemantikum)..
[37] PINKAL, Manfred. Kontextabhängigkeit, Vagheit, Mehrdeutigkeit. In: SCHWARZE, Christoph; WUNDERLICH, Dieter (Hrsgn.). Lexikologie. Königstein: Athenäum, 1985, p. 34.
[38] BUβMANN, Hadumod. Lexikon der Sprachwissenschaft. Stuttgart: Kroner, 1990 (s.v. Autosemantikum).
[39] LUTZEIER, Peter Rolf. Lexikologie. Stuttgart: Stauffenburg, 1995, p.61.
[40] StWtb. Störig. Das groβe Wörterbuch der deutschen Sprache. Stuttgart: Parkland, 1990 (s.v. durch).
[41] DUW. Duden Deutsches Universalwörterbuch. Mannheim: Bibliographisches Institut, 1996 (s.v. blöd).
[42] nDWtb. GÖTTERT, Karl-Heinz. Neues Deutsches Wörterbuch. Köln: Helmut Lingen, 2007 (s.v. blöd).
[43] W. WAHRIG, Gerhardt. Deutsches Wörterbuch. Gütersloh / München: Bertelsmann, 2001 (s.v. anbauen)
[43] W. WAHRIG, Gerhardt. Deutsches Wörterbuch. Gütersloh / München: Bertelsmann, 2001 (s.v. anbauen)
[43] W. WAHRIG, Gerhardt. Deutsches Wörterbuch. Gütersloh / München: Bertelsmann, 2001 (s.v. anbauen)
[43] W. WAHRIG, Gerhardt. Deutsches Wörterbuch. Gütersloh / München: Bertelsmann, 2001 (s.v. anbauen)
[43] W. WAHRIG, Gerhardt. Deutsches Wörterbuch. Gütersloh / München: Bertelsmann, 2001 (s.v. anbauen)
[43] W. WAHRIG, Gerhardt. Deutsches Wörterbuch. Gütersloh / München: Bertelsmann, 2001 (s.v. anbauen)
[44] StWtb. Störig. Das groβe Wörterbuch der deutschen Sprache. Stuttgart: Parkland, 1990 (s.v. anbauen).
[45] nDWtb. GÖTTERT, Karl-Heinz. Neues Deutsches Wörterbuch. Köln: Helmut Lingen, 2007 (s.v. Stiel ).
[46] DUW. Duden Deutsches Universalwörterbuch. Mannheim: Bibliographisches Institut, 1996 (s.v. Stiel).
[47] KILGARRIFF, Adam. I don´t believe in word senses! In: FONTENELLE, Thierry (ed). Practical lexicography. Oxford: OUP, 2007, p.143.
[48] GEERAERTS, Dirk. Meaning and definition. In: STERCKENBURG, Piet van (ed.). A practical guide to lexicography. Amsterdam: John Benjamins, 2003, p. 90.
[49] ENGELBERG, Stephan; LEMNITZER, Lothar. Lexikographie und Wörterbuchbenutzung. Tübingen: Stauffenburg, 2004, p. 7.
[50] Por “pattern sintático”, entende-se o modelo redacional empregado em uma paráfrase. Cf. BUGUEÑO MIRANDA, Félix. Para uma taxonomia de paráfrases explanatórias. ALFA. São Paulo, v. 53/1, p.243-260, 2009
[51] DUDEN. Grammatik der deutschen Gegenwartssprache. Mannheim: Bibliographisches Institut, 1996, p.128.
[52] Cf. MARTÍNEZ DE SOUZA, J. Diccionario de lexicografía práctica. Barcelona: Bibliograf, 1995 (s.v. definición lingüística).
[53] SILVA, Maria Eugênia Olímpio de O. Los ejemplos en el tratamiento lexicográfico de las unidades fraseológicas. In: ALONSO RAMOS, Margarita (org.). Diccionarios y fraseología. La Coruña: Servizo de Publicasons, 2006, p.235.
[54] Os “indicadores estruturais” almejam chamar a atenção do consulente para determinados tipos de informações. Cf. ENGELBERG, Stephan; LEMNITZER, Lothar. Lexikographie und Wörterbuchbenutzung. Tübingen: Stauffenburg, 2004, p.134.
[55] FARIAS, V. O exemplo como informação discreta e discriminante em dicionários semasiológicos de língua portuguesa. ALFA, São Paulo, v. 52/,1 p. 101-122, 2008.
.