Duas lições de cartografia fantástica
DOI:
https://doi.org/10.22456/2594-8962.55694Resumo
As trajetórias de Murilo Mendes e Jorge de Lima cruzaram-se em vários pontos desde que, nos anos trinta, publicaram juntos o livro de poemas Tempo e eternidade. Na mesma ocasião, ambos participaram da Comissão de Literatura Infantil do Ministério da Educação. Esta atividade secundária pode servir de ponto de referência para o exame da obra de ambos de modo a considerá-los “intérpretes do Brasil” particularmente argutos. A participação dos poetas nessa comissão revela, de um lado, o interesse público de suas realizações e, de outro lado, indica o tema da infância como uma das chaves de sua imaginação poética. É preciso ressaltar que esses dois poetas nunca aceitaram as orientações autoritárias da modernização nacionalista característica daquele período. O olhar infantil serviu-lhes para que inventassem imagens poéticas contrárias aos estereótipos da formação nacionalista. Desde seus trabalhos de juventude até os momentos mais ousados de sua poesia adulta, os dois artistas conseguiram produzir em sua arte um efeito cada vez mais potente de modo a oferecer imagens consistentes e desejáveis da nação.