Sprachmischung: relação entre sujeito, língua e história
DOI:
https://doi.org/10.22456/2594-8962.55185Resumo
Nesta pesquisa, buscamos analisar as relações de contradição que entram em jogo entre os discursos e as práticas do governo do Estado Novo sobre as questões de nacionalidade e, ao mesmo tempo, os discursos de imigrantes alemães e seus descendentes, envolvendo a memória discursiva, pela qual emerge o reconhecimento ao grupo de alemães-brasileiros e a interdição do sujeito pela língua. Para refletirmos sobre essas questões trabalhamos com o aporte teórico de Bakhtin (2004), de Pêcheux (1997) e de Orlandi (2007). A língua é um elemento essencial na construção do imaginário de identificação dos imigrantes como grupo e esse imaginário aparece na memória discursiva ao falarem de si. E é por meio da língua que o governo varguista procura instituir a construção imaginária de brasilidade. Se por um lado, a língua nacional é um atestado jurídico de brasilidade, conforme o projeto de nacionalização do governo varguista, por outro lado, ela traz a injunção ao esquecimento da língua materna dos imigrantes. Portanto, a interdição oficial durante o Estado Novo traz consequências para a vida dos imigrantes e interfere diretamente nas suas práticas sociais diárias e essa interdição ainda hoje ecoa na memória social desse grupo. Apesar do esforço e da implementação jurídica do Estado, a língua materna dos imigrantes sobreviveu à proibição e continua viva nas práticas sociais no espaço privado familiar em algumas comunidades. Trata-se de uma língua típica, a mistura do dialeto alemão com a língua Portuguesa: a Sprachmischung. O corpus discursivo é composto por relatos de filhos de imigrantes alemães do Rio Grande do Sul, que cultivam no seu imaginário social elementos de ligação com seus antepassados. Assim, com base na análise discursiva do corpus, percebemos a relação dos sujeitos com a língua e o modo como ele se reconhece a partir dela, como sujeitos alemães-brasileiros.