A AUSÊNCIA DO NOME
PRISÃO E ACONTECIMENTO TRAUMÁTICO
DOI:
https://doi.org/10.22456/2594-8962.133110Resumo
Com base na Análise Materialista do Discurso, o presente estudo tem o objetivo de analisar produções textuais escritas produzidas por mulheres em situação de privação de liberdade em presídios do estado do Rio Grande do Sul e publicadas no ano de 2022. Em três textos analisados, observa-se uma regularidade: a ausência da nomeação da prisão como o espaço onde vivem. Para nomeá-la, recorrem ao dêitico aqui e a outras construções linguísticas que apagam o referente, resgatável pelo trabalho da memória discursiva em relação com as condições de produção do discurso. A ausência do nome, como “lugar vazio”, permite desenvolver a análise em torno do conceito de acontecimento traumático (CARRENHO, 2021), relacionada aos lugares de enunciação e aos processos de subjetivação (ZOPPI-FONTANA, 2003). A análise aponta para a forma como o enclausuramento produz, no corpo e na língua, o acontecimento traumático, efeito da repressão do Estado penal brasileiro, através do qual podemos compreender que o funcionamento testemunhal trabalha em toda tomada da palavra no ordinário do sentido.