GRAMÁTICA E DISCURSO
O REFERENTE COMO NÓ DIALÉTICO
DOI:
https://doi.org/10.22456/2594-8962.131546Resumo
O trabalho que Michel Pêcheux empreende particularmente em Les vérités de La Palice (1975) implica, a meu ver, uma crítica devastadora das noções de referência e referente, mesmo quando o texto percorre caminhos marginais à operação referencial. A partir do momento em que aborda com particular sagacidade o conceito de objeto proposto por Frege (2002 [1892]), o livro de Pêcheux merece o título de “crítica da razão referencial”, pois esta é, antes de tudo, uma razão semântica e gramatical, em que o autor francês se volta especialmente. Recorde-se, a esse respeito, a crítica de Pêcheux à lingüística, para cuja constituição disciplinar ele teve de expulsar de suas fronteiras a questão do sentido.
Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho é, justamente, examinar a noção de referência/referente como nó dialético na articulação entre gramática e discurso, partindo do princípio de que qualquer consideração da referência e do referente não pode prescindir o nível gramatical da análise, pois nele encontramos a “pedra dura” da relação forma-conteúdo, mesmo quando, sabemos, o sentido do que se diz é efeito do trabalho discursivo.