(IN)CERTEZAS SOBRE ESCRAVIDÃO NO BRASIL
AS FIGURAS DE ESCRAVA E SENHOR RECONFIGURADAS NO TEMPO E NO ESPAÇO
Resumo
Na vida social brasileira atual, convivemos com uma dualidade na qual temos de um lado a certeza jurídica e linguística do fim da escravidão, e de outro a incerteza desse fim, que se materializa tanto na língua quanto em práticas, que funcionam nas relações sociais, em especial nas relações de trabalho, nas quais as figuras do senhor e da escrava ainda estão em funcionamento no Brasil, reconfiguradas com outros nomes. Nosso objetivo, no presente artigo, é analisar a performatividade das (in)certezas no que diz respeito aos sentidos de senhor e mulher negra em duas condições diferentes, separadas no tempo: em condição de escravidão e em condição de dita liberdade. Para tanto, selecionamos, como materialidade para análise, uma matéria jornalística na qual se denuncia um episódio específico de maus-tratos sofridos por uma mulher negra no âmbito do trabalho. Para as análises, mobilizamos os pressupostos da Semântica do Acontecimento (GUIMARÃES, 2002, 2009) para tratar do acontecimento enunciativo e da temporalidade; para tratar da certeza/incerteza, recorremos às reflexões de Elias de Oliveira (2020) e Wittgenstein (1969); e para tratar da performatividade, embasamo-nos nos trabalhos de Austin (1962).