Chamada para o Nº 28 da Revista Conexão Letras

2022-02-24

Organização: Bruna da Silva Nunes (Doutora UFRGS), Rafael Souza Barbosa (Leitor da École Normale Supérieure de Lyon), Rafael Brunhara (UFRGS).

 

Nos dois lados do Atlântico, o longo século XIX foi palco de transformações que afetaram contingentes cada vez maiores de pessoas, em diferentes dimensões da experiência. Perante tal cenário, a cultura e a literatura não deixaram de refletir e, em muitos casos, reivindicar e exercer protagonismo nesse ambiente de rupturas e projeções. Trata-se, pois, de uma cultura e de uma literatura marcadas por uma aguda consciência da história e da temporalidade, que se atribuem a missão de inventar um passado, dar sentido a um instável presente e projetar um futuro para a coletividade em que se imaginam inseridas.

Na literatura, a consciência da temporalidade vai se manifestar, sobretudo, na constituição de múltiplas instâncias de reflexão sobre o passado literário. A mais evidente e sistemática dessas instâncias será a historiografia literária, que emerge e se consolida ao longo do século XIX. Além disso, a reflexão sobre o passado pautará a discussão pública sobre a produção contemporânea, na imprensa, nos panfletos, em paratextos (pensemos nas recorrentes polêmicas literárias ao longo do século, em Portugal e no Brasil). Nessas instâncias, que poderíamos abrigar sob o nome de crítica, a consciência da temporalidade estará manifesta também na leitura das obras a partir de seu potencial transformador da tradição literária, com as tentativas de inovação passando por diferentes avaliações.

Menos evidentes serão as reflexões sobre o passado e o potencial transformador incrustadas no próprio texto literário. A partir do Romantismo, será notória a influência da consciência da história sobre a literatura, como atestam a popularidade do romance e do drama históricos, as tentativas de escrita de poemas épicos, as temporalidades do sujeito individual (infância, saudade) e coletivo (medievalismo, poesia popular e Indianismo) na lírica. Considerando, porém, que a prática literária sempre pressupõe um nível de conhecimento dos códigos disponíveis e uma reflexão sobre eles, terá a consciência histórica oitocentista alterado as relações do fazer literário com o passado da literatura? De que modos e em que medida se dariam essas alterações?

Este número da Conexão Letras propõe discutir os sentidos do passado literário na reflexão sobre literatura dentro e fora do texto literário. Um amplo elenco de questões emerge: em que medida os discursos sobre o passado em geral se conectam com os discursos específicos sobre o passado literário? de que maneira o que se busca no passado afeta configurações do presente e projeções do futuro na literatura e fora dela? que lugar é atribuído às coletividades evocadas ou construídas através da literatura em narrativas históricas mais amplas (histórias globais, colonialismo, centro/periferia)? que posições ou papéis os sujeitos desses discursos se atribuem nas narrativas históricas que constroem? o que nos diria uma comparação entre discursos dentro e discursos fora do texto literário? quais as possibilidades de leitura das textualizações do presente (romance e drama de costumes, representações da Modernidade na lírica e na épica) a partir das reflexões implícitas ou explícitas sobre o passado literário? como se legitimam ou deslegitimam dentro e fora do texto literário, as tentativas de transformação, inovação e ruptura estéticas? quais os usos e o potencial do rebaixamento e da paródia na leitura do passado literário?

 

Prazo para submissão: 15/10/2022