JOSÉ FALERO: UM ARQUEÓLOGO DE SUBJETIVIDADES

Resumo

Com o lançamento de seu romance mais recente, Vera, o escritor José Falero tem cumprido uma agenda assoberbada de participações em feiras, palestras e outros eventos literários. Assim, embora tanto este entrevistador quanto o escritor estivéssemos em Porto Alegre no dia 15 de novembro, data desta conversa, ela precisou ser realizada por teleconferência, com Falero respondendo às perguntas no banco de trás de um Uber enquanto se deslocava para outro compromisso. O que teve suas vantagens – o motorista, que ouvia a entrevista, se interessou pelo novo romance do autor e prometeu procurá-lo na Feira do Livro

Nascido em Porto Alegre em 1987 e tendo morado boa parte da vida no bairro periférico da Lomba do Pinheiro, Falero passou a adolescência e a juventude em diversos empregos sem nenhuma relação com a arte e a escrita, como pedreiro, chapista de lanchonete, supridor de estoque em supermercado, porteiro, entre outros – essa experiência e a reflexão constante sobre ela é central em sua obra.

Estreou em livro com Vila Sapo, coletânea de contos lançada em uma pequena edição autofinanciada em 2018 sobre a realidade da vida na favela de mesmo nome na Lomba do Pinheiro (a obra ganhou nova edição em 2024 pela Todavia). Depois disso, publicou o romance Os supridores (2020), pelo qual ganhou o Prêmio AGES de livro do ano em 2021, e reuniu em livro as crônicas de Mas em que mundo tu vive?, obra finalista do Prêmio Jabuti 2022. Agora, lança Vera, um romance em que a perspectiva feminina é central e em que o machismo que perpassa a sociedade é discutido de modo complexo com a contraposição de situações nas quais mesmo aqueles oprimidos na escala social podem vir a agir como opressores no contexto das relações de gênero.

Nesta entrevista, Falero fala sobre seu pendor pelas contradições como elemento estético, sobre o desafio de encontrar um romance por uma perspectiva que não é naturalmente a sua, sobre os elementos recorrentes ao longo do seu trabalho e sobre o atual momento literário com parte de um fenômeno social muito maior.