Capitalismo, natureza e a fronteira agrícola amazônica

Autores/as

  • Nelson REGO Departamento de Geografia / Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Palabras clave:

capitalismo, natureza, fronteira agrícola, Amazônia

Resumen

O espaço amazônico, que a partir dos anos sessenta tornou-se a meta de grandes contingentes de colonos vindos do Centro-Sul e Nordeste, vem se transformando, gradativamente, numa área de conflitos fundiários, onde a propriedade da terra, assim como os incentivos creditícios e fiscais, o acesso aos insumos e a comercialização dos produtos agrícolas, é cada vez mais um oligopólio de grandes empresas industriais que passaram a atuar diretamente na produção agropecuária. Portanto, de espaço que representava a solução para os conflitos fundiários, acolhendo os fluxos migratórios de trabalhadores rurais sem terra vindos de regiões de ocupação mais antiga, a fronteira agrícola amazônica tornou-se uma outra área de reprodução dos mesmos conflitos, onde a vastidão da terra não significa um lugar para todos. Ocorre, então, um refluxo por parte desses contingentes migratórios, que retornam às suas regiões de origem (onde os problemas que determinaram a sua saída permanecem sem solução) ou perambulam pelo interior do país. Trata-se da peregrinação dos que não tem terra pelo imenso território de um pais escassamente povoado. Seu destino final, quase sempre, são os cinturões de miséria e marginalidade das grandes cidades ou as fileiras de trabalhadores rurais diaristas.
Desse modo, a fronteira de expansão representada pela Amazônia Legal, ao invés de se constituir na solução para o assentamento e vida produtiva de enorme parcela da população brasileira, tornou-se um espaço privado de poucos.
Simultaneamente, a ocupação acelerada da Amazônia, principalmente
por grandes projetos agropecuários e industriais, suscita preocupações quanto ao futuro da Região. Entre os vários enfoques possíveis, uma análise ecológica chama à atenção para o fato de que os grandes empreendimentos alcançam suas metas através de uma generalizada e intensa devastação das condições naturais, comprometendo a ocupação e o desenvolvimento a longo prazo da Região. Cumpre, por isso, pensar sobre a ocupação do espaço como local onde a sociedade se realiza e constrói as suas condições de existência. A Amazônia Legal, que representa cerca de metade do territôrio nacional, é um depositário de recursos e potencialidades para o desenvolvimento social do país, mas a essa rica potencialidade corresponde uma pobre realidade, e o que é pior: na proporção em que se desenvolvem as atuais formas de ocupação, tanto mais reduzidas vão ficando as potencialidades. Em outras palavras, se o lucro imediato é de poucos, o prejuízo é social.
Este trabalho pretende analisar a expansão da fronteira agrícola na Amazônia de um ponto de vista ecológico, e o ecológico por uma perspectiva social. Assim, a perspectiva ecológica deste trabalho deve buscar as razões sociais do modo pelo qual a natureza e transformada e, na sua transformação, desigualmente trabalhada e apropriada pelos homens.

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Biografía del autor/a

Nelson REGO, Departamento de Geografia / Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Geógrafo e Doutor em Educação, Professor do Departamento de Geografia e no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desenvolve sua linha de pesquisa e seus trabalhos de parcerias para além da Universidade, na interrelação entre Geografia e Educação Popular (formal e não-formal), sendo autor de diversos artigos e organizador dos livros que constituem a coleção "Geração de Ambiências", editados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A coleção possui três livros publicados - "Geografia e Educação: Geração de Ambiências", "Um Pouco do Mundo cabe nas mãos, geografizando em educação o local e o global" e "Saberes e práticas na construção de sujeitos e espaços sociais". É também autor e organizador de dois livros pela Editora Grupo A, intitulados "Geografia, práticas pedagógicas para o ensino médio" - volumes 1 e 2. Autor de "Tão grande quase-nada", livro de biografias ficcionais, voltado para uma abordagem cultural acerca das mudanças do cotidiano no último século, e de "Daimon junto à porta", vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura, na categoria "contos", em 2012. Presidente da Diretoria Executiva Nacional da Associação dos Geógrafos Brasileiros (2010-2012), Vice-presidente da Diretoria Executiva Nacional da Associação dos Geógrafos Brasileiros (2008-2010), Presidente da Seção Porto Alegre da Associação dos Geógrafos Brasileiros (2006-2010), membro de comitês científicos da CAPES (2009) e da FAPERGS (2002-2004)