Medicalização do viver entre usuários de psicotrópicos na Atenção Básica

Autores

  • Élen Lúcio Pereira Prefeitura Municipal de São Bento.
  • Lumena Cristina de Assunção Cortez Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo http://orcid.org/0000-0002-4652-6556
  • Flávio Fernandes Fontes Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
  • Mercês de Fátima dos Santos Silva Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

DOI:

https://doi.org/10.22456/2238-152X.102687

Palavras-chave:

Medicalização da vida, Saúde Mental, Psicotrópicos, Atenção Básica

Resumo

Resumo

Este estudo visou compreender as concepções e vivências dos sujeitos que fazem uso diário de psicotrópicos e os impactos e sofrimentos imbricados na utilização inadequada da medicação. Para tanto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, nos moldes da história de vida, com usuários da equipe da Estratégia de Saúde da Família numa área remota do Nordeste brasileiro. Da análise temática das narrativas coletadas evidenciaram-se três categorias: Já sabia qual era o meu problema. E passou fluoxetina”: das queixas à medicação; “Ela passa a receita, e eu vou embora”: os (des)caminhos e (des)cuidados nas consultas de saúde mental; “Falta arroz, feijão, rapadura, linguiça, salsicha, mas não falta meu remédio”: a medicação e o medo da cessação do uso. As narrativas assinalaram a proliferação do diagnóstico “psiquiátrico” para comportamento e sofrimento do cotidiano, evidenciando o processo de farmacologização para condutas consideradas indesejáveis na contemporaneidade.

Palavras-chave: Medicalização da vida. Saúde Mental. Psicotrópicos. Atenção Básica.

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Biografia do Autor

Élen Lúcio Pereira, Prefeitura Municipal de São Bento.

Prefeitura Municipal de São Bento. Psicóloga. Especialista em Atenção Básica. Coordenadora de Políticas Públicas para as Mulheres. São Bento, PB. E-mail: elenluciop@gmail.com

Lumena Cristina de Assunção Cortez, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Enfermeira. Mestre em Saúde Coletiva. Doutoranda pelo Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da Escola de Enfermagem de São Paulo e da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP. E-mail: lumena@usp.br

Flávio Fernandes Fontes, Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Psicólogo. Doutor em Psicologia. Professor Adjunto da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Santa Cruz, RN. E-mail: flaviofontes@outlook.com

Mercês de Fátima dos Santos Silva, Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Socióloga. Doutora em Saúde Coletiva. Professora Adjunta da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Santa Cruz, RN. E-mail: merces.santos30@gmail.com

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Publicado

2021-07-21

Como Citar

Pereira, Élen L., Cortez, L. C. de A., Fontes, F. F., & Silva, M. de F. dos S. (2021). Medicalização do viver entre usuários de psicotrópicos na Atenção Básica. Revista Polis E Psique, 11(2), 51–71. https://doi.org/10.22456/2238-152X.102687

Edição

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Artigos