Nenhuma Brasília existe – a cidade na ficção livre de João Almino
Resumo
O título deste artigo aproveita a formulação de personagem de
Cidade livre, o engenheiro Roberto Gonçalves. Em sua definição de Brasília, "Essa cidade é para ser uma cidade moderna, aberta ao mundo, não precisa ser pitoresca". Desse modo, o engenheiro, orgulhoso do projeto de Lucio Costa e Oscar Niemeyer, respondia à objeção de Matilde, uma das tias do personagem-narrador, João, ou JA como ele assina a "introdução" do romance, ocultando assim seu nome completo.2 Na crítica aberta de Matilde: "Não há nada de pitoresco neste lugar; se pelo menos houvesse umas montanhas...". Essa suave discussão entre os dois personagens tanto sugere a tensão erótica que principia a se desenvolver entre eles quanto constitui um dos eixos centrais da estrutura ficcional de Cidade livre. Talvez dos cinco romances dedicados à cidade de Brasília, esse seja o que mais revela o ideário estético-literário do autor de Ideias onde passar o fim do mundo.