Microcirurgia para correção de atresia anal em dois cães
DOI:
https://doi.org/10.22456/1679-9216.138831Palavras-chave:
anorectal malformation, surgical microscope, veterinary surgery, vaginal prolapseResumo
Background: A atresia anal é a malformação anorretal mais comum em cães. O tratamento de escolha para esse tipo de deformidade é cirúrgico, com a possibilidade de complicações pós-operatórias. A terapia com oxigênio hiperbárico (HBOT) consiste em oferecer 100% de oxigênio em ambientes pressurizados. O HBOT causa hiperoxigenação dos tecidos, estimula a angiogênese dos fibroblastos e a proliferação tecidual, sendo recomendado para lesões teciduais e cicatrização. Este trabalho descreve a correção cirúrgica de dois casos de atresia anal em dois cães jovens, um dos quais associado a uma fístula reto-vaginal, utilizando técnicas microcirúrgicas. Além disso, descreve as complicações associadas, como estenose retal e prolapso vaginal.
Cases: O Caso 1 descreve um cão macho de raça mista, com 21 dias de idade, sem eliminação fecal desde o nascimento, causada pela atresia anal do tipo III. O paciente foi submetido ao procedimento utilizando um microscópio cirúrgico com aumento de 10x. A pele e o tecido subcutâneo foram incisados sobre a área do orifício anal, e o reto foi localizado e incisado até o lúmen. A sutura mucocutânea foi realizada em padrão isolado simples com fio de polidioxanona 6-0, circundando o acesso retal a 360°. Posteriormente, desenvolveu estenose anal, tratada com procedimentos de dilatação anal usando tubos endotraqueais balão e enemas. O paciente faleceu em casa, sem possibilidade de confirmar a causa da morte. O Caso 2 relata o procedimento microcirúrgico realizado em uma cadela de 60 dias com atresia anal do tipo III associada a uma fístula reto-vaginal. O procedimento começou com uma episiotomia para identificar a comunicação entre o teto da vagina e a parede ventral do reto. A comunicação foi identificada com aproximadamente um centímetro de profundidade. Foi realizada ligadura para oclusão da comunicação reto-vaginal, com polidioxanona 6-0.
A atresia anal foi corrigida de maneira semelhante ao descrito anteriormente, com uma incisão cutânea cruzada na área do orifício anal. Após a identificação do reto, foi realizada uma incisão até o lúmen, seguida por uma sutura mucocutânea a 360° usando fio de polidioxanona 6-0 em padrão isolado simples. O teto vaginal foi reconstruído. O paciente apresentou deiscência de pontos tratada de forma conservadora e com duas sessões de terapia com oxigênio hiperbárico a 2ATA. Após 250 dias, o paciente desenvolveu prolapso vaginal tipo III e foi submetido a terapia clínica e ovariohisterectomia. O tratamento conservador não teve o efeito esperado. Portanto, o paciente foi encaminhado para ressecção vaginal com vulvoplastia. O paciente está clinicamente estável 900 dias após o último procedimento cirúrgico.
Discussion: A maior dificuldade é a presença de tecidos delicados e a visualização prejudicada devido à localização do extremo cego da bolsa retal dentro da cavidade pélvica. As cirurgias foram consideradas satisfatórias, e as complicações pós-operatórias foram consistentes com o que foi relatado na literatura. O uso da microcirurgia proporcionou excelente visualização das estruturas, preservação do esfíncter anal no caso 2 e sutura mucocutânea precisa. O HBOT auxiliou no processo de cicatrização do paciente. Este é o primeiro relato de prolapso vaginal em uma cadela com atresia anal. Conclui-se que a microcirurgia é uma excelente ferramenta para o tratamento da atresia anal em cães.
Downloads
Referências
Birnie G.L., Fry D.R. & Best M.P. 2018. Safety and tolerability of hyperbaric oxygen therapy in cats and dogs.
Journal of the American Animal Hospital Association. 54(4): 188-194. DOI: 10.5326/JAAHA-MS-6548. DOI: https://doi.org/10.5326/JAAHA-MS-6548
Braswell C. & Crowe D.T. 2012. Hyperbaric Oxygen Therapy. Compendium: Continuing Education for Veterinarians.
(3): 1-5.
Costa T.M., Silva S.O.S., Sampaio T.B., Mota D.B., Rodrigues V.B.P., Sousa J.M.S., Santos A.S. & Leite A.G.P.M.
Atresia anal tipo III com presença de fístula vaginal e megacólon: Relato de caso. Pubvet. 12(11): 1-4.
Ellison G.W. & Papazoglou L.G. 2012. Long-term results of surgery for atresia ani with or without anogenital mal-
formations in puppies and a kitten: 12 cases (1983-2010). Journal of the American Veterinary Medical Association. 240(2): 186-192. DOI: https://doi.org/10.2460/javma.240.2.186. DOI: https://doi.org/10.2460/javma.240.2.186
Fletcher D.J., Boller M., Brainard B.M., Haskins S.C., Hopper K., McMichael M.A., Rozanski E.A., Rush J.E. & Smarick S.D. 2012. RECOVER evidence and knowledge gap analysis on veterinary CPR. Part 7: Clinical guidelines.
Journal of Veterinary Emergency and Critical Care. 22: S102-S131. DOI: 10.1111/j.1476-4431.2012.00757.x. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1476-4431.2012.00757.x
González E.M.G., Caraza J.A., Hernández I.A.Q., Cano G.M., Mireles M.A.B. & Camarillo J.A.I. 2012. Atresia
anal en perros y gatos: Conceptos actuales a partir de tres casos clínicos. Archivos de Medicina Veterinaria. 44(3):
-260.
Kobayashi E. & Haga J. 2016. Translational microsurgery. A new platform for transplantation research. Acta Cirúrgica
Brasileira. 31(3): 212-216. DOI: 10.1590/S0102-865020160030000010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-865020160030000010
Miko I., Brath E. & Furka I. 2001. Basic teaching in microsurgery. Microsurgery. 21(4): 121-123. DOI: https://doi.org/10.1002/micr.1021
Phillips H., Ellison G.W., Mathews K.G., Aronson L.R., Schmiedt C.W., Robello G., Selmic L.E. & Gregory C.R. 2018. Validation of a model of feline ureteral obstruction as a tool for teaching microsurgery to veterinary surgeons.
Veterinary Surgery. 47(3): 357-366. DOI: 10.1111/vsu.12769. DOI: https://doi.org/10.1111/vsu.12769
Prassinos N.N., Papazoglou L.G., Adamama-Moraitou K.K., Galatos A.D., Gouletsou P. & Rallis T.S. 2003.
Congenital anorectal abnormalities in six dogs. Veterinary Record. 153(3): 81-85. DOI: https://doi.org/10.1136/vr.153.3.81
Pratt G.F., Rozen W.M., Chubb D., Whitaker I.S., Grinsell D., Ashton M.W. & Acosta R. 2010. Modern adjuncts and technologies in microsurgery: An historical and evidence-based review. Microsurgery. 30(8): 657-666. DOI: 10.1002/micr.20809. DOI: https://doi.org/10.1002/micr.20809
Rahal S.C., Vicente C.S., Mortari A.C., Mamprim M.J. & Caporalli E.H.G. 2007. Rectovaginal fistula with anal atresia in 5 dogs. Canadian Veterinary Journal. 48(8): 827-830.
Sureda A., Batle J.M., Martorell M., Capó X., Tejada S., Tur J.A. & Pons A. 2016. Antioxidant Response of Chronic Wounds to Hyperbaric Oxygen Therapy. Plos One. 11(9):e0163371. DOI: 10.1371/journal.pone.0163371 DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0163371
Vianna M.L. & Tobias K.M. 2005. Atresia ani in the dog: A retrospective study. Journal of the American Animal Hospital Association. 41(5): 317-322. DOI: https://doi.org/10.5326/0410317
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Pâmela Caye, Rainer da Silva Reinstein, Bernardo Nascimento Antunes, Camila Basso Cartana, Jean Carlos Gasparotto, Leticia Reginato Martins, Alana Pivoto Herbichi, Maurício Veloso Brun

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
This journal provides open access to all of its content on the principle that making research freely available to the public supports a greater global exchange of knowledge. Such access is associated with increased readership and increased citation of an author's work. For more information on this approach, see the Public Knowledge Project and Directory of Open Access Journals.
We define open access journals as journals that use a funding model that does not charge readers or their institutions for access. From the BOAI definition of "open access" we take the right of users to "read, download, copy, distribute, print, search, or link to the full texts of these articles" as mandatory for a journal to be included in the directory.
La Red y Portal Iberoamericano de Revistas Científicas de Veterinaria de Libre Acceso reúne a las principales publicaciones científicas editadas en España, Portugal, Latino América y otros países del ámbito latino