Estabilização Cirúrgica de Subluxação Traumática de Vértebras Cervicais em Cão da Raça Shih-Tzu
Relato de Caso
DOI:
https://doi.org/10.22456/1679-9216.133394Resumo
Introdução: Trauma na coluna vertebral pode levar a fratura vertebral, luxação ou subluxação. Lesões na coluna vertebral podem causar perda parcial ou total das funções neurológicas. Os sinais neurológicos das lesões da coluna cervical podem variar de dor leve a tetraplegia, e em casos de subluxação e instabilidade, o tratamento cirúrgico geralmente é indicado para estabilizar as vértebras. O objetivo deste trabalho é relatar o caso de um cão com subluxação traumática da coluna cervical que foi submetido a tratamento cirúrgico para estabilização das vértebras cervicais.
Caso: Um cão da raça Shih-Tzu, de 7 anos de idade, macho, pesando 5,9 kg foi avaliado em clínica veterinária com sinais neurológicos sugestivos de lesão na coluna vertebral. Na anamnese, o proprietário relatou que há cerca de sete meses o animal havia sofrido um trauma doméstico, muito provavelmente devido a uma queda do colo de uma criança. Foi relatado que o animal parou de andar após a queda, e inicialmente o cão foi levado a uma clínica veterinária, onde foram realizados os primeiros cuidados. Na ocasião, foram realizados exames radiográficos da coluna vertebral na região lombar e das articulações do quadril, onde não foi observada nenhuma alteração. Sete meses após o trauma, os sinais neurológicos ainda persistiam, e o proprietário levantou fundos para continuar o tratamento. O exame neurológico revelou plegia nos membros pélvicos e paresia nos anteriores, nocicepção parcialmente preservada e sinais compatíveis com lesão medular na região cervical. Exames radiográficos da região cervicotorácica da coluna demonstraram possível protrusão discal entre as vértebras cervicais C5-C6. Foi realizada tomografia computadorizada da mesma região, que evidenciou instabilidade e subluxação da coluna vertebral, mais acentuada entre as vértebras cervicais C5-C6, promovendo mielopatia compressiva extradural neste segmento medular, indicando necessidade de estabilização cirúrgica. A técnica de aplicação vertebral ventral de parafusos fixados com polimetilmetacrilato (PMMA) foi realizada para estabilização vertebral. Foi realizado acesso à superfície ventral dos corpos das vértebras cervicais C5-C6 e implantados 6 parafusos corticais (1,5 mm de diâmetro), sendo fixados 3 parafusos em cada vértebra cervical. Posteriormente, cimento ósseo PMMA foi aplicado nos parafusos e nas vértebras afetadas. O cão iniciou a reabilitação na segunda semana após o procedimento cirúrgico. Na avaliação fisiátrica a paciente apresentava ataxia e déficit proprioceptivo, ausência de dor superficial e presença de dor profunda em todos os membros. O protocolo de tratamento fisioterapêutico instituído incluiu fotobiomodulação (laserterapia), campo magnético pulsátil e cinesioterapia. Os exercícios realizados inicialmente eram passivos, evoluindo para ativos assistidos, livres e isométricos.
Discussão: Tratava-se de uma lesão na região cervical da coluna, com grandes corpos vertebrais e com possibilidade de acesso cirúrgico por via ventral, optando-se, portanto, pela técnica de aplicação ventral de parafusos fixados com polimetilmetacrilato (PMMA). O método cirúrgico foi escolhido devido à sua capacidade de estabilizar as vértebras cervicais de forma eficaz e relativamente simples. O PMMA foi fixado aos parafusos e ao osso vertebral, formando uma estrutura rígida e bem modelada, permitindo a estabilidade da região cervical acometida. Após as sessões de fisioterapia, o paciente apresentou boa evolução com recuperação rápida e progressiva da deambulação, e recuperação adequada da função neurológica e motora após 40 dias da cirurgia. Em conclusão, a técnica cirúrgica utilizada, associada à fisioterapia, mostrou-se eficaz na estabilização da coluna cervical e na recuperação da função neurológica do cão.
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