Tumor ósseo multilobulado em cães: aspectos clínicos, histológicos, imunohistoquímicos e sobrevida (relato de dois casos)
DOI:
https://doi.org/10.22456/1679-9216.126795Resumo
Tumor ósseo multilobulado (TOM) é uma neoplasia incomum, com comportamento biológico variável, que se origina primariamente em tecidos ósseos. Radiografia, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) são úteis para diagnóstico e planejamento cirúrgico. Exérese do tumor com margens cirúrgicas amplas é o tratamento de escolha. Imunohistoquímica tem se mostrado uma ferramenta importante na oncologia veterinária para ajudar a definir decisões terapêuticas e prognósticas. O objetivo deste trabalho foi relatar dois casos distintos de TOM, seu perfil imunohistoquímico de Cox-2 e Mib-1 e o impacto na sobrevida global. Dois cães com histórico de massa firmem, progressiva, indolor e circunscrita em região de face foram atendidos pelo departamento de oncologia do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ambos tinham histórico de massa facial progressiva, indolor, circunscrita e firme. O primeiro paciente era uma cadela de 8 anos, 50 kg, sem raça definida, inteira, que apresentava uma massa infraorbitária direita de crescimento rápido de 3 cm, causando deslocamento ocular. O segundo paciente era um labrador retriever, castrado, de 7 anos, 28 kg, que apresentava uma massa temporal esquerda de 8 cm. O exame neurológico de ambos os animais não apresentou alterações. A pele sobre os nódulos estava tensa, mas sem ulceração. Exames radiográficos da cabeça mostraram reação óssea lítica e proliferativa, com perda da definição cortical em ambos os casos. Essas alterações foram observadas no arco zigomático esquerdo da região retro bulbar, envolvendo parte da mandíbula e do osso frontal lateral do seio nasal, no primeiro paciente, e no processo temporal direito do osso zigomático no segundo paciente, que também apresentou uma massa sólida granular com pouco contato com os ossos do crânio. Hemograma completo, perfil bioquímico, eletrocardiograma e radiografia torácica em três incidências foram realizados. Os resultados estavam dentro da normalidade para a espécie e nenhum sinal de metástase foi detectado nas radiografias. Localização, tamanho e densidade da massa, compressão do tecido adjacente, invasão craniana e tamanho dos linfonodos foram rigorosamente avaliados com TC, permitindo um planejamento cirúrgico individualizado para a remoção completa da massa e manutenção da função das estruturas adjacentes. Ambos os cães foram submetidos à cirurgia. Os tumores foram fixados em formalina tamponada neutra a 10% e encaminhados ao Departamento de Patologia Animal da UFMG para exame histopatológico e avaliação das margens. Ambos os tumores foram diagnosticados como MTB grau I. A imuno-histoquímica dos tumores foi realizada para identificar fatores prognósticos que pudessem ser usados para definir melhor as condutas terapêuticas e tentar esclarecer a discrepância na progressão da doença entre os dois tumores. O primeiro paciente expressou 20% de Mib-1 e foi considerado escore 2 de Cox-2. O segundo expressou 5% de Mib-1 e foi considerado escore 1 de Cox-2. Considerando os diagnósticos e as características histológicas dos tumores, optou-se pelo acompanhamento clínico dos pacientes sem complementação terapêutica adicional. Mesmo considerando margens cirúrgicas incompletas no segundo paciente, não foi realizada quimioterapia adjuvante, devido ao baixo índice mitótico e baixo grau histológico.O primeiro paciente teve sobrevida global de 240 dias, sendo o óbito por recorrência e progressão da doença; e o segundo não apresentou recidiva nem metástase após 1200 dias. Planejamento cirúrgico adequado e individualizado e avaliação histológica são de extrema importância para guiar a escolha do tratamento. No entanto, a imunohistoquímica pode ser importante em casos de TOM, para ajudar a definir quais pacientes devem ser submetidos apenas a cirurgia e quais pacientes podem se beneficiar da associação com quimioterapia adjuvante.
Downloads
Referências
Baldasso A.B. 2019. Fatores prognósticos e histopatológicos do osteossarcoma canino e correlação com a sobrevida. 39f. Belo Horizonte, MG. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais.
Barger A., Graca R., Bailey, K., Messick J., de Lorimier L.P., Fan T. & Hoffmann W. 2005. Use of alcaline phosphatase staining to differentiate canine osteosarcoma from other vimentin-positive tumors. Veterinary Pathology. 42(2): 161-165. DOI:10.1354/vp.42-2-161. DOI: https://doi.org/10.1354/vp.42-2-161
Dernell W.S., Straw R.C., Cooper M.F., Powers B.E., LaRue S.M. & Withrow S.J. 1998. Multilobular osteochondrosarcoma in 39 dogs: 1979-1993. Journal of the American Animal Hospital Association. 34(1): 11-18. DOI:10.5326/15473317-34-1-11. DOI: https://doi.org/10.5326/15473317-34-1-11
Ehrhart N.P., Ryan S.D. & Fan T.M. 2013. Tumors of the skeletal system. Withrow and MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology. pp. 463-503. DOI: 10.1016/B978-1-4377-2362-5.00024-4 DOI: https://doi.org/10.1016/B978-1-4377-2362-5.00024-4
Hathcock J.T. & Newton J.C. 2000. Computed tomographic characteristics of multilobular tumor of bone involving the cranium in 7 dogs and zygomatic arch in 2 dogs. Veterinary radiology & ultrasound: the official journal of the American College of Veterinary Radiology and the International Veterinary Radiology Association. 41(3): 214-217. DOI:10.1111/j.1740-8261.2000.tb01480.x DOI: https://doi.org/10.1111/j.1740-8261.2000.tb01480.x
Lavalle G.E., Bertagnolli A.C., Tavares W.L. & Cassali G.D. 2009. Cox-2 expression in canine mammary carcinomas: correlation with angiogenesis and overall survival. Veterinary Pathology. 46(6): 1275-1280. DOI: 0.1354/vp.08-VP-0226-C-FL DOI: https://doi.org/10.1354/vp.08-VP-0226-C-FL
Mcgavin M.D & Zachary J.F. 2007. Pathologic Basis of Veterinary Disease. 4th edn. St. Louis: Mosby Elsevier, pp.1091-1092.
Pakhrin B., Bae I.H., Jee H., Kang M.S. & Kim D.Y. 2006. Multilobular tumor of the mandible in a Pekingese dog. Journal of Veterinary Science. 7(3): 297-298. DOI:10.4142/jvs.2006.7.3.297 DOI: https://doi.org/10.4142/jvs.2006.7.3.297
Paoloni M. & Khanna C. 2008. Translation of new cancer treatments from pet dogs to humans. Nature reviews. Cancer. 8(2): 147-156. DOI:10.1038/nrc2273 DOI: https://doi.org/10.1038/nrc2273
Psychas V., Loukopoulos P., Polizopoulou Z.S. & Sofianidis G. 2009. Multilobular tumor of the caudal cranium causing severe cerebral and cerebellar compression in a dog. Journal of Veterinary Science. 10(1): 81-83. DOI:10.4142/jvs.2009.10.1.81 DOI: https://doi.org/10.4142/jvs.2009.10.1.81
Straw R.C., LeCouteur R.A., Powers B.E. & Withrow S.J. 1989. Multilobular osteochondrosarcoma of the canine skull: 16 cases (1978-1988). Journal of the American Veterinary Medical Association. 195(12): 1764-1769. PMID: 2599965.
Thompson K.G. & Dittmer K.E. 2016. Tumors of Bones. In: Meuten D.J. (Ed). Tumors in Domestic Animals. 5th edn. Ames: Iowa State Press, pp.356-424. DOI: https://doi.org/10.1002/9781119181200.ch10
Arquivos adicionais
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Adônis Benvenuto Baldasso, Gleidice Eunice Lavalle, Rúbia Monteiro de Castro Cunha, Rubens Antônio Carneiro, Felipe Pierezan, Stéfane Valgas Teixeira, Roberto Baracat de Araújo

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
This journal provides open access to all of its content on the principle that making research freely available to the public supports a greater global exchange of knowledge. Such access is associated with increased readership and increased citation of an author's work. For more information on this approach, see the Public Knowledge Project and Directory of Open Access Journals.
We define open access journals as journals that use a funding model that does not charge readers or their institutions for access. From the BOAI definition of "open access" we take the right of users to "read, download, copy, distribute, print, search, or link to the full texts of these articles" as mandatory for a journal to be included in the directory.
La Red y Portal Iberoamericano de Revistas Científicas de Veterinaria de Libre Acceso reúne a las principales publicaciones científicas editadas en España, Portugal, Latino América y otros países del ámbito latino