Tumor ósseo multilobulado em cães: aspectos clínicos, histológicos, imunohistoquímicos e sobrevida (relato de dois casos)

Autores

  • Adônis Benvenuto Baldasso Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da UFMG
  • Gleidice Eunice Lavalle Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da UFMG https://orcid.org/0000-0001-6795-7526
  • Rúbia Monteiro de Castro Cunha Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da UFMG https://orcid.org/0000-0003-3089-5362
  • Rubens Antônio Carneiro Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG https://orcid.org/0000-0002-5920-0483
  • Felipe Pierezan Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG
  • Stéfane Valgas Teixeira https://orcid.org/0000-0001-6795-7526
  • Roberto Baracat de Araújo Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias da Escola de Veterinária da UFMG

DOI:

https://doi.org/10.22456/1679-9216.126795

Resumo

Tumor ósseo multilobulado (TOM) é uma neoplasia incomum, com comportamento biológico variável, que se origina primariamente em tecidos ósseos. Radiografia, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) são úteis para diagnóstico e planejamento cirúrgico. Exérese do tumor com margens cirúrgicas amplas é o tratamento de escolha. Imunohistoquímica tem se mostrado uma ferramenta importante na oncologia veterinária para ajudar a definir decisões terapêuticas e prognósticas. O objetivo deste trabalho foi relatar dois casos distintos de TOM, seu perfil imunohistoquímico de Cox-2 e Mib-1 e o impacto na sobrevida global.  Dois cães com histórico de massa firmem, progressiva, indolor e circunscrita em região de face foram atendidos pelo departamento de oncologia do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ambos tinham histórico de massa facial progressiva, indolor, circunscrita e firme. O primeiro paciente era uma cadela de 8 anos, 50 kg, sem raça definida, inteira, que apresentava uma massa infraorbitária direita de crescimento rápido de 3 cm, causando deslocamento ocular. O segundo paciente era um labrador retriever, castrado, de 7 anos, 28 kg, que apresentava uma massa temporal esquerda de 8 cm. O exame neurológico de ambos os animais não apresentou alterações. A pele sobre os nódulos estava tensa, mas sem ulceração. Exames radiográficos da cabeça mostraram reação óssea lítica e proliferativa, com perda da definição cortical em ambos os casos. Essas alterações foram observadas no arco zigomático esquerdo da região retro bulbar, envolvendo parte da mandíbula e do osso frontal lateral do seio nasal, no primeiro paciente, e no processo temporal direito do osso zigomático no segundo paciente, que também apresentou uma massa sólida granular com pouco contato com os ossos do crânio. Hemograma completo, perfil bioquímico, eletrocardiograma e radiografia torácica em três incidências foram realizados. Os resultados estavam dentro da normalidade para a espécie e nenhum sinal de metástase foi detectado nas radiografias. Localização, tamanho e densidade da massa, compressão do tecido adjacente, invasão craniana e tamanho dos linfonodos foram rigorosamente avaliados com TC, permitindo um planejamento cirúrgico individualizado para a remoção completa da massa e manutenção da função das estruturas adjacentes. Ambos os cães foram submetidos à cirurgia. Os tumores foram fixados em formalina tamponada neutra a 10% e encaminhados ao Departamento de Patologia Animal da UFMG para exame histopatológico e avaliação das margens. Ambos os tumores foram diagnosticados como MTB grau I. A imuno-histoquímica dos tumores foi realizada para identificar fatores prognósticos que pudessem ser usados ​​para definir melhor as condutas terapêuticas e tentar esclarecer a discrepância na progressão da doença entre os dois tumores. O primeiro paciente expressou 20% de Mib-1 e foi considerado escore 2 de Cox-2. O segundo expressou 5% de Mib-1 e foi considerado escore 1 de Cox-2. Considerando os diagnósticos e as características histológicas dos tumores, optou-se pelo acompanhamento clínico dos pacientes sem complementação terapêutica adicional. Mesmo considerando margens cirúrgicas incompletas no segundo paciente, não foi realizada quimioterapia adjuvante, devido ao baixo índice mitótico e baixo grau histológico.O primeiro paciente teve sobrevida global de 240 dias, sendo o óbito por recorrência e progressão da doença; e o segundo não apresentou recidiva nem metástase após 1200 dias. Planejamento cirúrgico adequado e individualizado e avaliação histológica são de extrema importância para guiar a escolha do tratamento. No entanto, a imunohistoquímica pode ser importante em casos de TOM, para ajudar a definir quais pacientes devem ser submetidos apenas a cirurgia e quais pacientes podem se beneficiar da associação com quimioterapia adjuvante.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Baldasso A.B. 2019. Fatores prognósticos e histopatológicos do osteossarcoma canino e correlação com a sobrevida. 39f. Belo Horizonte, MG. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal - Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais.

Barger A., Graca R., Bailey, K., Messick J., de Lorimier L.P., Fan T. & Hoffmann W. 2005. Use of alcaline phosphatase staining to differentiate canine osteosarcoma from other vimentin-positive tumors. Veterinary Pathology. 42(2): 161-165. DOI:10.1354/vp.42-2-161. DOI: https://doi.org/10.1354/vp.42-2-161

Dernell W.S., Straw R.C., Cooper M.F., Powers B.E., LaRue S.M. & Withrow S.J. 1998. Multilobular osteochondrosarcoma in 39 dogs: 1979-1993. Journal of the American Animal Hospital Association. 34(1): 11-18. DOI:10.5326/15473317-34-1-11. DOI: https://doi.org/10.5326/15473317-34-1-11

Ehrhart N.P., Ryan S.D. & Fan T.M. 2013. Tumors of the skeletal system. Withrow and MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology. pp. 463-503. DOI: 10.1016/B978-1-4377-2362-5.00024-4 DOI: https://doi.org/10.1016/B978-1-4377-2362-5.00024-4

Hathcock J.T. & Newton J.C. 2000. Computed tomographic characteristics of multilobular tumor of bone involving the cranium in 7 dogs and zygomatic arch in 2 dogs. Veterinary radiology & ultrasound: the official journal of the American College of Veterinary Radiology and the International Veterinary Radiology Association. 41(3): 214-217. DOI:10.1111/j.1740-8261.2000.tb01480.x DOI: https://doi.org/10.1111/j.1740-8261.2000.tb01480.x

Lavalle G.E., Bertagnolli A.C., Tavares W.L. & Cassali G.D. 2009. Cox-2 expression in canine mammary carcinomas: correlation with angiogenesis and overall survival. Veterinary Pathology. 46(6): 1275-1280. DOI: 0.1354/vp.08-VP-0226-C-FL DOI: https://doi.org/10.1354/vp.08-VP-0226-C-FL

Mcgavin M.D & Zachary J.F. 2007. Pathologic Basis of Veterinary Disease. 4th edn. St. Louis: Mosby Elsevier, pp.1091-1092.

Pakhrin B., Bae I.H., Jee H., Kang M.S. & Kim D.Y. 2006. Multilobular tumor of the mandible in a Pekingese dog. Journal of Veterinary Science. 7(3): 297-298. DOI:10.4142/jvs.2006.7.3.297 DOI: https://doi.org/10.4142/jvs.2006.7.3.297

Paoloni M. & Khanna C. 2008. Translation of new cancer treatments from pet dogs to humans. Nature reviews. Cancer. 8(2): 147-156. DOI:10.1038/nrc2273 DOI: https://doi.org/10.1038/nrc2273

Psychas V., Loukopoulos P., Polizopoulou Z.S. & Sofianidis G. 2009. Multilobular tumor of the caudal cranium causing severe cerebral and cerebellar compression in a dog. Journal of Veterinary Science. 10(1): 81-83. DOI:10.4142/jvs.2009.10.1.81 DOI: https://doi.org/10.4142/jvs.2009.10.1.81

Straw R.C., LeCouteur R.A., Powers B.E. & Withrow S.J. 1989. Multilobular osteochondrosarcoma of the canine skull: 16 cases (1978-1988). Journal of the American Veterinary Medical Association. 195(12): 1764-1769. PMID: 2599965.

Thompson K.G. & Dittmer K.E. 2016. Tumors of Bones. In: Meuten D.J. (Ed). Tumors in Domestic Animals. 5th edn. Ames: Iowa State Press, pp.356-424. DOI: https://doi.org/10.1002/9781119181200.ch10

Arquivos adicionais

Publicado

2023-05-12

Como Citar

Benvenuto Baldasso, A., Eunice Lavalle, G., Monteiro de Castro Cunha, R., Antônio Carneiro, R., Pierezan, F., Teixeira, S. V., & Baracat de Araújo, R. (2023). Tumor ósseo multilobulado em cães: aspectos clínicos, histológicos, imunohistoquímicos e sobrevida (relato de dois casos). Acta Scientiae Veterinariae, 51. https://doi.org/10.22456/1679-9216.126795

Edição

Seção

Case Report