Fotografias Tumulares em uma Antiga Colônia de Isolamento Sanitário: Sobrevivências de um passado em desaparecimento
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.99935Palavras-chave:
Memória coletiva, Isolamento compulsório, Narrativas verbo-visuaisResumo
Resumo: A política sanitária de isolamento compulsório adotada nos anos 1920 para controle da hanseníase (“lepra”), foi mote da tese de Daniele Bezerra. A pesquisa nos arquivos do Hospital-Colônia Itapuã (Viamão/RS), seguida de observação flutuante e registro fotográfico nas ruínas daquela microcidade, com atenção às narrativas verbo-visuais de seus poucos habitantes, converteu aquelas memórias difíceis em “monumentos-refratários” (Bezerra, 2019). Considerando a dimensão coletiva do cemitério, propomos uma narrativa visual das fotografias tumulares, que inscrevem esses vestígios como fantasmagorias e redobram a invisibilização de presenças socialmente indesejáveis. O simbolismo da lápide como lugar de memória (Nora, 1981) permite propor uma epistemologia daquelas “imagens órfãs” (Bruno, 2018), que resistem e “interrogam nosso tempo presente” (Samain, 2012). Considerando a noção de pessoa (Mauss, 2011) que subjaz a máscara mortuária, e a fotografia como “aparecimento de uma distância” (Benjamin, 1989) e como “ressurreição” (Barthes, 2010), compartilhamos da preocupação de Didi-Huberman (2013) sobre o risco de musealização do passado na forma de domesticação da violência institucional.
Palavras-chave: Narrativas verbo-visuais. Memória e esquecimento. Políticas sanitárias e invisibilidade.
TUMULAR PHOTOGRAPHIES IN AN OLD COLONY OF SANITARY ISOLATION: SURVIVALS OF A DISAPPEARING PAST
Abstract: The health policy of compulsory isolation adopted in the 1920s for leprosy control was the motto of Daniele Bezerra's thesis, co-author of this article. Research in the archives of the Hospital-Colônia Itapuã (Viamão/RS), followed by floating observation and photographic recording in the ruins of that microcity, with attention to the verb-visual narratives of its few inhabitants, converted those difficult memories into "refratting -monuments" (Bezerra, 2019). Considering the collective dimension of the cemetery, we propose a visual narrative of the tomb photographs, which inscribe these vestiges as phantasmagoria and redouble the invisibilization of socially undesirable presences. The symbolism of the gravestone as a place of memory (Nora, 1981) allows us to propose an epistemology of those "orphan images" (Bruno, 2018) that resist and "question our present time" (Samain, 2012). Considering the notion of the person (Mauss, 2011) that underlies the mortuary mask, and photography as "the appearance of a distance" (Benjamin, 1989) and as "resurrection" (Barthes, 2010), we share Didi-Huberman's (2013) concern about the risk of musealization of the past in the form of domestication of institutional violence.
Keywords: Verb-visual narratives. Memory and oblivion; Health policies and invisibility.
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