Cotidiano acadêmico e patrimônio universitário: ritmos de duração na cidade
DOI:
https://doi.org/10.22456/1984-1191.9263Resumo
Certamente o valor da atividade acadêmica no mundo contemporâneo não se resume aos diplomas conferidos ou títulos publicados pelos cientistas, mas igualmente reside na sua contribuição para a defesa de territórios-mitos guardiões do sistema simbólico de referência identitária cultural e da memória coletiva de um povo. Como sugere Anthony Giddens, um dos mais citados cientistas sociais da contemporaneidade, em face da negligência de políticas urbanas em relação ao patrimônio material e imaterial, importa cada vez mais estarmos atentos para a sustentabilidade das formas de criação e recriação do senso de identidade de indivíduos e grupos. Portanto, segundo este autor, a condição contemporânea do viver urbano nos remete sistematicamente à amnésia coletiva pela ameaça das perdas de referências de imagem e pela fragmentação das formas de sociabilidade e complexidades institucionais que organizam o mundo social. A ameaça ao esquecimento não é, entretanto uma condição presente.
A existência do patrimônio material e o reconhecimento de patrimônios imateriais por parte das políticas públicas permitem o conhecimento dos habitantes citadinos de seus percursos históricos e promovem a consciência do viver social. Uma consciência coletiva que não só depende da memória construída, mas contribui para a memória social e coletiva dos cidadãos. Como afirmava Píndaro “O homem é um ser que esquece”, sobretudo esquecem de si mesmos, de reiterar uma imagem de si na riqueza das interações de reciprocidade humana.
Neste ponto, o tema do “fantasma do esquecimento”, tão caro à obra do filósofo alemão Walter Benjamin, anuncia, de forma comovente, o sentimento de “crise da civilização” que se manifesta na crise epistemológica das “ciências do homem” geradas no mundo
Contemporâneo. Ao longo das imensas rupturas e descontinuidades provocadas por revoluções tecnológicas e científicas do séc. XX, dos quais somos tributários em nossa “arte de pensar” o mundo e o tempo, não é ao acaso que se constata que a abordagem etnográfica e social dos bens patrimoniais tangíveis e intangíveis reflete sobre a vida e a matéria, atribuindo ao ato de conhecer dos habitantes das grandes cidades o ato de interagir com a sua história. Em antropologia urbana, o ato de viver a cidade moderna, urbano-industrial, comporta, para os seus habitantes, o ato de narrar suas histórias vividas neste espaço; histórias que apontam para as diferenças e alteridades que constituem uma comunidade urbana.
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