É só um real! Performatividades do comércio informal de alimento no Largo Glênio Peres em Porto Alegre

Autores

  • Viviane Vedana BIEV - PPGAS - UFRGS

DOI:

https://doi.org/10.22456/1984-1191.9257

Resumo

Neste ensaio busco delinear a possibilidade de alguns cruzamentos e interlocuções entre os estudos de performance e o campo da antropologia urbana. Trata-se de um ensaio, pois o foco principal de reflexão não é a interpretação de fenômenos “extraordinários” que se manifestam no meio urbano, caracterizando-se diretamente como eventos performáticos, mas sim um ponto de vista sobre práticas “ordinárias” do cotidiano da cidade como ações que possuem uma dimensão performática. Assim, este texto não se configura como uma análise que poderia ser considerada “clássica” ao campo da antropologia da performance, como estudos de ritual ou etnografia da fala, por exemplo, mas como uma tentativa de nuançar um estudo de antropologia urbana a partir de uma perspectiva da antropologia da performance.

 

O contexto etnográfico do estudo que proponho é o do mercado de rua situado no Largo Glênio Peres, chamado de Feira de Pedra, ao lado do Mercado Público de Porto Alegre. Este Largo é também chamado pelos habitantes da cidade de largo do mercado, é um espaço constituído de inúmeras interações sociais e performances, pois é habitado por artistas de rua, camelôs, vendedores ambulantes e também por habitués, ou seja, moradores do centro da cidade e mesmo de outros bairros que fazem dali um espaço de trocas e sociabilidades. O mercado de rua ou Feira de Pedra é um destes cenários.

 

Chamo de mercado de rua o conjunto dos vendedores de alimentos hortifrutigranjeiros que improvisam um espaço de vendas nos finais de tarde no Largo, produzindo uma estética peculiar na qual sons e imagens visuais são mesclados de tal forma que evidenciam as noções de descontinuidade e fragmentação da vida urbana, como apontam G. Simmel e G. Velho. No caos aparente do centro da cidade, representado principalmente no fluxo intenso de seus habitantes, a constituição deste espaço informal de vendas de alimentos apresenta certas características que podem ser melhor observadas e interpretadas tendo em vista contribuições teóricas e metodológicas dos estudos de performance. Mais especificamente refiro-me a atenção dedicada aos aspectos estéticos da situação social etnografada revelada na preocupação de muitos pesquisadores da área1 em utilizar diferentes mídias para realizar a pesquisa e reconfigurar o contexto etnográfico, além da sua tradução no próprio texto.

 

Em termos de uma antropologia urbana, estas práticas de comércio na rua são elementos importantes da composição estética das ruas da cidade, pois a improvisação de bancas de alimentos ao rés do chão vai conformando caminhos e criando obstáculos para os passantes desinteressados na compra. Junto com esta demarcação do espaço vem o preenchimento do lugar com sonoridades diversas, compondo uma certa melodia “nada harmoniosa” para o ambiente e, para completar, ainda somos tomados por odores característicos da mistura de poluição do trânsito com os cheiros dos alimentos. Estes são apenas alguns traços na delimitação da complexidade de elementos que dão forma a esta situação cotidiana no centro de Porto Alegre.

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Biografia do Autor

Viviane Vedana, BIEV - PPGAS - UFRGS

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Publicado

2007-06-03

Como Citar

VEDANA, V. É só um real! Performatividades do comércio informal de alimento no Largo Glênio Peres em Porto Alegre. ILUMINURAS, Porto Alegre, v. 8, n. 17, 2007. DOI: 10.22456/1984-1191.9257. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/9257. Acesso em: 18 abr. 2024.