À flor da pele: estudo antropológico sobre a prática da tatuagem em grupos urbanos

Autores

  • Cornelia Eckert BIEV/PPGAS/UFRGS
  • Débora Krischke Leitão

DOI:

https://doi.org/10.22456/1984-1191.9186

Resumo

O homem, ao longo dos tempos e nas diferentes culturas, sempre marcou o corpo, senão com a tatuagem que conhecemos hoje, com a pintura, as escarnificações e a maquiagem. O body art não é, portanto, um fenômeno novo. Atualmente, entretanto, caminhando por qualquer rua de qualquer grande cidade é possível identificar a tatuagem estampada na pele de braços, pernas e costas de pessoas das mais diferentes idades, profissões e classes sociais. A tatuagem de modo geral esteve, entretanto, até pouco tempo restrita a alguns grupos tidos como marginais na sociedade ocidental contemporânea. Ela passa hoje a aventurar-se em outros corpos e a colonizar outros mundos.

 

A cidade de Porto Alegre, contexto em que esta pesquisa foi desenvolvida, conhece a expansão do mercado da tatuagem. O número de novos estúdios comerciais de tatuagem (atendendo ao público em geral) teve um crescimento expressivo nesta última década, os estúdios antigos correm em busca de modernização e a clientela torna-se cada vez maior e mais variada. Busca-se assim problematizar a tatuagem sob o prisma da Antropologia, situando nossos objetivos em uma interface entre o que se pode chamar de Antropologia do Corpo e Antropologia Urbana, uma vez que pensando o tema em um universo como Porto Alegre, faz-se uma reflexão sobre as formas singulares que os habitantes do mundo urbano marcam seus corpos no sentido de situar ethos e habitus

(GEERTZ:1989) que estetizam o viver na cidade.

 

Visando dar conta da natureza do tema proposto, o método qualitativo de pesquisa, mais especificamente o método antropológico, foi utilizado no presente trabalho. O método antropológico (sobretudo através de seu principal instrumento, a observação participante) pressupõe uma relação de proximidade e interação pesquisador e pesquisado, quebrando os limites estanques entre sujeito e objeto. Instaura-se assim, uma perspectiva reflexiva e intersticial - olhar desde dentro, (GONÇALVES DA SILVA, 1994:8) dado o lugar do pesquisador (sujeito da pesquisa, mas também objeto, enquanto membro de uma sociedade, de uma cultura, compartilhando experiências e sentidos) no grupo (de sujeitos) pesquisado. Há, então, um processo interativo de pesquisa que, diferentemente dos métodos unicamente quantitativos, "não é um processo acumulativo e linear, cuja freqüência, controlada e mensurada, autoriza o pesquisador, exterior à realidade estudada e dela distanciado, a estabelecer leis e prever fatos" (CHIZZOTTI:1998).

 

Ainda refletindo a respeito dos pressupostos metodológicos da pesquisa antropológica, é preciso ver a própria noção de objeto como construto, e ter em mente que sua construção parte do pesquisador. O objeto é, antes de tudo, um produto do pensamento. Pierre Bourdieu, citando Saussure, diz que "o ponto de vista cria o objeto" (BOURDIEU:1985). A construção do objeto se dá assim a partir do lugar do pesquisador enquanto sujeito histórico e cultural e de seus pressupostos teóricos. Existeentretanto, na Antropologia, justamente por estarmos lidando com objeto-sujeitos,

a tendência de que o objeto tome forma (ou muitas vezes se modifique) em campo, durante o próprio processo de pesquisa (LÉVI-STRAUSS:1997b).

 

Foram realizadas entrevistas individuais e abertas com dez tatuados pertencentes as camadas médias de Porto Alegre, cuja faixa etária variava de 18 à 43 anos. As entrevistas individuais tiveram como cerne um roteiro de tópicos de interesse, e foram realizadas tanto na casa dos entrevistados quanto em lugares públicos - como o Parque da Redenção ou a praça de alimentação de um shopping. A escolha dos entrevistados seguiu o critério de que todos eles deveriam ter mais de uma tatuagem. Não houve uma seleção de gênero, tanto homens quanto mulheres tatuadas foram incluídas na rede de informantes. Dos dez entrevistados, temos que quatro são mulheres (de 18 a 34 anos) e seis são homens (de 21 a 43 anos). Todos eles pertencem a camadas médias da cidade de Porto Alegre e têm segundo grau completo.

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Biografia do Autor

Cornelia Eckert, BIEV/PPGAS/UFRGS

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Publicado

2004-08-01

Como Citar

ECKERT, C.; LEITÃO, D. K. À flor da pele: estudo antropológico sobre a prática da tatuagem em grupos urbanos. ILUMINURAS, Porto Alegre, v. 5, n. 10, 2004. DOI: 10.22456/1984-1191.9186. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/iluminuras/article/view/9186. Acesso em: 28 mar. 2024.