A fuga da escravidão imperial: Benedita Luiza os jogos de fronteira entre novos Estados (Bolívia e Brasil)

Autores

  • Ernesto Cerveira de Sena Universidade Federal de Mato Grosso

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.63538

Palavras-chave:

Bolívia, Brasil, Escravidão, Século XIX, Estados nacionais

Resumo

Em 1850, momento em que uma nova lei antitráfico entrava em vigor no Brasil, Benedita Luiza, uma escrava, empreende fuga do Império, em Mato Grosso, até a Bolívia. Com esse episódio foram suscitados problemas típicos dos novos países modernos que surgiam, como os relacionados à soberania, e até onde iriam a territorialidade nacional, a legitimidade da “propriedade” em contraposição à fuga internacional. O texto mostra que, em meio a essas discussões, os representantes do Império aproveitaram tal momento para ocupar e praticamente sedimentar ocupações nas áreas fronteiriças. A Bolívia, por seu turno, em posição mais frágil na fronteira, se mostrou receptiva aos fugitivos do Brasil, o que poderia trazer possibilidades de barganha em um acordo internacional sobre limites, que seria realizado mais cedo ou mais tarde.  

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Ernesto Cerveira de Sena, Universidade Federal de Mato Grosso

Doutor e mestre pela Universidade de Brasília.Estágio Pós-doutoral na Universidade Federal Fluminense.Professor de História da América na Universidade Federal de Mato Grosso.

Referências

ANDREWS, George Reid. América afro-latina, 1800-2000. São Carlos: EdUSCAR, 2007.

BETHELL, Leslie. A Grã-Bretanha e a América Latina – 1830-1930. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina. Vol. IV. São Paulo: Edusp; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2002.

BLANCHARD, Peter. Under the flag of freedom: slave soldiers and the wars of independence in Spanish – South America. Pittsburg: University of Pittsburg Press, 2008.

CAMARGO, José Alfredo Cavalcanti Jordão de. Bolívia – A criação de um novo país: a ascensão do poder político autóctone das civilizações pré-colombianas a Evo Morales. Brasília: FUNAG, 2006.

CRESPO RODAS, Alberto. Esclavos negros en Bolivia. La Paz: Editorial G.U.M., Bolivia, 1977.

DALENCE, José M. Bosquejo estadístico de Bolivia. Sucre: Imprenta Nacional, 1851.

DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra – nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

FERGUSON, Nial. Império – como os britânicos fizeram o mundo moderno. São Paulo: Planeta, 2016.

FERREIRA, Gabriela Nunes. Conflitos no Rio da Prata. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (Org.). O Brasil Imperial (1808-1831). vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009.

FLORES, Mariana da Cunha Thompson. Crimes de fronteira: a criminalidade na fronteira meridional do Brasil (1845-1889). Porto Alegre: EdiPUCRS, 2014.

FOUCHER, Michel. L’ invention des frontières. Paris: F.E.D.N., 1986.

GARCÍA ENRÍQUEZ, Fernando Aníbal. Historia de la indústria zucarera cruceña. Santa Cruz de la Sierra: Editorial El País, 2013.

GARCÍA JORDÁN, Pilar. Cruz y arado, fusiles y discursos. La construcción de los Orientes en el Perú y Bolivia 1820-1940. Lima: Editora IFEA/IEP, 2001.

GOMES SANTOS, Luís Cláudio Villafañe. O Brasil entre a América e a Europa: o império e o interamericanismo. São Paulo: Unesp, 2003.

_______. O Império e as Repúblicas do Pacífico – as relações do Brasil com Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia (1822-1889). Curitiba: Editora UFPR, 2002.

GRINBERG, Keila. Escravidão, alforria e direito no Brasil oitocentista: reflexões sobre a lei de 1831 e o “princípio da liberdade” na fronteira sul do Império brasi-leiro. In: CARVALHO, José Murilo de. Nação e cidadania no Império: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. p. 267-286.

_______. Fronteiras, escravidão e liberdade. In: GRINBERG, Keila (Org.). As fronteiras da escravidão e da liberdade no sul da América. R io de Janeiro: 7 Letras: Faperj, 2013. p. 7-24.

GUERRA, François-Xavier. Modernidad e independencias. Madrid: Ed. Encuentro, 2009.

HORNE, Gerald. O sul mais distante. Os Estados Unidos, o Brasil e o tráfico de escravos africanos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

INC-BOLIVIA. Principales resultados del Censo Nacional de Población y vivenda 2012. La Paz: Instituto Nacional de Estadística: Estado Plurinacional de Bolivia, 2013.

KLEIN, Hebert S. Bolivia – The evolution of a Multi-Ethnic Society. New York: Oxford Press, 1992.

_______. Historia de Bolivia. La Paz: Librería Editorial G.U.M., 2008.

LIMA, André Nicácio. Mato Grosso e a geopolítica da independência (1821-1823). Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v. 5, n. 2, p. 3-31, jul./dez., 2012.

LISOCKA-JAEGERMANN, Bogumila. Los afrodescendientes en los países andinos. El caso de Bolivia. Revista del CESLA [en linea] 2010, 1 (Sin mes). Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=243316419024. Fecha de consulta: 7 en. 2018. ISSN 1641-4713

LOMBARDI, John V. A independencia y esclavitud en el período de transición de 1750-1850. In: CARRERAS DAMAS, Gérman; LOMBARDI, John V. (Dir). Historia General de América Latina. Paris: Unesco; Madrid: Trotta, 2003. vol. IV.

LORDELO, Monique Cristina de Souza. “Escravos Negros na Fronteira entre Brasil e Bolívia”. In: SHEIDT, Eduardo; MOURA, Ana Maria S.; RODRIGUES, Fernando da S.; MONTEIRO, Cláudio A. (Orgs.). História social das fronteiras. Jundiaí: Paco Editorial, 2012.

MARQUESE, Rafael de Bivar; PARROM, Tâmis Peixoto. Internacional escravista: a política da Segunda Escravidão. Topoi. Rio de Janeiro, v. 12, n. 23, p. 97-117, 2011.

MARQUESE, Rafael de Bivar; TOMICH, D. O Vale do Paraíba escravista e a formação do mercado mundial do café no século XIX. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (Org.). O Brasil Imperial (1831-1870). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. v. 2.

MESA, José de; GISBERT, Teresa; MESA GUISBERT, Carlos. Historia de Bolivia. 7. ed. La Paz: Editorial Gisbert y Cia, 2008.

PAMPLONA, Marco A.; DOYLE, Don H. Nação e nacionalismo no novo mundo: a formação de Estados-nação no século XIX. Rio de Janeiro: Record, 2009.

PEÑA HASBÚN, Paula. La permanente construcción de lo cruceño: un estudio sobre la identidad de Santa Cruz de la Sierra. Santa Cruz: Universidad Autónoma Gabriel René Moreno, 2011.

QUIJADA, Mónica. Homogeneidad y nación – con un estudio de caso: Argentina, siglos XIX y XX. Madrid: CSI, 2000.

REVILLA ORÍAS, Paola. “!Morrir antes de esclavos vivir!” República liber¬taria y esclavitud negra en Bolivia decimonónica. In: ROBINS, Nicholas A.; RARAHONA MICHEL, Rosario. Mitos expuestos: leyendas falsas de Bolivia. Cochabamba: Editorial Kipus, 2014.

ROCA, José Luis. Economía y Sociedad em el Oriente Boliviano (siglos XVI-XX). Santa Cruz de la Sierra: Editorial Oriente S.A., 2001.

RODRIGUES, Bruno Pinheiro. “Homens de ferro, mulheres de pedra”: resistências e readaptações identitárias de africanos escravizados. Do hinterland de Benguela aos vales dos rios Guaporé-Paraguai e América espanhola – fugas, quilombos e conspirações urbanas (1720-1809). Tese (Doutorado) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, 2015.

SANDOVAL RODRIGUEZ, Isaac. História de Bolivia – Desarrollo Histórico- Social. Santa Cruz: Sirena Color, 1999.

_______. História de Bolivia – Desarrollo Histórico-Social. Santa Cruz: Sirena Color, 2003.

SANTOS, Corsino Medeiros. O tráfico de escravos do Brasil para o rio da Prata. Brasília: Ed. do Senado, 2010.

SECKINGER, Ron L. La cuestión de chiquitos: una breve crisis en las relaciones boliviano-brasileñas. Revista de la Universidad Gabriel René Moreno. Santa Cruz de la Sierra, n. 39-40, 1985.

SECRETO, Maria Verônica. Asilo: direito de gentes. Escravos refugiados no Império Espanhol. Revista de História, São Paulo, n. 172, p. 197-219, jan./jun., 2015.

SENA, Ernesto Cerveira de. Entre anarquizadores e pessoas de costumes. Cuiabá: EdUFMT, 2009.

_______. Fugas e reescravizações em região fronteiriça – Bolívia e Brasil nas primeiras décadas dos Estados nacionais. Estudos Ibero-Americanos, Porto Alegre, v. 39, n. 1, p. 82-98, jan./jun. 2013.

SIQUEIRA, Elizabeth Madureira. História de Mato Grosso. Cuiabá: Entrelinhas, 2002.

TOMICH, Dale W. Pelo prisma da escravidão: trabalho, capital e economia mundial. São Paulo: Edusp, 2011.

VOLPATO, Luiza Rios. Cativos do sertão: vida cotidiana e escravidão em Cuiabá em 1850-1888. São Paulo: Marco Zero; Cuiabá: EdUFMT, 1993.

_______. Quilombos em Mato Grosso – resistência negra em área de fronteira. In: REIS, João José; GOMES, Flávio dos Santos. Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

Downloads

Publicado

2018-07-19

Como Citar

de Sena, E. C. (2018). A fuga da escravidão imperial: Benedita Luiza os jogos de fronteira entre novos Estados (Bolívia e Brasil). Anos 90, 25(47), 191–219. https://doi.org/10.22456/1983-201X.63538

Edição

Seção

Artigos