“Uma grande empresa alemã na mais primitiva exploração da Amazônia”: a campanha ambientalista contra a Volkswagen (anos 1970)

Autores

  • Elenita Malta Pereira Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)

DOI:

https://doi.org/10.22456/1983-201X.63235

Palavras-chave:

Amazônia, Ambientalismo brasileiro, Meio ambiente e ditadura militar, História ambiental

Resumo

Nos anos 1970, em meio a uma série de programas de ocupação para o desenvolvimento da Amazônia brasileira, coordenados pelos governos militares, a empresa alemã Volkswagen implantou um projeto para criar 150 mil cabeças de gado na região. Este artigo aborda a crítica expressa por ambientalistas brasileiros – em especial José Lutzenberger e Magda Renner – ao incêndio provocado pela Volkswagen na Amazônia brasileira, em sua fazenda Companhia Vale do Rio Cristalino (CVRC), por meio da análise da correspondência entre eles e Wolfgang Sauer, Diretor-Presidente da empresa no Brasil. Tanto a correspondência como os documentos que embasam este artigo fazem parte do Arquivo Privado de José Lutzenberger (APJL) e do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS). Apelando para uma visão que idealizava a relação da Alemanha com a natureza, os ambientalistas causaram constrangimento e colaboraram para a divulgação, em âmbito internacional, da devastação provocada pela multinacional na Amazônia, com o aval da ditadura militar em vigor no país.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Elenita Malta Pereira, Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)

Doutora em História (UFRGS). Professora de História na UNICENTRO-PR e na Especialização “Perspectivas de Ensino de História do Brasil” da UNICENTRO e Universidade Aberta do Brasil (UAB). Coordenadora do GT História Ambiental da Anpuh-RS.

Referências

ACKER, Antoine. Trabalho forçado na fazenda da Volks: Crônica de um escândalo amazônico na Alemanha. HENDU – Revista Latino americana de Derechos Humanos, São Leopoldo, v. 4, n. 1, p. 57-69, 2013.

______. O maior incêndio do planeta: como a Volkswagen e o regime militar brasileiro acidentalmente ajudaram a transformar a Amazônia em uma arena política global. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 34, n. 68, p. 13-33, 2014.

BARTH, Frederick. Introducción. In: BARTH, F. (Org.). Los grupos étnicos y sus fronteras. México: Fondo de Cultura Económica, 1976.

BECKER, Bertha K. Amazônia: geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.

BUBLITZ, Juliana. Forasteiros na floresta subtropical: uma história ambiental da colonização europeia no Rio Grande do Sul. Tese (Doutorado em História)– Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965. Código Florestal, Brasília, DF, 15 set. 1965. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960-1969/lei-4771-15-setembro-1965-369026-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 1 mar. 2016.

CORREIO DO POVO. Mais que uma injustiça, é um escândalo o que está acontecendo na Amazônia. Porto Alegre: jul. 1976 (APJL).

CRONON, William. Ecological Prophecies. In: MERCHANT, Carolyn. Major problems in American Environmental history: history documents and essays. New York: Health, 1993. p. 55-67.

FICO, Carlos. O golpe de 1964: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014.

FOLHA DE SÃO PAULO. Os principais projetos econômicos da região neste século. Especial Amazônia. São Paulo: 23 mar. 1989, p. 7 (APJL).

FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Lisboa: Vega, 1995.

GALVÃO, Walnice Nogueira; GOTLIB, Nádia Battella (Org.). Prezado senhor, prezada senhora: estudos sobre cartas. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

GOMES, Angela de Castro. Escrita de si, escrita da História: a título de prólogo. In: GOMES, Angela de Castro (Org.). Escrita de si, escrita da História. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

JORNAL DO COMÉRCIO. IBDF investigará possíveis irregularidades da Volkswagen. Porto Alegre: 5 jul. 1976, p. 4 (APJL).

LE TORNEAU, François Michel; BURSZTYN, Marcel. Assentamentos rurais na Amazônia: Contradições entre a política agrária e a política ambiental. Ambiente & Sociedade, Campinas, v. XIII, n. 1, p. 111-130, jan./jun. 2010.

LUTZENBERGER, José. Carta a Wolfgang Sauer. Porto Alegre, 13 set. 1976 (APJL).

______. Carta a José Belart. Porto Alegre, 16 set. 1976 (APJL).

______. Carta a Georg Kleemann. Porto Alegre, 4 ago. 1977 (APJL).

______. O pesadelo atômico. São Paulo: Ched Editorial, 1980.

MARX, Burle. Carta a Wolfgang Sauer. Rio de Janeiro, 4 nov. 1976 (APJL).

MELLO FILHO, Luiz Emygdio de. Carta a Wolfgang Sauer. Rio de Janeiro, 7 dez. 1976 (APJL).

MOLINA, Manuel González. La crisis de la modernidad historiográfica yel surgimiento de la historia ecológica. Culturas y civilizaciones. In: CONGRESO DE LA ASOCIACIÓN DE HISTORIA CONTEMPORÁNEA, 3., 1998, Valladolid. Anais... Valladolid: Secretariado de Publicaciones e Intercambio Científico, Universidad de Valladolid, 1998.

NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014.

O ESTADO DE SÃO PAULO. No Pará, desmatamento pode custar 120 milhões. São Paulo: 26 jun. 1976, p. 15 (Acervo Digital).

O GLOBO. Fazenda da Volks no Pará terá 150 mil bois em 1980. Rio de Janeiro: 09 dez. 1973 (APJL).

OLIVEIRA, Wilson José Ferreira de. Paixão pela natureza: atuação profissional e participação na defesa de causas ambientais no Rio Grande do Sul entre 1970 e início dos anos 2000. Tese (Doutorado em Antropologia Social)–Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.

PÁDUA, José Augusto. Herança romântica e ecologismo contemporâneo. Existe um vínculo histórico? Varia História, Belo Horizonte, n. 33, jan. 2005.

______. As bases teóricas da história ambiental. Estudos Avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, 2010.

PEREIRA, Elenita Malta. Sacralização da natureza: Roessler e as ideias protecionistas no Brasil (1930-60). Cadernos IHU (UNISINOS), São Leopoldo, v. 38, p. 1-48, 2012.

______. Cartas pela natureza: a correspondência entre José Lutzenberger e o almirante José Luiz Belart (1973-1979). HALAC, Guarapuava, v. IV, n. 2, p. 288-310, mar./ago. 2015.

RAMBO, Arthur Blasio. Imigração alemã e ecologia. Estudos leopoldenses, São Leopoldo, v. 30, n. 136, p. 71-90, mar./abr. 1994.

______. Na sombra do carvalho. In: SIDEKUM, Antônio. Às sombras do carvalho. São Leopoldo: Nova Harmonia, 2004.

REIS, Daniel Aarão; ROLLEMBERG, Denise. Censura nos meios de comunicação. Disponível em: http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/campanha/censura-nos-meios-de-comunicacao/. Acesso em: 5 março 2016.

RENNER, Magda. Carta da ADFG à direção da Volkswagen no Brasil. Porto Alegre, 06 ago. 1976 (APJL).

______. Carta da ADFG à Wolfgang Sauer. Porto Alegre, 07 set. 1976 (APJL).

ROCHA, João Cezar de Castro. Resenha de Prezado senhor, prezada senhora: Estudos sobre cartas. Teresa, Revista de Literatura Brasileira, v. 8-9, São Paulo, p. 395-428, 2008.

ROESSLER, Henrique. Bicho estúpido e feroz. Correio do Povo Rural. Porto Alegre, 13 out. 1961 (AHRS).

______. O Rio Grande do Sul e a ecologia: Crônicas escolhidas de um naturalista contemporâneo. Porto Alegre: Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Sema; Fepam, 2005.

SAUER, Wolfgang. Carta à ADFG. São Paulo, 18 ago. 1976 (APJL).

SCHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

URBAN, Teresa. Missão (quase) impossível: Aventuras e desventuras do movimento ambientalista no Brasil. São Paulo: Editora Peirópolis, 2001.

VEJA. A Amazônia devastada. São Paulo: 07 jul. 1976, p. 80 (APJL).

WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 198-215, 1991.

Downloads

Publicado

2017-10-09

Como Citar

Pereira, E. M. (2017). “Uma grande empresa alemã na mais primitiva exploração da Amazônia”: a campanha ambientalista contra a Volkswagen (anos 1970). Anos 90, 24(45), 241–266. https://doi.org/10.22456/1983-201X.63235

Edição

Seção

Artigos