Mulheres não podem falar de ciência? Análise de comentários sexistas em vídeo do canal Nerdologia
DOI:
https://doi.org/10.19132/1808-5245261.42-64Palavras-chave:
Sexismo, Divulgação Científica, YouTube, Comentários, Vulnerabilidade.Resumo
O artigo debruça-se sobre o sexismo na divulgação científica a partir da análise de comentários que receberam maior número de curtidas e respostas – dentre os mais de 15 mil identificados até a data da coleta – em um vídeo do canal Nerdologia sobre sexismo. O exame dos comentários indica predominância de repercussão negativa sobre a narrativa conduzida por uma mulher em ambiente originalmente comandado por apresentadores do sexo masculino. O objetivo do artigo é atribuir sentido às reações dos usuários como parte do ciclo comunicacional da plataforma YouTube, considerando as manifestações de curtidas e respostas como aspectos que corroboram com comentários sexistas que deslegitimam a presença feminina e distorcem argumentos de defesa da equidade de gêneros. A análise sinaliza para os modos como mulheres se encontram em posição de vulnerabilidade ao atuarem na divulgação das ciências, considerando-se os preconceitos, os estereótipos e a desqualificação como componentes de processos socioculturais, econômicos e políticos que fragilizam a atuação das mulheres em instituições que se posicionam como detentoras de privilégios – como a Ciência. Os estereótipos desqualificadores são indícios de modos de configuração do fazer e divulgar ciência, marcado por clivagens, desigualdades e hierarquizações nas relações de gênero, indicando também a necessidade de desenvolvimento de uma consciência crítica de como o gênero influencia as ciências e os processos de comunicação científica.
Downloads
Referências
ADOVASIO, James M.; SOFFER, Olga; PAGE, Jake. O sexo invisível: destapando o verdadeiro papel das mulheres na pré-história. Mem Martins: Europa-América, 2008.
ANDERSON, Ashley A. et al. The ‘Nasty Effect’: Online Incivility and Risk Perceptions of Emerging Technologies. Journal of Computer-Mediated Communication, Pennsylvania, v. 1, n. 19, p. 373-387, 2014.
AMARASEKARA, Inoka e GRANT, Will J. Exploring the YouTube science communication gender gap: A sentiment analysis. Public Understanding of Science, [s.l.] v. 28, n. 1, p. 68-84, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0963662518786654. Acesso em: 20 out. 2019.
BILEFSKY, Dan. Women respond to Nobel Laureate's 'Trouble with girls'. In: The New York Times. Londres, 11 jun. 2015. Disponível em: https://www.nytimes.com/2015/06/12/world/europe/tim-hunt-nobel-laureate-resigns-sexist-women-female-scientists.html. Acesso em: out. 2019.
BUTLER, Judith. Rethinking vulnerability and resistance. In: BUTLER, Judith; GAMBETTI, Zeynep; SABSAY, Leticia. Vulnerability in resistance. Madrid: Duke University Press, p.12-27, 2014.
ELSEVIER. Gender in the global research landscape: Analysis of research performance through a gender lens across 20 years, 12 geographies, and 27 subject areas. Elsevier Research Intelligence, [s.l.], 2017.
COSTA, Verônica Soares da. “Trato, principalmente, da ciência que sou". Aspectos não-científicos em projetos de divulgação da ciência: entretenimento, cultura nerd e o perfil de público do Nerdologia. Entrevista com o pesquisador Atila Iamarino, criador do canal Nerdologia, no YouTube. In: Revista Científica de Comunicação Social do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e-Com, Belo Horizonte, v. 10, n. 2, p. 72-83, 2017.
KELLER, Evelyn Fox. Reflections on Gender and Science. New Haven: Yale University Press, 1985.
KENDALL, Lori. Nerd nation: Images of nerds in US popular culture. International Journal of Cultural Studies, Londres, v. 2, n. 2, p. 206-283, 1999.
KENDALL, Lori. "Oh no! I'm a nerd!": Hegemonic masculinity on an online forum. Gender & Society, Londres, v. 14, n. 2, p. 256-274, 2000.
KENDALL, Lori. White and Nerdy: Computers, Race, and the Nerd Stereotype. The Journal of Popular Culture, New Jersey, v. 44, n. 3, p. 256-274, 2011.
KNOW YOUR MEME. Significado de 'attention whore'. Disponível em https://knowyourmeme.com/memes/attention-whore. Acesso em: out. 2019.
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. 7ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.
MARTEY, Rosa Mikeal et al. The strategic female: gender-switching and player behavior in online games. Information, Communication & Society, [s.l.], v. 17, n. 3, p. 286–300, 2014.
MEGARRY, Jessica. Online incivility or sexual harassment? Conceptualising women's experiences in the digital age. Women's Studies International Forum, [s.l.], v. 47, n. 1, p. 46–55, 2014.
MIEKO, Paloma. Nerdologia Sexismo. 2016. (7min 46s). Disponível em: https://youtu.be/cpnJ4psOoZc. Acesso em: 18 jan. 2019.
OLINTO, Gilda. A inclusão das mulheres nas carreiras de ciência e tecnologia no Brasil. Inclusão Social, Brasília, v. 5, n. 1, p. 68-77, 2011.
REZNIK, Gabriela. et al. Como adolescentes apreendem a ciência e a profissão de cientista? Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 829-855, 2017.
SCHIEBINGER, Londa. O feminismo mudou a ciência? Bauru: EDUSC, 2001.
SOCIALBLADE. Top 250 YouTubers Tech Channels. Disponível em: https://socialblade.com/youtube/top/category/tech/mostsubscribed. Acesso em: 20 out. 2019.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Verônica Soares da Costa, Carlos Alberto de Carvalho
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY 4.0), que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista, como publicar em repositório institucional, com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
Os artigos são de acesso aberto e uso gratuito. De acordo com a licença, deve-se dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Não é permitido aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.