Na distância da vítima: moralidade sobrevivente e a produção televisiva do indivíduo empreendedor de si
DOI:
https://doi.org/10.19132/1807-8583202152.104566Palavras-chave:
Moralidade, Sofrimento, Sobrevivência, Televisão, VítimaResumo
O artigo analisa, em reality shows de sobrevivência, indícios de uma transformação cultural e moral do que se entende e se legitima como vítima, sofredor e como sobrevivência na contemporaneidade. A partir da observação do programa Largados e Pelados, do Discovery Channel, argumenta-se que essas produções televisivas investem narrativa e esteticamente tanto na espetacularização do sofrimento, quanto na produção cosmética do sobrevivente. Desse modo, a figura do sobrevivente passa a fazer parte de um tipo de pedagogia e de racionalidade orientados por uma lógica neoliberal de produção de indivíduos empreendedores de si. Esses reality shows atuam, portanto, como dispositivos produtores de modos de subjetivação associados ao heroísmo prodigioso e moralmente legítimo do sobrevivente, cuja imagem em negativo é a da vítima incapaz de superar os infortúnios com resiliência.
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