Heteromação e microtrabalho no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.1590/15174522-111017Palavras-chave:
Heteromação, plataformização do trabalho, microtrabalho, trabalho por peça.Resumo
No paradigma da heteromação do trabalho, as mudanças operadas pela informatização da economia fazem com que uma massa expressiva de trabalhadores passe a desempenhar atividades essenciais, mas marginais. Objetiva-se, neste estudo, analisar as diferentes formas de microtrabalho heteromatizado remunerado presentes em território nacional, de maneira a lançar luzes compreensivas sobre as condições e especificidades do contexto laboral brasileiro. Para tanto, primeiro foi realizado um levantamento e descrição dos crowdworks de microtarefas em operação no Brasil. Depois, a partir do método netnográfico nos inserimos em 22 grupos de Facebook e de Whatsapp voltados a esse mercado (o que totaliza uma base de cerca de 16 mil perfis registrados) e os acompanhamos durante sete meses. Conclui-se que, no Brasil, há uma importante reserva de mão de obra de microtrabalho e que não estamos diante de um cenário isolado, monolítico e homogêneo. O microtrabalho está imbricado em novas formas de extração de valor da plataformização do trabalho e deve ser compreendido em meio a cadeias de produção mais amplas, globais, onde as condições de trabalho são polissêmicas, assimétricas e regidas mormente por países do Norte global.
Downloads
Referências
ACEMOGLU, Daron; RESTREPO, Pascual. The race between man and machine: Implications of technology for growth, factor shares, and employment. American Economic Review, v. 108, n. 6, p. 1488-1542, 2018. https://doi.org/10.1257/aer.20160696
ALBERGOTTI, Reed; KURANDA, Sarah. Instagram’s growing bot problem. The Information, 18 jul. 2018. Disponível em: https://www.theinformation.com/articles/instagrams-growing-bot-problem
AMAZON MECHANICAL TURK. Overview of mechanical turk. Publicado em 2018. Disponível em: https://www.mturk.com/help
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.
AUTOR, David H. Why are there still so many jobs? The history and future of workplace automation. Journal of Economic Perspectives, v. 29, n. 3, p. 3-30, 2015. https://doi.org/10.1257/jep.29.3.3
AUTOR, David H.; DORN, David. The growth of low-skill service jobs and the polarization of the US labor market. American Economic Review, v. 103, n. 5, p. 1553-1597, 2013. https://doi.org/10.1257/aer.103.5.1553
BERG, Janine; FURRER, Marianne; HARMON, Ellie; RANI, Uma; SILBERMAN Six. Digital labour platforms and the future of work: Towards decent work in the on-line world. Geneva: International Labour Office, 2018.
BESSEN, James E. Automation and jobs: When technology boosts employment. Boston University School of Law, Law and Economics Research Paper n. 07-19. Boston: Boston University School of Law, 2017. pp. 1-50. Disponível em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2935003
CASILLI, Antonio. En attendant les robots : enquête sur le travail du clic. Paris: Seuil, 2019.
CASILLI, Antonio; TUBARO, Paola; LE LUDEC, Clément; COVILLE, Marion; BESENVAL, Maxime; MOUHTARE, Touhfat; WAHAL, Elinor. Le Micro-travail en France. Derrière l’automatisation de nouvelles précarités au travail ? Rapport Final Projet DiPLab. Paris: Institut de Recherches Economiques et Sociales (IRES), 2019.
CHEN, Brian; METZ, Cade. Google’s Duplex uses A.I. to mimic humans (sometimes). The New York Times, 22 maio 2019. Disponível em: https://www.nytimes.com/2019/05/22/technology/personaltech/ai-google-duplex.html
CHUI, Michael; MANYIKA, James; MIREMADI, Mehdi. Four fundamentals of workplace automation. McKinsey Digital, 1 nov. 2015. Disponível em: https://www.mckinsey.com/business-functions/mckinsey-digital/our-insights/four-fundamentals-of-workplace-automation#
CLARCK, Doug B. The bot bubble: How click farms have inflated social media currency. The New Republic, 21 abr. 2015. Disponível em: https://newrepublic.com/article/121551/bot-bubble-click-farms-have-inflated-social-media-currency
CONFESSORE, Nicholas; DANCE, Gabriel J. X.; HARRIS, Richard; HANSEN, Mark. The Follower Factory. Everyone wants to be popular online. Some even pay for it. Inside social media’s black market. The New York Times, 27 jan. 2018. Disponível em:https://www.nytimes.com/interactive/2018/01/27/technology/social-media-bots.html
DEJOURS, Christophe. Trabalho vivo: trabalho e emancipação. (Tradução de Frank Sudant). Brasília: Paralelo 15, 2012.
DEPILLIS, Lydia. Click farms are the new sweatshops. The Washington Post, 6 jan. 2014. Disponível em: https://www.washingtonpost.com/news/wonk/wp/2014/01/06/click-farms-are-the-new-sweatshops/
EKBIA, Hamid R.; NARDI, Bonnie. Heteromation, and other stories of computing and capitalism. Cambridge: MIT Press, 2017.
FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel; AMARAL, Adriana. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2011.
FRANZKE, A.S.; BECHMANN, A.; ZIMMER, M.; CHARLES, E. Internet Research: Ethical Guidelines 3.0. Association of Internet Researchers. Disponível em: https://aoir.org/reports/ethics3.pdf
FREY, Carl B.; OSBORNE, Michael A. The future of employment: How susceptible are jobs to computerization? Technological Forecasting and Social Change, v. 114, n. 1, p. 254-280, 2017. https://doi.org/10.1016/j.techfore.2016.08.019
GERLITZ, Carolin; HELMOND, Anne. The like economy: Social buttons and the data-intensive web. New Media & Society, v. 15, n. 8, p. 1348–1365, 2013. https://doi.org/10.1177/1461444812472322
GRAHAM, Mark; HJORTH, Isis; LEHDONVIRTA, Vili. Digital labour and development: impacts of global digital labour platforms and the gig economy on worker livelihoods. Transfer – European Review of Labour and Research, v. 23, n. 2, p. 135-162, 2017. https://doi.org/10.1177%2F1024258916687250
GRAY, Mary L.; SURI, Siddharth. Ghost work: How to stop Silicon Valley from building a new global underclass. Boston: Houghton Mifflin Harcourt, 2019.
GROHMANN, Rafael. Plataformização do trabalho: entre dataficação, financeirização e racionalidade neoliberal. Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, v. 22, n. 1, p. 106-122, 2020.
GROHMANN, R.; ARAÚJO, W. F. Beyond Mechanical Turk: The Work of Brazilians on Global AI Platforms. In: VERDEGEM, P. AI for Everyone? Critical Perspectives. pp. 247-266. Critical Digital and Social Media Studies. London: University of Westminster Press, [No prelo], 2021.
GROHMANN, Rafael; QIU, Jack. Contextualizando o trabalho em plataformas. Contracampo: Brazilian Journal of Communication, v. 39, n. 1, p. 107-122, 2020. https://doi.org/10.22409/contracampo.v39i1.42260
GROHAMANN, R.; SOARES, A.; MATOS, E.; AQUINO, M.C.; AMARAL, A.; GOVARI, C. O que são as plataformas de fazendas de cliques e por que elas importam. Nexo Políticas Públicas. 06 de maio de 2021. Disponível em: https://pp.nexojornal.com.br/ponto-de-vista/2021/O-que-s%C3%A3o-plataformas-de-fazendas-de-clique-e-por-que-elas-importam
HUWS, Ursula. Labor in the global digital economy: The cybertariat comes of age. Nova York: Monthly Review Press, 2014.
IPEIROTIS, P.G. Demographics of Mechanical Turk. Center for digital economy research working papers. NYU. Faculty Digital Archive. Disponível em: http://hdl.handle.net/2451/29585
IRANI, Lilly. The cultural work of microwork. New Media & Society, v. 17, n. 5, p. 720-739, 2015. https://doi.org/10.1177/1461444813511926
KALIL, Renan B. Capitalismo de plataforma e Direito do Trabalho: crowdwork e trabalho sob demanda por meio de aplicativos, 366f. Tese (Doutorado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito, Direito do Trabalho e da Seguridade Social, Universidade de São Paulo, 2019.
KÄSSI, Otto; LEHDONVIRTA, Vili; STEPHANY, Fabian. How many online workers are there in the world? A data-driven assessment. Social Science Research Network, 23 mar. 2021. http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3810843
LHUILIER, Dominique. O agir em psicossociologia do trabalho. Psicologia em Revista, v. 23, n. 1, p. 295-311, 2017. https://doi.org/10.5752/P.1678-9563.2017v23n1p295-311
LINDQUIST, Johan. Illicit Economies of the Internet: Click Farming in Indonesia and Beyond. Made in China, 12 jan. 2019, To the Soil – Window on Asia. Disponível em: https://madeinchinajournal.com/2019/01/12/illicit-economies-of-the-internet-click-farming-in-indonesia-and-beyond/
MORESCHI, Bruno; PEREIRA, Gabriel; COZMAN, Fabio G. The Brazilian workers in Amazon Mechanical Turk: Dreams and realities of ghost workers. Contracampo: Brazilian Journal of Communication, v. 39, n. 1, p. 44-64, 2020. https://doi.org/10.22409/contracampo.v39i1.38252
NOBLE, Safiya U. Algorithms of oppression: How search engines reinforce racism. Nova York: NYU Press, 2018.
OXFORD INSIGHTS. AI Readiness Index 2020. Oxford Insights, 2020. Disponível em: https://www.oxfordinsights.com/government-ai-readiness-index-2020
PASQUINELLI, M.; JOLER, V. The Nooscope manifested: AI as instrument of knowledge extractivism. AI & Society. p. 01-18. 21 de novembro de 2020. https://doi.org/10.1007/s00146-020-01097-6
RIFKIN, Jeremy. La nouvelle société du coût marginal zéro : L’internet des objets, l’émergence des communaux collaboratifs et l’éclipse du capitalisme. Paris: Editions Les Liens qui Libèrent, 2014.
RODRIK, Dani. A globalização foi longe demais? São Paulo: Editora Unesp, 2011.
SILBERMAN, Six M. Human-centered computing and the future of work: Lessons from Mechanical Turk and Turkopticon. Tese (Doutorado em Filosofia) – University of California, Irvine, 2015. Disponível em: https://escholarship.org/uc/item/1s32t9n3
TUBARO, Paola; CASILLI, Antonio. Micro-work, artificial intelligence and the automotive industry. Journal of Industrial and Business Economics, n. 46, p. 333-345, 2019. https://doi.org/10.1007/s40812-019-00121-1
TUBARO, Paola; CASILLI, Antonio; COVILLE, Marion. The trainer, the verifier, the imitator: Three ways in which human platform workers support artificial intelligence. Big Data & Society. p. 1-12, 24 de abril de 2020. https://doi.org/10.1177/2053951720919776
TUBARO, Paola; LUDEC, Clément; CASILLI, Antonio A. Counting ‘micro-workers’: societal and methodological challenges around new forms of labour. Work organisation, labour & globalization, v. 14, n.1, p. 67-82, 2020. https://doi.org/10.13169/workorgalaboglob.14.1.0067
VIANA BRAZ, Matheus. Paradoxos do trabalho: as faces da insegurança, da performance e da competição. Curitiba: Appris, 2019.
VIANA BRAZ, Matheus. Trabalho, sociologia clínica e ação: alternativas à individualização do sofrimento. Porto Alegre: Editora Fi, 2021.
WOOD, Alex; LEHDONVIRTA, Vili; GRAHAM, Mark. Workers of the Internet unite? Online freelancer organisation among remote gig economy workers in six Asian and African countries. New Technology, Work and Employment, v. 33, n. 2, p. 95-112, 2018. https://doi.org/10.1111/ntwe.12112
WOODCOCK, Jamie; GRAHAM, Mark. The gig economy: A critical introduction. Cambridge: Polity, 2019.
WOODCOCK, Jamie. The fight against platform capitalism: An inquiry into the global struggles of the gig economy. Londres: University of Westminster Press, 2021. https://doi.org/10.16997/book51.d
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.